Rússia apresenta contraproposta de resolução para conflito na Síria

Vice-chanceler russo Gennady Gatilov(esq.), secretário de Estado adjunto Wendy Sherman (centro), vice-chanceler russo Mikhail Bogdanov (dir.) Foto: Reuters

Vice-chanceler russo Gennady Gatilov(esq.), secretário de Estado adjunto Wendy Sherman (centro), vice-chanceler russo Mikhail Bogdanov (dir.) Foto: Reuters

“O projeto [apresentado] é de pura natureza política e tem como objetivo a criação da base legal para futuras sanções contra o governo sírio, caso ele não consiga cumprir as exigências", comentou Gennadi Gatilov, vice-ministro das Relações Exteriores russo.

 A Rússia se posicionou contra projeto de grupo de países que inclui Austrália, Jordânia e Luxemburgo, apoiado pelos Estados Unidos e por outros países ocidentais, de resolução no Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria. Apesar de se referir à ajuda humanitária à população civil da Síria, o projeto prevê sanções para qualquer força que tente resistir às medidas incluídas na sua agenda, o que desagrada os russos. 

“O projeto é de pura natureza política e tem como objetivo a criação da base legal para futuras sanções contra o governo sírio caso ele não consiga cumprir as exigências", comentou Gennadi Gatilov, vice-ministro das Relações Exteriores russo. A opinião das autoridades russas é compartilhada pelo governo da China, que também se manifestará contra a iniciativa.

Crise síria será resolvida sem os sírios

 

Em entrevista coletiva com os presidentes americano, Barak Obama, e francês, François Hollande, o chefe dos Estados Unidos criticou a posição da Rússia. Segundo ele, ela bloqueia o início do processo de transferência da ajuda humanitária à população síria.

"Temos uma impressão de que o assunto de ajuda humanitária, assim como o das armas químicas, esteja sendo utilizado como um motivo para interferir nos processos políticos do Estado sírio, criticar o regime politico do país e criar um pretexto para voltar ao cenário anterior de mudança do governo através da interferência das forças armadas. Portanto, na nossa opinião, a iniciativa é contraprodutiva", disse, por sua vez, o ministro das Relações Exteriores russo, Serguêi Lavrov, em entrevista coletiva realizada em Moscou na última terça-feira (11).

Por seu lado, de acordo com as prioridades da sua política externa, a Rússia apresentou o seu próprio projeto de resolução para o conflito.

No momento, o assunto possui grande importância para a comunidade internacional. Segundo as informações fornecidas por James Clapper, diretor da agência nacional de inteligência americana, o território sírio obriga entre 20 e 26 mil islamistas radicais armados atualmente. 

Situação se repete

A atual tensão entre os líderes mundiais possui certa semelhança com aquela que foi criada na véspera da reunião do G8 realizada no território irlandês no verão do ano passado. Uma grande campanha nos veículos de comunicação internacionais em conjunto com os canais diplomáticos teve como objetivo convencer as autoridades russas a aceitar o método de força escolhido pelos líderes mundiais para derrubar o atual presidente sírio Bashar Assad.

Mas apesar de todos os esforços e pressão, o presidente russo Vladimir Pútin se recusou a ceder, e, ao contrário de todas as previsões, a cúpula terminou com a aprovação do projeto de resolução do conflito sírio baseado no plano de resistência aos islamistas radicais que continuam invadindo o país. 

No entanto, a situação atual é diferente. No início do mês, John Kerry, secretário de Estado americano, reconheceu o fortalecimento da posição do presidente sírio, porém afirmou que "considera o resultado atual do confronto entre Assad e organizações islamistas apenas um empate". Sua opinião é compartilhada por Clapper, que na reunião do Comitê de Forças Armadas do Senado americano declarou que nenhuma das partes do conflito armado na Síria possui as capacidades militares suficientes para obter uma vitória definitiva.

Sem acordo

Situação parecida está sendo presenciada pelos participantes da Genebra-2, a segunda etapa das negociações referente à resolução dos assuntos internos da Síria. A primeira etapa foi considerada um sucesso pelo simples fato das partes finalmente conseguirem iniciar um diálogo. No entanto, a segunda rodada não permite esperar bons resultados mesmo de caráter simbólico devido à indisposição de Assad de encontrar um meio termo com a pequena parte da oposição que compõe a delegação presente em Genebra-2.

Ao mesmo tempo, o outro lado da oposição, de fato foi criado pelos Estados "aliados da Síria", não é reconhecido pelos grupos islamistas moderados e radicais presentes no território do país, além de encontrar no adiamento das negociações o único meio da sua sobrevivência, o que dificulta ainda mais o diálogo.

Existe uma possibilidade de os Estados Unidos tentarem pressionar a Rússia novamente, pois, segundo declaração de Obama, o governo americano não descarta a interferência das forças armadas como o método de resolução do conflito.

As autoridades americanas exigem apoio da Rússia na aprovação da resolução humanitária da situação, que seria contra os princípios básicos da política externa do país e que não favorece mudanças dos regimes políticos usando a influência das Nações Unidas. Isso também desvalorizaria a reputação da Rússia nos países árabes conquistada ao longo da resolução do assunto sírio e nos anos da Primavera Árabe, reputação de um Estado que oferece alternativas pacíficas e que está começando a dar resultados, como a melhoria inesperada das relações com o Egito. 

Portanto, não podemos esperar decisão de Pútin contrária a todos os seus princípios e conquistas anteriores. As votações de ambas as resoluções estão previstas para esta semana.

 

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