A fim de evitar novo conflito no Oriente Médio, potências se esforçam para chegar a consenso sobre questão nuclear iraniana Foto: Reuters
Depois da conferência em Genebra no último domingo (24), que envolveu o Irã e seis potências mundiais em torno de um acordo nuclear, o lado iraniano concordou em renunciar à produção de urânio enriquecido acima de 5% e comprometeu-se a se desfazer das já acumuladas reservas de urânio enriquecidos em até 20%. Também ficou acertada a fiscalização das instalações nucleares de Fordow e Natanz pela AIEA.
Em contrapartida, as potências mundiais atenuaram as sanções contra o Teerã, reestabelecendo as relações comerciais restringidas com os Estados Unidos nas áreas de petróleo, gás, petroquímicos e automobilismo, bem como operações comerciais com ouro e metais preciosos.
“Esse acordo significa que nós concordamos com a necessidade de reconhecer o direito do Irã de uso pacífico de energia atômica, inclusive o direito de enriquecimento, em se entendendo que as questões relacionadas ao programa nuclear iraniano que ainda se mantém, e mesmo o programa serão colocados sob a mais estrita fiscalização da AIEA”, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguêi Lavrov, após a reunião.
Os opositores do acordo lamentaram, contudo, que os termos aprovados permitem ao Irã preservar o potencial de produzir uma arma nuclear. “Insisto que o acordo não prevê destruição de nenhuma centrífuga”, disse o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Especialistas também destacam que complexo nuclear de tal envergadura – cerca de 17 mil centrífugas para enriquecimento – só seria necessário se no país funcionassem de 12 a 15 usinas elétricas atômicas. Por enquanto, o Irã tem só uma em Bushehr, cujo abastecimento de combustível é feito pela Rússia.
Além disso, o chanceler iraniano, Mohammed Javad Zarif, informou nesta quarta-feira (27) que o país vai continuar a construção de um reator de água pesada em Arak, apesar do acordo de Genebra que previa a suspensão dos trabalhos.
As contradições entre os itens acordados só não causaram mais surpresa do que a súbita mudança de posição dos Estados Unidos em relação ao programa nuclear iraniano. O que mudou em 10 anos de negociações infrutíferas com o Irã, exceto o aumento do número de centrífugas? E por que, depois de mais de 30 anos de hostilidade, Washington decidiu assumir uma postura misericordiosa?
Claro que, em primeiro lugar, o inflexível ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad foi substituído pelo moderado Hassan Rohani. Mas, no Irã, o presidente é basicamente o chefe do governo. Todas as questões fundamentais são decididas pelo aiatolá Khamenei – líder espiritual e chefe superior do país. Por isso, pode-se dizer que, em essência, nada mudou.
O Irã, por outro lado, não pôde ignorar a posição de Israel, que sugeriu resolver o problema pela força, nem as declarações do líder americano Barack Obama sobre a possibilidade de uma terceira grande guerra no Oriente Médio, que seria prejudicial para todos os lados. Talvez seja justamente essa a razão para explicar o porquê os Estados Unidos alteraram o rumo das conversas. Basta analisar o histórico do país.
No início dos anos 1970, os EUA sofreram a mais pesada derrota no Vietnã. Na sequência, a crise atingiu a política interna e o então presidente Richard Nixon, sob ameaça de impeachment, deixou a Casa Branca. Sem guardar ressentimentos, os americanos logo passaram a investir nas relações com a China comunista e assim conseguiram também evitar uma aproximação da União Soviética com o Sudeste Asiático.
Mais recentemente, os fracassos estiveram concentrados no Iraque e no Afeganistão. O apoio à Primavera Árabe em locais onde prevalecem conceitos distantes do ideais democráticos ocidentais também arrastam os EUA para novos conflitos regionais. De um modo geral, trata-se de uma necessidade de concentrar forças contra o novo líder global, a China.
Além disso, tendo em vista as eleições presidenciais de 2016, a demanda dos democratas contra o atual governo será rigorosa. Tudo isso aparentemente estimula Barack Obama a amenizar relações com o Irã, que está pronto para lutar pela liderança da região com os monarcas petroleiros do Golfo.
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