Ao assumir acordos com líderes ucranianos, Pútin tem em mente os interesses nacionais Foto: Reuters
A declaração do presidente russo Vladímir Pútin de que o país irá comprar US$ 15 bilhões de Eurobonds ucranianos já teve um impacto positivo sobre o custo do swaps de crédito, uma espécie de seguro contra o default. “Com essas decisões, Pútin salvou a economia da Ucrânia, pelo menos, por algum tempo”, diz o economista e diretor-geral do Fundo Nacional de Segurança Energética, Konstantin Símonov.
“A Ucrânia estava à beira do abismo, mas nós adiamos com segurança o risco de inadimplência por alguns meses. Não só por causa dos US$ 15 bilhões, mas também devido ao desconto no preço do gás, o que constitui um grande bônus”, acrescenta Símonov. “O valor do desconto no gás é de US$ 135 por cada mil metros cúbicos. Pelo atual nível de consumo, que ronda os 33 bilhões de metros cúbicos [em 2012], a Ucrânia economiza, assim, US$ 3 bilhões ao ano.”
Diversos especialistas russos se surpreenderam inicialmente com a decisão do governo em investir em Eurobonds da Ucrânia. Porém, mais tarde soube-se que os recursos serão transformados em títulos e colocados na bolsa de valores irlandesa, o que indica um aumento considerável de credibilidade.
De acordo com o especialista do Centro de Previsão Econômica do Gazprombank, Maksim Petronevitch, este pode ser um investimento bastante rentável para a Rússia, e os rendimentos de títulos podem chegar a 5-8% ao ano em moeda estrangeira.
Enquanto isso, permanecem as dúvidas quanto ao desconto no gás, pois não foram citadas as quantidades específicas a serem adquiridas pela nova tarifa. Segundo o contrato de 2009, Kiev deveria comprar 40 bilhões de metros cúbicos de gás, mas atualmente o país compra, no máximo, 30 bilhões de metros cúbicos.
“Se a Ucrânia precisar de mais gás russo, então acabará não ganhando nada com o desconto, ou seja, vai pagar o mesmo dinheiro, e talvez ainda mais do que agora”, aponta o especialista sênior do Centro Ucraniano Razumkov, Vladímir Omeltchenko. “Além disso, o preço baixo do gás russo cobre os projetos da Ucrânia relacionados com a reversão de gás da Europa e o desenvolvimento do gás de xisto no país.”
Futuro vantajoso
O economista russo Konstantin Símonov está certo de que, ao assumir tal postura, Pútin tem em mente os interesses nacionais. “A Rússia está deliberadamente deixando de lado seus benefícios para permitir que o presidente ucraniano Víktor Ianukovitch, salve a situação. Mas acho que depois vão vir a de cima duas questões principais”, diz.
Em primeiro lugar, Símonov acredita que o lado russo teria combinado que a Gazprom poderá participar da venda de gás diretamente aos usuários finais na Ucrânia. “Nesse caso, a margem da venda será maior, e a Gazprom poderá ir buscar o lucro perdido com o desconto feito”, explica Símonov.
Atualmente, a Naftogaz e as empresas privadas de Dmitri Firtash e Serguêi Kurtchenko se ocupam da venda ao consumidor final. O economista também não descarta a possibilidade de a Gazprom vir a formar uma joint venture com uma dessas empresas privadas para realizar a venda do gás russo ao consumidor final na Ucrânia.
Quanto à segunda vantagem, Símonov sugere que a Rússia poderia obter o sistema de transporte de gás ucraniano (STG). “Ianukovitch pode ter se comprometido com a venda do STG à Rússia”, diz. Se for assinado um acordo com Ianukovitch sobre a transferência do STG ucraniano para a Rússia, até mesmo o próximo presidente terá dificuldade em voltar atrás.
Com informações do jornal Vzgliad
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