A luta de um homem comum

Apesar da aura de mártir, Mandela sempre pediu para não fazerem dele um semideus, ele queria ser lembrado como um homem comum Foto: Reuters

Apesar da aura de mártir, Mandela sempre pediu para não fazerem dele um semideus, ele queria ser lembrado como um homem comum Foto: Reuters

Reverenciado por figuras russas como Gorbatchov e Pútin, Nelson Mandela deixará “exemplo de batalha pela liberdade”.

O primeiro presidente negro da África do Sul, Nelson Mandela, morreu em Pretória nesta quinta-feira (5) aos 95 anos de vida. Um dos primeiros a reagir à sua morte foi outro personagem político e reformador do final dos anos 1980, Mikhail Gorbatchov. “É sempre uma pena ver partir pessoas com quem vivemos e que foram para nós um exemplo de batalha pela liberdade”, disse Gorbatchov.

O presidente Vladímir Pútin também expressou suas condolências ao povo sul-africano e disse que o nome de Mandela “é inseparável de toda uma era da história moderna africana que comemora a vitória sobre o apartheid”. O líder russo ressaltou que Mandela, apesar das duras provas enfrentadas, permaneceu fiel aos ideais de humanidade e justiça.

Usando as palavras do representante do presidente para a cooperação com os países africanos, Mikhail Marguelov, Mandela foi o último dos políticos vivos a “atingir os seus objetivos por meio de um protesto não violento de um homem livre, e pela pacífica coragem de um prisioneiro político”.

Para Mandela, o ideal de estadista foi o lutador pela independência da Índia, Mahatma Gandhi. Mas, ao contrário de Gandhi, ele foi rotulado como “terrorista” pelos EUA, por se associar ao braço armado do ANC "Lança da Nação", responsável por inúmeros atos de sabotagem e intimidação. O resultado de tais ações foram 27 anos na prisão, apesar da sentença de prisão perpétua. Foi somente a partir de 2008 que Mandela recebeu o direito de entrar nos EUA sem uma autorização especial do Departamento de Estado.

Mandela e o comunismo

Na URSS, Mandela era uma figura política bem popular – tanto que o líder sul-africano foi estampou um selo postal na ocasião do seu 70º aniversário. “Os comunistas foram por muitas décadas o único grupo político pronto para dialogar com os africanos e lutar por direitos políticos. Por isso é que nos dias de hoje, para muitos africanos, o conceito de liberdade e comunismo são sinônimos”, disse ele certa vez. “Essa crença é apoiada pela legislação, identificado como comunistas todos os partidários de um governo democrático e da libertação do povo negro. Mas isso não significa que nós sejamos comunistas.”

Foto: AP

Quando Mandela foi libertado da prisão aos 73 anos, a nova geração conheceu um homem diferente: um homem maduro, sábio, humanista e sorridente. “Eu lutei tanto contra a supremacia dos brancos, como contra a supremacia dos negros. Honrei o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todos os cidadãos vivem em harmonia e têm oportunidades iguais”, afirmou Mandela, após ser libertado.

Foi justamente essa abordagem que permitiu salvar a África do Sul de uma sangrenta guerra civil que estava prestes a eclodir no início dos anos 1990. Aliás, em 1993, Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz, ao lado do presidente sul-africano Willem de Klerk.

Enfim, presidente

Como presidente entre 1994 e 1999, o ex-rebelde fez grandes esforços para ensinar brancos e negros a coexistirem pacificamente no novo Estado, e até convidou para jantar em sua casa o juiz que o havia enviado para a prisão.

Todas as tentativas de jogar com a discórdia racial ou nacional eram imediatamente cortadas de raiz por Mandela. Ele não poupou nem mesmo a sua esposa Winnie, que, certa vez, disse em frente de uma grande multidão que era preciso acabar com os brancos. Ao saber de tal declaração, Mandela se divorciou imediatamente da esposa.

Apesar da aura de mártir, Mandela sempre pediu para não fazerem dele um semideus, ele queria ser lembrado como um homem comum.

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