Irã promete adeus ao "eixo do mal"

 “Os direitos do Irã e seus interesses nacionais, incluindo o direito de usar a energia atômica para fins pacíficos no âmbito dos acordos internacionais, bem como o enriquecimento de urânio no país, representam uma ‘linha vermelha’ para nós”, disse o presidente Rohani Foto: AP

“Os direitos do Irã e seus interesses nacionais, incluindo o direito de usar a energia atômica para fins pacíficos no âmbito dos acordos internacionais, bem como o enriquecimento de urânio no país, representam uma ‘linha vermelha’ para nós”, disse o presidente Rohani Foto: AP

Aparente progresso nas negociações entre Teerã e grupo 5+1 pode conferir novo status ao país. Por outro lado, países do Oriente Médio receiam aproximação do Irã com potências ocidentais, como os EUA, tendo em vista suas próprias ambições regionais.

As conversações sobre a questão nuclear entre Irã e as grandes potências do grupo 5+1 (China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, mais a Alemanha) entraram em um novo patamar qualitativo. O ritmo das negociações aumentou drasticamente, e as delegações regressarão a Genebra já no dia 20 de novembro para retornar os trabalhos.

O mais importante a assinalar aqui é que se deu início ao trabalho conjunto de elaboração de um documento estrutural, apesar de as perspectivas de assinatura do mesmo continuarem, tal como antes, vagas. O acordo, cujos trabalhos começaram em Genebra, pode se tornar o primeiro passo para superar o isolamento internacional que tem sido imposto ao Irã e que poderia terminar em uma agressão externa ao país.

Como disse o presidente iraniano Hassan Rouhani, “o mundo deve saber que os problemas da região não podem ser resolvidos sem o Irã. Vamos continuar seguindo nessa direção (...) porque a comunidade internacional poderá se certificar de que o país tem uma comunicação lógica com o mundo”.

De fato, ao assinar o acordo com o grupo 5+1, o Irã sairá do “eixo do mal”, onde foi colocado pela administração do ex-presidente norte-americano George W. Bush. Além disso, também foi discutido em Genebra o descongelamento gradual dos ativos estrangeiros do Irã, no valor de cerca de 50 bilhões de dólares, como medida para reduzir as tensões. Em troca, o Irã suspenderia o enriquecimento de urânio a 20%.

A discussão em torno do nível de enriquecimento de urânio tem um caráter fundamental para Teerã. “Os direitos do Irã e seus interesses nacionais, incluindo o direito de usar a energia atômica para fins pacíficos no âmbito dos acordos internacionais, bem como o enriquecimento de urânio no país, representam uma ‘linha vermelha’ para nós”, disse o presidente Rohani.

Torcida contra

O aparente progresso alcançado nas negociações, às quais juntaram-se os ministros das Relações Exteriores das potências envolvidas, foi interrompido pelo governo francês, que trouxe à tona a existência do reator de Arak, capaz de, segundo alguns especialistas, produzir plutônio para armamento. Ao final do encontro, o grupo 5+1 acabou chegando a um compromisso com a França que, no entanto, não foi aprovado por Teerã.

Ainda assim, na última segunda-feira (11), o governo iraniano assinou um acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre a regulação das divergências existentes. O chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Ali Akbar Salehi, disse que “no âmbito do acordo conseguido, a AIEA poderá inspecionar as instalações nucleares do Irã e inspecionar o reator de água pesada em Arak, assim como a mina de urânio em Gachina”.

Diante da posição de Paris, o presidente do Instituto para o Oriente Próximo, Evguêni Satanóvski, sugere que “a França está cumprindo o seu dever de aliado perante a Arábia Saudita”.

O diretor do Centro de Estudos Sociopolíticos IMEMO, Vladímir Evsêiev, também alega que Arábia Saudita, Qatar e outros países do Oriente Médio não desejam que os EUA e Irã tenham uma melhoria nas relações. “Para a Arábia Saudita, qualquer alteração no estatuto do Irã é um desafio às ambições regionais de Riad. E é evidente que eles vão fazer de tudo para bloquear as negociações”, afirma o especialista.

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