Presidentes da China (esq.) e da Rússia (dir.) assumem posição coordenada em relação ao desarmamento nuclear Foto: AP
Em discurso recente na ONU, o diretor do Departamento de Segurança e Desarmamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Mikhail Uliánov, declarou que os governos da Rússia e da China apresentarão às Nações Unidas um novo projeto de resolução sobre a transparência e confiança nas atividades espaciais. Ambos os países assumem posição coordenada em relação ao desarmamento nuclear, escudo antimíssil dos EUA e desmilitarização do espaço.
O diplomata lembrou que um dos fatores prejudiciais à estabilidade estratégica e que dificulta a adoção de novos acordos internacionais sobre as armas nucleares é a falta de um acordo juridicamente vinculativo que proíba as armas no espaço. “O projeto de resolução russo-chinês destinado a preencher essa lacuna está há muito tempo [cinco anos] rondando a Conferência para o Desarmamento em Genebra, mas não foi examinado”, disse Uliánov.
O impulso à iniciativa conjunta foi dado pelo teste de um míssil antissatélite chinês em 11 de janeiro de 2007, quando a China conseguiu destruir seu próprio satélite meteorológico obsoleto a uma altitude de 850 km. Antes disso, a Rússia e os EUA eram os únicos países do mundo a possuir armas desse tipo.
Os primeiros testes de sistemas antissatélite começaram no final dos anos 1950. Na década de 60, os EUA criaram mísseis interceptores capazes de abater veículos espaciais. A União Soviética realizou o primeiro teste bem sucedido em 25 de janeiro de 1967, lançando um satélite assassino a partir de um silo.
Por causa disso, e também da corrida lunar disputada pelas duas superpotências, a União Soviética e os EUA assinaram, em 1967, o Tratado sobre Princípios Reguladores das Atividades dos Estados na Exploração e Uso do Espaço Cósmico. O documento proibia os países signatários de colocar em órbita circunterrestre quaisquer objetos equipados com armas nucleares ou outras armas de destruição em massa, instalar tais armas em corpos celestes e colocá-las no espaço exterior de qualquer outra forma. No entanto, o documento não proibia instalar no espaço armas convencionais.
Mais tarde, porém, na época de distensão, a União Soviética e os EUA firmaram o primeiro tratado sobre a limitação de armas estratégicas ofensivas, o SALT-1, que fixou a obrigação das partes de não atacar veículos espaciais da outra parte destinados a controlar o comprimento desse acordo. No entanto, essa distensão não durou muito tempo.
“Americanos são incapazes de entender os meandros da realidade síria”
Falta de unidade prejudica oposição síria, afirma especialista
Retirada de tropas do Afeganistão em 2014 preocupa países da OTSC
Em 1983, o presidente dos EUA, Ronald Reagan, avançou a Iniciativa de Defesa Estratégica para colocar no espaço armas de ataque capazes de interceptar mísseis estratégicos soviéticos. A iniciativa americana deixou bem claro que armas no espaço era um dos importantíssimos elementos do escudo antimíssil.
Ao se retirar do tratado ABM (sobre a limitação dos sistemas de Defesa Antimíssil), os EUA demonstraram que pretendiam retomar os projetos de sistemas avançados de armas de ataque espaciais como laseres, armas cinéticas e armas de feixe de partículas. Já as armas contra os satélites de alerta de mísseis, satélite de comunicação e localização, sem os quais as operações militares modernas são impensáveis, existem há muito tempo, inclusive na China que, segundo especialistas, realizou este ano um outro teste de armas antissatélite.
A situação criada confronta a humanidade com uma escolha: ou uma corrida armamentista na Terra e no espaço ou acordos internacionais de limitação de armas – opção defendida, aliás, pela Rússia e a China.
A novidade é que os dois países em conjunto possuem um arsenal bastante grande que permite falar sobre uma paridade formal. Outro aspecto que deve ser assinalado é o de que a redução de armas estratégicas realizada pelos EUA e a Rússia em conformidade com o tratado de 2010 lhes permite manter o potencial muito superior ao chinês.
A proposta russo-chinesa de tratado sobre a limitação de armas espaciais mencionada pelo diplomata russo na ONU mostra que os dois países assumem uma posição refletida e coordenada. Um tratado de limitação de armas espaciais pode ser objeto de conversas multilaterais, mas não o único meio de interação entre a Rússia e a China em eventuais negociações sobre armas nucleares.
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: