Manifestação da comunidade síria na Romênia contra o uso de armas químicas Foto: Reuters
Gazeta Russa: O que você espera do planejado encontro Genebra 2?
Rim Turkmani: Nessa conferência não haverá lugar para a vontade do povo sírio. Basta ver o fato de não serem os sírios a escolherem as partes que vão participar dela. Os sírios perderam o direito de traçar o seu próprio destino, e ficou impossível resolver a crise síria sem o consenso internacional. Nenhum dos lados sírios tem agora outra escolha que não seja aceitar essa “internacionalização”.
Por outro lado, Genebra 2 vai proporcionar à comunidade internacional uma oportunidade para se concentrar na resolução da crise síria, e não apenas apoiar uma das partes do conflito. O objetivo é transferir a crise síria do canal militar para o político. Isso pode abrir as portas para a sociedade civil, para que ela se torne o elemento principal no processo de recuperação da Síria.
GR: Existe a possibilidade de os interesses da Síria serem ignorados pela comunidade internacional?
RT: Atualmente, o retorno da estabilidade e da segurança na Síria é do interesse da maioria das partes, exceto dos extremistas, que beneficiam com a continuação do derramamento de sangue.
GR: Como você analisaria o posicionamento da Rússia e dos EUA ao longo de todo o conflito?
RT: A Rússia sempre apoiou o regime que, apesar dos problemas, permaneceu mais coeso do que a oposição. Os Estados Unidos apoiaram a oposição e, por causa da falta de unidade, isso se tornou um problema para Washington.
A administração de Obama tentou alterar essa situação, inicialmente fornecendo ajuda militar à oposição moderada e, em seguida, pela ameaça da intervenção armada. Mas, no final, foi forçada a aceitar a iniciativa russa. No geral, o posicionamento norte-americano é caracterizado pela ausência de uma estratégia política clara e pela incapacidade de compreender todos os meandros da realidade síria.
GR: Paralelamente, Obama falou em seu discurso na ONU sobre o papel exclusivo dos EUA...
RT: Não é do interesse da comunidade internacional que alguém tome as decisões em seu nome ou se torne a “polícia do mundo”. A história, especialmente a das guerras nas quais os Estados Unidos estão envolvidos, mostra como a sociedade se divide após a intervenção militar e a que conflitos prolongados e destrutivos isso leva.
O que nos preocupa agora, como sírios, é a próxima etapa da cooperação russo-americana: conseguirá a Rússia forçar o regime sírio a aceitar as concessões por causa de um acordo político? Até agora, tudo se limitou à destruição das armas químicas. No entanto, esse armamento só entrou no conflito sírio recentemente.
GR: A quem mais o governo russo poderá recorrer para convencer o regime sírio da importância de aceitar um futuro acordo?
RT: A Rússia pode contar com a sociedade civil síria. Aliás, a presença de representantes da sociedade civil na futura conferência é necessária para o sucesso da reunião. A sociedade síria é a parte que melhor consegue expressar suas aspirações, bem como transmitir os pontos de vista do povo.
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