Moscou pede à Síria que coloque seu arsenal químico sob controle internacional

Moscou continuará insistindo para que os especialistas em armas químicas da ONU retornem o mais breve possível à Síria para concluir sua missão Foto: ITAR-TASS

Moscou continuará insistindo para que os especialistas em armas químicas da ONU retornem o mais breve possível à Síria para concluir sua missão Foto: ITAR-TASS

A Rússia lançou a proposta de colocar as armas químicas sírias sob o controle internacional para evitar um ataque dos EUA contra a Síria. Apesar de os Estados Unidos terem reagido à iniciativa com cautela, os observadores acreditam se trata de uma prática viável, especialmente se o Congresso norte-americano votar contra a ação militar.

Poucas horas depois de se reunir com seu homólogo sírio, Wallid Muallem, em Moscou, o chanceler russo Serguêi Lavrov disse ter solicitado às autoridades sírias não só que aceitem colocar seu arsenal de armas químicas sob o controle internacional, mas também que se juntem de forma plena à Organização para a Proibição de Armas Químicas da ONU (OPAQ).

Essa iniciativa, segundo Lavrov, impediria qualquer solução militar do conflito, bem como a possível intensificação das atividades terroristas e o aumento do número de refugiados. Moscou continuará insistindo para que os especialistas em armas químicas da ONU retornem o mais breve possível à Síria para concluir sua missão.

Em uma coletiva de imprensa em Moscou, o chanceler sírio reiterou a disponibilidade do governo de seu país para participar da conferência Genebra-2 e buscar um acordo com a oposição sem quaisquer condições prévias. Segundo Muallem, o país também está pronto para dialogar com os EUA, já que,  “se o problema está apenas no arsenal de armas químicas, ele pode ser resolvido politicamente”.

Em entrevista ao canal de TV ABC na noite da última segunda-feira (9), o presidente americano Barack Obama reagiu favoravelmente à iniciativa russa. Questionado sobre a possibilidade de adiar um ataque contra a Síria caso o arsenal de armas químicas sírio seja colocado sob o controle internacional, o líder dos EUA reiterou, contudo, que é preciso obter “respostas rápidas” para saber quão séria é a proposta russa. 

Estratégias políticas

O presidente do Instituto de Estudos sobre o Oriente Médio, Evguêni Satanóvski, acredita que as declarações de Obama não passam de retórica. “Costumamos buscar um sentido específico nas palavras de presidentes ou secretários de Estado norte-americanos que estão, na verdade, empenhados em resolver seus problemas táticos. Eles dizem coisas extraordinárias para atrair a atenção da imprensa; não têm nenhum outro objetivo”, diz ele.

Satanóvski alega que o ataque contra a Síria é inevitável, já que os inimigos do país desejam derrubar o presidente Bashar al-Assad, como aconteceu nos outros países atingidos pela Primavera Árabe. “Arábia Saudita, Qatar e Turquia fizeram o possível e pagaram enormes quantias para que um ataque contra a Síria acontecesse. Em nenhumas circunstâncias eles aceitarão que Assad sobreviva a essa guerra”, explica.

Segundo ele, a administração norte-americana recebe dinheiro dos países do Golfo, porque estes não possuem potencial militar adequado para combaterem sozinhos o regime sírio. “Os EUA receberam cerca de US$ 17 bilhões para provocar e fomentar a guerra civil, e entre 2 e 3 milhões para persuadir o Congresso norte-americano a aprovar a respectiva decisão.”

Mas o embaixador e professor catedrático da Academia Diplomática da Rússia, Aleksandr Vavilov, pensa que os círculos próximos de Obama decidiram elaborar um plano de recuo para salvar as aparências caso o Congresso não aprove o ataque contra a Síria. “Os americanos entenderam terem ficado em um beco sem saída e estão em busca de uma solução”, diz ele, acrescentando que Obama não está em situação favorável para travar uma guerra.

“Obama está cumprindo seu segundo mandato e não enfrenta mais o desafio de se reeleger. Portanto, seu principal objetivo é ficar na memória dos americanos como presidente que consolidou a estabilidade no mundo”, afirma Vavilov. “Ele aprendeu muita coisa com as campanhas no Iraque e na Líbia e, por isso, não vai querer trilhar o mesmo caminho”, conclui. 

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