Líderes dos países do Brics se reuniram durante a última cúpula do G20, em São Petersburgo Foto: RG
A implementação das iniciativas para criar um fundo de reservas cambiais do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) está na fase final. O anúncio foi feito pelo presidente russo Vladímir Pútin, durante a abertura da reunião dos líderes do grupo no início deste mês em São Petersburgo, paralelamente à cúpula do G20.
Mais tarde, em um encontro com jornalistas, o vice-ministro das Finanças russo Serguêi Storchak declarou que a Rússia contribuirá com parte de suas reservas internacionais para o fundo, cujo montante inicial será de US$ 100 bilhões, conforme acordado na cúpula de Durban, na África do Sul, em março passado. Do valor total, a China vai entrar com US$ 41 bilhões, Brasil, Índia e Rússia, com US$18 bilhões cada, e a África do Sul, com US$ 5 bilhões.
O acordo firmado entre os bancos centrais dos países do grupo se baseia em um contrato de “swap”, isto é, uma espécie de linha de crédito cambial entre os países participantes que, em caso de necessidade, estará disponível para os necessitados. “O fundo de reservas cambiais foi concebido para reagir rapidamente às oscilações dos mercados cambiais”, explicou Storchak.
Durante a reunião em São Petersburgo, os líderes do Brics também acertaram os procedimentos para tomada de decisões sobre as questões-chave das atividades do banco. “Todas as decisões serão tomadas de comum acordo”, declarou Pútin.
Os ministros das Finanças dos respectivos países ficaram incumbidos de dar continuidade aos esforços para a criação do fundo e relatar os resultados de seu trabalho na cúpula do Brics no próximo ano, que acontecerá no Brasil. O fundo é a segunda instituição financeira criada pelo grupo. Anteriormente, os líderes do Brics haviam decidido criar um banco de desenvolvimento comum com capital de US$ 50 bilhões.
Corrida atrás do dólar
Os esforços do Brics para criar instituições semelhantes ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI) têm como pano de fundo as críticas crescentes em relação ao grupo e a fuga de capitais nos respectivos países. De acordo com um relatório do FMI elaborado para a cúpula do G20, em um futuro próximo, os impulsos para o crescimento da economia global virão principalmente dos EUA.
Enquanto isso, Brasil e Índia estão enfrentando problemas sérios em termos de estabilidade de moedas nacionais, porque suas economias continuam fortemente centradas em mercados de matéria-prima e têm capacidade limitada para manter o crescimento às custas da demanda interna. Na Rússia, a desvalorização da moeda nacional desde o início deste ano também foi significativa, mas a nova alta do preço do petróleo em meio à crise da Síria acabou freando esse processo.
A China, cuja moeda nacional se mantém estável por causa dos esforços do governo, está perdendo sua principal vantagem: a mão-de-obra barata. No índice de competitividade elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, o país ocupa a 29ª posição, a África do Sul aparece em 53º lugar, o Brasil, em 56º, a Índia, em 60º e a Rússia, em 64º.
Mesmo assim, os especialistas apontam uma dinâmica positiva no grupo, já que pelo menos duas moedas do grupo continuam se valorizando. Segundo o relatório do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) elaborado com base nas entrevistas com representantes dos bancos centrais, bancos comerciais e autoridades de 43 países, o yuan chinês está pela primeira vez entre as dez principais moedas negociadas nos mercados cambiais internacionais, ocupando o 9º lugar com 2,2% do mercado global.
O rublo também conseguiu consolidar sua posição. Em 2013, a moeda russa subiu para o 12º lugar, partindo da 18a posição em 2007, e passou a responder por 1,6% das operações cambiais internacionais. A participação do real brasileiro no mercado cambial é de 1,1% e da rupia indiana é de 1%. O dólar americano ainda responde por 87% das operações cambiais internacionais.
Estratégia limitada?
Os especialistas ouvidos pela Gazeta Russa elogiaram a ideia de criar um fundo de reservas cambiais do Brics, ressaltando, contudo, que a medida é insuficiente para a solução de todos problemas existentes . “Esse valor só é suficiente para compensar, em uma perspectiva de curto prazo, o efeito negativo da fuga de capitais e permitir aos reguladores nacionais reagir de forma mais eficaz”, disse o parceiro do FCG, Vladímir Lupenko. “Mas não devemos esquecer que o problema não está só no montante da reserva, mas também no fato de o Federal Reserve [Fed, o banco central dos EUA] ter a intenção reduzir seu programa de incentivos à economia. O controle de um processo tão complexo pode ser perdido em caso de avaliações incorretas”, acrescentou o economista.
O especialista em investimento Timiofei Choltes também acredita que o valor total do fundo será insuficiente para estabilizar as moedas nacionais. No início de setembro deste ano, o Índice MSCI de mercados emergentes caiu quase 5%, o que é significativamente superior aos US$ 100 bilhões em termos absolutos. “Dada à resistência política do FMI, Banco Mundial e das economias desenvolvidas, esses recursos podem não ter efeito por serem pequenos. No entanto, essa quantia é suficiente para desafiar as instituições financeiras internacionais que condicionam a concessão de empréstimos a juros baixos para países emergentes a aspectos de natureza política”, arrematou.
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