Rússia introduz “cortina de ferro” contra os artistas ocidentais

Artistas estrangeiros, como Madonna, enfrentam uma série de problemas na hora de fechar contratos para turnês na Rússia Foto: AP

Artistas estrangeiros, como Madonna, enfrentam uma série de problemas na hora de fechar contratos para turnês na Rússia Foto: AP

País corre o risco de ficar sem as turnês dos artistas ocidentais por causa de problemas com as permissões de entrada. Além de não haver mais vistos artísticos na Rússia, as categorias existentes não dão direito de realizar apresentações comerciais.

Em julho passado, o Ministério da Cultura da Rússia deixou de emitir vistos na categoria "”relações culturais” para os artistas estrangeiros que vão realizar turnês na Rússia. O motivo é simples: essas licenças são destinadas às pessoas envolvidas em atividades não comerciais em território russo. O problema é que não há nenhum outro tipo de vistos, incluindo o de negócios e o de turismo, que dê o direito aos artistas realizarem seus shows.

“O apoio à indústria do entretenimento não está incluído nas tarefas do Ministério da Cultura. Estamos prontos para apoiar as performances de artistas talentosos, mas não temos o direito e não vamos infringir a lei”, disse o primeiro vice-ministro da Cultura, Vladímir Aristarkhov, a respeito da presente situação.

A única opção atual é solicitar um visto de trabalho junto ao Serviço Federal de Migração, que, além de levar cerca de meio ano para sua obtenção, obriga o artista a rescindir os contratos originais. Nesse caso, os artistas iriam se deparar com uma série de burocracias, incluindo a assinatura de um contrato de trabalho para o período da turnê na Rússia.

“No início deste ano, os treinadores de animais italianos chegaram com uma semana de atraso devido a problemas com o visto. Agora, na véspera do Festival Internacional de Circo, que será realizado em outubro, estamos fechando contratos com mais de 15 países e, diariamente, nos deparamos com problemas”, conta Edgard Zapáchni, diretor-executivo do Grande Circo Estatal de Moscou.

A entrada de artistas com objetivos comerciais só é possível com o visto humanitário, isto é, se não receberem nenhuma recompensa financeira enquanto estiverem se apresentando na Rússia. “Oferecemos contratos de seis meses, e se tratando de vistos humanitários, esse prazo seria uma violação da lei. Conseguir um visto de trabalho é muito difícil, para isso é necessário rescindir os contratos com os agentes ocidentais, e como todos os artistas trabalham com várias agências, começa a confusão”, acrescenta Zapáchni.

O diretor da agência de shows RIFF, Dmítri Saraev, defende a necessidade de um novo tipo de vistos. “Em todos os países civilizados, são concedidos aos artistas vistos especiais que são emitidos em um cenário simplificado. Atualmente, somos obrigados a recorrer a subterfúgios para não infringir a lei e conseguirmos realizar o nosso trabalho em tempo hábil, porque os artistas não têm muito tempo para a obtenção de vistos”, explica Saraiev, alegando que os vistos comuns não são adequados aos artistas.

Iliá Bortniuk, diretor-geral da Light Music, também acredita que é imprescindível que os artistas sejam incluidos em uma categoria especial. “Se restar apenas o visto de trabalho, os artistas simplesmente deixarão de vir para cá. Em última análise, serão prejudicados os espectadores e a reputação do país”, considera Bortniuk.

O Serviço Federal de Migração também não elaborou até agora um regulamento para os artistas. “Eles têm um regulamento geral para os trabalhadores migrantes, mas não dá para providenciar esse mesmo tipo de visto para Madonna, Elton John ou Lady Gaga”, conclui Eduard Rátnikov, presidente da agência de shows TCI.

 

Publicado originalmente pelo Izvéstia

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