Chefe do Comitê Internacional do Conselho da Rússia fala sobre crise na Síria e papel do Irã no conflito Foto: ITAR-TASS
Oriundo de uma família de militares – seu pai e seu avô eram generais – Mikhail Marguelov formou-se em 1986 no Instituto dos Países da Ásia e África da Universidade Estatal de Moscou. Foi professor de língua árabe, chefe de redação da seção árabe da agência de notícias Itar-Tass e trabalhou em companhias de consultoria norte-americanas. Durante o governo Iéltsin, foi chefe da Gestão do Presidente da Federação Russa para Relações com a Sociedade (1997-1998), passando a representante especial no Sudão para o presidente russo no governo Medvedev e, desde 2011, representante especial nos países da África para o presidente russo Vladímir Pútin. Além disso, é presidente do Comitê do Conselho da Federação para assuntos internacionais desde 2001.
Gazeta Russa: Depois da cúpula do G8, a comunidade internacional aguarda agora a conferência sobre Síria em Moscou. Quando a conferência será realizada e quais seus possíveis resultados?
Mikhail Marguelov: Os líderes do países do G8 decidiram realizar a próxima conferência sobre Síria em Genebra, em agosto. Todas as partes estão fazendo um grande trabalho para preparar essa conferência.
Para dizer a verdade, não vejo diferenças muito significativas entre a posição da Rússia e a dos países do Ocidente em relação à crise na Síria. Todas as partes estão preocupadas com a situação na região e não sabem o que acontecerá quando o regime do Assad cair. A Rússia não está defendendo Bashar al-Assad e não está elogiando a oposição síria. Para estabilizar a situação na Síria é preciso estabelecer o diálogo dentro da oposição síria.
Participei de vários encontros com os representantes de nove ou dez grupos diferentes da oposição síria em Moscou. Há um contraste nítido com o que eu vi em 2011 em Benghazi, quando o presidente russo me pediu negociar com os rebeldes. A oposição em Benghazi tinha um objetivo comum e, para alcançar esse objetivo, as pessoas descartaram todas as disconcordâncias internas.
Os grupos de oposição síria que visitam Moscou e, provavelmente, outras capitais do mundo, estão brigando entre si. Todas as forças da oposição afirmam que o regime de Assad deve ser derrubado, mas falta entender o que vai acontecer depois da queda do regime. Será preciso criar um governo de transição composto pelos representantes do governo atual e da oposição. É difícil imaginar isso agora.
GR: Existe algum grupo dentro da oposição síria que poderia tomar o poder e colocar ordem depois da derrocada do regime de Assad?
M.M.: Tenho a impressão de que dentro da oposição não há líderes carismáticos o bastante. Bashar al-Assad é respeitado porque faz parte da família governante, apoiado pela comunidade alauíta. A oposição não tem líderes que poderiam se tornar símbolos da nova Síria.
GR: Você não concorda com a opinião de que a época de Assad acabará logo?
M.M.: Essa época não vai acabar logo porque, no mínimo, as forças governamentais têm mais sucesso nas operações militares do que as forças de oposição. Além disso, o Irã, um dos países mais fortes do Oriente Médio, e talvez o mais forte depois da guerra no Iraque, já declarou apoiar o regime de Assad.
Do meu ponto de vista, o equilíbrio instável entre as forças governamentais e a oposição é a base para continuar discussões internacionais, para realizar a nova conferência em Genebra. A comunidade internacional deve ser um mediador para resolver a crise na Síria.
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