Líderes do G8 chegam a consenso sobre a Síria

Apesar das divergências, Pútin, Cameron e Obama conseguiram chegar a um acordo sobre a questão síria Foto: Serguêi Guneev/RIA Nóvosti

Apesar das divergências, Pútin, Cameron e Obama conseguiram chegar a um acordo sobre a questão síria Foto: Serguêi Guneev/RIA Nóvosti

Potências mundiais reforçaram necessidade de nova conferência internacional sobre o conflito, apuração dos fatos e busca de diálogo pacífico.

O acordo político é o único caminho para resolver a crise na Síria. Esse é o lema da declaração final após a reunião do G8, que aconteceu nos dias 17 e 18 de junho na Irlanda do Norte. A Síria, sem dúvida, tornou-se o principal tema da última cúpula do grupo.

Antes mesmo do evento, os EUA anunciaram terem provas da utilização de armas químicas pelas forças do governo sírio. Por isso, Washington anunciou que iniciaria a prestar assistência militar aos rebeldes, embora os prazos e detalhes não tenham sido comunicados.

Em vista da França e da Grã-Bretanha já terem conseguido com que a UE levantasse o embargo da transferência de armas para a Síria e terem reconhecido os ataques químicos pelas tropas do governo, os EUA criaram a impressão de que, na reunião de cúpula, o presidente russo Vladímir Pútin, que se opõe à mudança do poder de Assad, estaria sozinho contra todos.

As tentativas de intimidar a Rússia com uma ameaça de isolamento internacional continuaram até o anúncio da declaração final da cúpula. Os meios de comunicação chegaram a divulgar, inclusive, que a declaração geral sobre a Síria seria aceita sem a assinatura do Kremlin.

Porém, a posição da Rússia permaneceu inalterada. Moscou imediatamente declarou inconsistentes as evidências do uso de armas químicas pelas tropas sírias e considerou a ajuda militar aos rebeldes como sendo um passo que visava interromper um processo pacífico para a situação da Síria, iniciado em maio em conjunto pela Rússia e os Estados Unidos.

Putin explicou a sua posição aos jornalistas de maneira bastante emocional, logo após uma reunião com o primeiro-ministro britânico David Cameron. Na sequência, Obama e Pútin tiveram duas horas de conversa, depois da qual apareceram para a imprensa com expressões de indiferença e declararam incompatibilidade de posições sobre a Síria.

Tudo indicava que o presidente russo precisaria se opor a todos os sete participantes – mas, surpreendentemente, tudo acabou de forma diferente.

Em declarações à imprensa sobre os tópicos da reunião de cúpula, Pútin assinalou que em nenhum momento se sentiu no papel de “um contra todos” sobre a questão síria. “Tivemos uma discussão geral. Alguns concordavam com outros, alguns discordavam e discutiam, mas não ocorreu nenhum momento em que a Rússia defendesse sozinha a sua abordagem na solução do problema da Síria”, disse o líder russo.

A julgar pela declaração final, isso pode ser confirmado. Em primeiro lugar, nada foi dito sobre o destino de Assad, apesar do consenso geral de que seria necessário seu afastamento. Além disso, os líderes do G8 condenaram as violações dos direitos humanos por todos lados envolvidos no conflito na Síria. Também foi retirada a acusação dirigida oficialmente a Damasco pelo uso de armas químicas. “Os líderes condenaram o uso de armas químicas por qualquer uma das partes no conflito e expressaram a necessidade de permitir à ONU de conduzir um inquérito a fim de apurar os fatos”, anunciou Cameron.

Por fim, e talvez mais importante, foi reafirmada a intenção de uma conferência internacional sobre a Síria. “Apoiamos fortemente a realização urgente da conferência em Genebra sobre a Síria para implementar integralmente o comunicado de do ano passado, que prevê uma série de etapas, começando com um acordo mútuo entre as partes conflitantes sobre a criação de um órgão de transição com todos os poderes executivos”, diz o documento final.

As autoridades norte-americanas, citadas pelos meios de comunicação ocidentais, se disseram totalmente satisfeitas com a decisão do G8. “O conteúdo do comunicado final corresponde plenamente aos objetivos que o presidente dos EUA perseguia no curso das negociações com os líderes de outros países, incluindo Pútin”, declarou uma fonte da alta administração do governo dos Estados Unidos.

A resolução também satisfaz Moscou, porque fornece uma boa base para a continuação das negociações diplomáticas a fim de atingir uma solução pacífica.

“Paralelamente, estamos falando sobre a formação de uma nova situação política no mundo”, acredita Dmítri Suslov, vice-diretor do Centro de Estudos Europeus e Internacionais da Escola Superior de Economia. “Para o Ocidente, reconhecer que Assad pode vencer ou pelo menos o fato de se ter negociações com a sua participação significará uma das maiores derrotas políticas na história do pós-Guerra Fria”, defende o analista político.

Suslov sustenta que situação mostra “ao menos os contornos de uma nova multipolaridade, onde a Rússia irá agir em igualdade, como já está acontecendo com relação à Síria”.

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