Relatório sugere ações para Rússia no comando do G20

Próxima reunião do G20 não deve trazer grandes resultados, afirmam especialistas Foto: G20 / Press Service

Próxima reunião do G20 não deve trazer grandes resultados, afirmam especialistas Foto: G20 / Press Service

Segundo autores, país deve focar em questões em que tem poder de mobilização e chamar atenção para temas globais, tais como clima, segurança alimentar e comércio.

A Rússia, que atualmente preside o G20, sediará a próxima cúpula do grupo no mês de setembro em São Petersburgo. Às vésperas do encontro, o Center on Global Interests, um grupo de reflexão sobre questões políticas com sede em Washington, apresentou um relatório provisório de avaliação sobre os principais temas da agenda do G20, no qual define recomendações sobre como a Rússia poderia fazer um melhor uso de sua presidência.

No relatório intitulado “A vez da Rússia dirigir o G20”, os autores Mark Medish e Daniel Lucich destacaram algumas das principais questões que estão sendo discutidas na fase preparatória da cúpula de São Petersburgo e que devem permanecer em foco. Entre elas estão a reforma na governança do FMI, pressupondo o aumento do poder de voto para os países emergentes e a transferência de cotas dos países com maior representatividade para os menos representados.

Outro grande desafio para as economias do G20 é o desenvolvimento de uma estratégia de gestão de dívidas e de um equilíbrio entre a necessária austeridade fiscal e as vantagens do estímulo fiscal. O G20 também precisará discutir sobre a diversificação das reservas monetárias internacionais, a facilitação de acesso a financiamentos em longo prazo de grandes projetos de infraestrutura e a coordenação de esforços para lidar com crises financeiras como a do Chipre.

No entanto, os autores do documento expressaram preocupação por não haver “nenhum objetivo concreto ou plano para o que será ou deveria ser o legado da Cúpula de São Petersburgo”.

“Há baixíssimas expectativas em torno do que o G20 pode fazer”, disse Lucich, ao apresentar o relatório na Escola Superior de Economia de Moscou, em maio passado. “Talvez o grupo seja muito difuso e variado pra convergir em muitos temas”, acrescentou um dos autores ao comentar sobre os atuais questionamentos da legitimidade e eficácia do G20.

Também há dúvidas sobre a capacidade de a Rússia assumir a liderança no avanço de questões urgentes na agenda do G20. Segundo Lucich e Medish, trata-se “em muitos aspectos de um novo país em busca de seu próprio espaço no cenário internacional”, que está passando por uma crise de identidade nacional e caminha para o isolacionismo.

“Em Moscou, há uma ideia quase paranóica de que os EUA ou o Ocidente querem que a Rússia fracasse”, apontaram os autores, ao lembrar que o Kremlin culpa a interferência ocidental nos assuntos internos da Rússia pelo aumento do descontentamento popular com o governo russo. No último mês de maio, o presidente Vladímir Pútin abandonou a Cúpula do G8 em Camp David “sem muita explicação”.

“É um grande risco para a Rússia que sua atual direção, rumo ao aumento da autarquia nacional e do isolamento regional, possa vir a superestimar seriamente as capacidades internas do país de crescer e prosperar”, observa o relatório.

Poder de mobilização

Alguns especialistas e investidores estrangeiros permanecem céticos quanto ao otimismo demonstrado por políticos de alto calão da Rússia quando o assunto são as perspectivas de crescimento nacional. O declínio demográfico, degradação ambiental, incapacidade de diversificação da economia fundamentalmente baseada no petróleo e no gás, excesso de corrupção, poder judiciário suscetível à influência externa e um sistema bancário fraco figuram entre os problemas mais arraigados no país.

Lucich e Medish consideram que a tarefa da Rússia como presidente do G20 representa tanto um teste como uma oportunidade. Eles recomendam que a Rússia “se concentre em questões nas quais o país tem poder de mobilização” e que chame mais a atenção para temas globais como clima, segurança alimentar e comércio.

“A histórica ratificação russa do Protocolo de Quioto em 2004 permitiu que o acordo entrasse em vigor e seria adequado que a Rússia trouxesse a questão climática de volta ao foco do G20”, aponta o relatório. Por ser a terceira maior emissora de CO2 do mundo, depois da China e dos Estados Unidos, a Rússia poderia tirar vantagem de seu enorme potencial de fontes renováveis de energia geotérmica, hídrica, solar e eólica, e reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa por um custo comparativamente baixo.

Além disso, espera-se que a Rússia, líder na exportação de grãos, avance na questão da segurança alimentar durante os painéis de discussão do G20. Por fim, o país poderá usar o novo status obtido com a adesão à OMC (Organização Mundial do Comércio) para impulsionar mais acordos multilaterais ou continuar buscando soluções regionais como, por exemplo, a União Aduaneira (composta pela Bielorrússia, Cazaquistão e Rússia).

“A própria possibilidade de diálogo já é um avanço em uma direção positiva”, afirma o ex-presidente do Banco Central da Rússia e revisor do relatório, Serguêi Dubinin, embora não espere a tomada de grandes decisões na Cúpula de São Petersburgo.

O proeminente economista Serguêi Aleksatchenko também é categórico ao definir as perspectivas do evento. “Se o presidente Obama não comparecer, se algum dos líderes do G20 se recusar a posar para a foto ou se um escândalo ou coisa do tipo vier à tona, o encontro será um fracasso. Em todos os outros casos, a cúpula deve ser considerada bem-sucedida”, afirma ironicamente.

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