Eleição de brasileiro para comando da OMC evidencia importância dos emergentes

Diplomata brasileiro Roberto Azevêdo é o novo diretor-geral da OMC Foto: Reuters

Diplomata brasileiro Roberto Azevêdo é o novo diretor-geral da OMC Foto: Reuters

Espera-se em Moscou que o brasileiro Roberto Azevêdo revise os procedimentos de tomada de decisões da OMC e facilite o acesso dos países em desenvolvimento ao mercado global.

O novo diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), o diplomata brasileiro Roberto Azevêdo, 55, marcou não apenas a primeira eleição de um representante da América Latina para o cargo, como também “o reconhecimento legítimo do crescente papel das economias emergentes na economia global”.

Essa é opinião  de Nikita Máslennikov, assessor do Instituto de Desenvolvimento Contemporâneo.

"A nomeação do brasileiro representa também o fortalecimento da posição do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), cujos países-membros são os líderes das economias em desenvolvimento", completou Máslennikov.  

Azevêdo suplantou outros nove candidatos, incluindo os de México, Jordânia e Coreia do Sul. Os especialistas acreditam que isso irá favorecer os países em desenvolvimento, principalmente os do grupo Brics.

Na opinião de Máslennikov, apesar do fato de o papel do diretor-geral da OMC ser mais organizacional, podem-se esperar dele iniciativas voltadas à solução de problemas que interessam sobretudo ao grupo.

O próprio Azevêdo, em função da sua origem, está mais imerso na realidade desse grupo do que seu antecessor, o francês Pascal Lamy. Consequentemente, Moscou também pode esperar alguns benefícios para si.

RAIO-X
Azevêdo é formado em engenharia. Em 1984, após o término da Academia Diplomática, junto ao Ministério das Relações Exteriores, entrou para o Itamaraty. De 1997 a 2001, trabalhou na missão brasileira na ONU em Genebra. Desde  2008, é representante do Brasil na OMC. Azevêdo tornou-se famoso pelas acirradas disputas comerciais com os EUA, nas quais se declarou contrário aos subsídios oferecidos pelos americanos aos produtores de algodão. Ele proclama a continuidade da liberalização da economia mundial e a conclusão da rodada de negociações de Doha.

“Brasil e Rússia compartilham problemas e mantêm relações comerciais. Com Azevêdo, Moscou terá mais facilidade de chegar a acordos sobre assuntos de seu interesse. Entre os principais resultados esperados [com a chegada do brasileiro ao cargo] estão a eliminação das barreiras e a facilitação do acesso dos países em desenvolvimento aos mercados mundiais", disse o professor da Escola Superior de Economia, Aleksêi Portansky, ex-diretor do Bureau da Informação da Adesão da Rússia à OMC.

A solução dessas questões já está emperrada há 12 anos. Desde 2001 não avança a rodada de negociações de Doha, que trata de uma maior liberalização do comércio mundial. O especialista acredita que o novo chefe poderá tomar a iniciativa de revisar o mecanismo da tomada de decisões.

Atualmente, os 159 membros da OMC são guiados pelo princípio da "transação única" e do equilíbrio de interesses. Nesse esquema, para a aprovação de um pacote de propostas, é necessário que cada país membro da organização vote a favor. Isso bloqueia o seu desenvolvimento e leva ao aumento do volume de medidas diretas de restrição.

Como destaca Máslennikov, de 2009 até 2013, o número de tais barreiras comerciais triplicou no mundo, isso em meio à crise econômica.

Se, anteriormente, cerca de 1% do comércio internacional ficava submetido a essa violação direta das regras do livre comércio, agora a proporção aumentou para 3%.

Durante a votação para a nomeação do novo diretor-geral da OMC, a Rússia apoiou Roberto Azevêdo. Como disse na ocasião o vice-ministro de Desenvolvimento Econômico da Rússia, Aleksêi Likhachev, no fato dele ter alcançado o cargo "está embutida uma reserva muito grande de desenvolvimento do nosso comércio e cooperação econômica com os países da região".

"Temos muitas esperanças de que com a vinda para o cargo de diretor-geral de uma pessoa nova e ativa, que pensa como nós, conseguiremos encontrar, através das regras da OMC, uma alavancagem adicional para a promoção das relações comerciais e econômica no sistema de comércio global", enfatizou o vice-ministro, citado pela agência de notícias “Interfaxs”.

Cúpula do G20

A eleição de Azevêdo também é importante para a Rússia por questões de imagem, porque é exatamente na Rússia que o novo chefe da OMC poderá divulgar o seu programa.

"Em setembro, será realizada a reunião de cúpula do G20 em São Petersburgo, na qual deverão ser anunciadas as primeiras iniciativas do novo diretor-geral. A harmonização das posições desses países poderia delimitar os contornos do documento final da organização. O G20 é responsável por cerca de 90% do PIB mundial", disse Máslennikov.

Azevêdo irá encabeçar oficialmente a organização justamente na véspera da reunião de cúpula, no dia 1º de setembro, quando expira o mandato de Lamy. Antes disso, a sua candidatura deverá ser definitivamente aprovada pelo Conselho Geral da organização.

 

Publicado originalmente pelo Izvéstia 

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