“Se não chegarmos à Ásia Central, ela virá até nós”

Ivanov alega que a criação de organismo internacional liderado pela Rússia será capaz de lidar com o tráfico de drogas provenientes do Afeganistão Foto: Víktor Vasenin/Rossiyskaya Gazeta

Ivanov alega que a criação de organismo internacional liderado pela Rússia será capaz de lidar com o tráfico de drogas provenientes do Afeganistão Foto: Víktor Vasenin/Rossiyskaya Gazeta

Chefe do Serviço Federal de Controle de Drogas contou como a Rússia irá combater o contrabando de drogas provenientes dos países da Ásia Central por meio de novo organismo público-privado.

Uma comissão especial do governo russo liberou a proposta doServiço Federal de Controle deDrogas da Rússia (FSKN, sigla em russo) de criar uma corporação russa de cooperação com os países da Ásia Central. Os novos postos de trabalho na região servirão para afastar a população da participação no contrabando das drogas afegãs.

Para tanto, a corporação, cujo custo da primeira fase do empreendimento é estimado em US$ 64 milhões, deverá focar na construção de hidrelétricas, avicultura e montagem industrial de alta tecnologia. Em entrevista ao jornal “Kommersant”, o chefe do FSKN, Víktor Ivanov, falou sobre quantas vidas poderão ser salvas por meio de tal iniciativa.

Qual será a estrutura desse novo órgão?

Sugiro que ela seja criada em forma de Sociedade Anônima. Cinquenta e um por cento das ações serão do governo, enquanto que as ações restantes serão transferidas para empresas comerciais. Ao investir dinheiro na corporação e fazer parte dela, essas empresas terão apoio político, econômico e financeiro para investir em projetos lucrativos na Ásia Central. 

Será que projetos de hidrelétricas nessa região são economicamente vantajosos, mesmo com os riscos existentes?

Tenho conversado com muitos líderes de grandes empresas russas. Todos dizem que se tivessem o apoio do governo, formando uma grande corporação, eles iriam se sentir muito mais confiantes. 

Se a corporação funcionar, em quanto poderá diminuir a mortalidade dos russos em consequência das drogas?

Atualmente, esse índice chega a mais de 100 mil jovens por ano. Após cinco anos de funcionamento, esse número poderá ser reduzido a quase 25% do número atual, ou seja, de 25 a 30 mil pessoas.

Quantos empregos devem ser criados na Ásia Central?

Cerca de 30 mil empregos já no primeiro ano de implementação do programa.

Por que investir dinheiro do orçamento para criar empregos em outros países, se podemos, por exemplo, usá-lo para reforçar a luta contra os traficantes de drogas na Rússia?

A experiência mostra que utilizar a polícia como ferramenta única não produz resultados. É necessária uma abordagem integrada. Na Rússia o componente policial e punitivo já é tradicionalmente forte. Não há como reforçar ainda mais. Só no ano passado, 300 mil pessoas responderam judicialmente por crimes e delitos relacionados ao tráfico de drogas, sobretudo jovens.

Então por que não criar empregos para eles?

Temos outros departamentos que já estão se ocupando disso. A criação de empregos, especialmente para jovens, é um grande desafio. Afinal, os que traficam drogas e fazem uso delas, não costumam ter outra ocupação.

Já existem planos econômicos que contemplam isso. A questão é fazer com que eles funcionem. Há, por exemplo, o programa de desenvolvimento do Extremo Oriente e o do norte do Cáucaso. Mas, em relação à Ásia Central, não temos qualquer projeto. Há um grande número de pessoas da região que, sem ter condições de ganhar dinheiro trabalhando, vem para cá. Se nós não chegarmos à Ásia Central, a Ásia Central virá até nós. Aliás, ela já chegou. De acordo com a estimativa do Serviço Federal de Imigração, mais de 12 milhões de pessoas encontram-se na Rússia para obter sustento. Isso cria condições excepcionalmente favoráveis aos traficantes de drogas.

Existem planos de investir dinheiro na gestão das fronteiras?

Há muito tempo estamos dizendo que nas fronteiras são necessários sistemas móveis de inspeção, com a utilização de raios gama que permitam detectar a presença de drogas nos veículos. Hoje em dia, infelizmente, a indústria russa não produz tais sistemas. Eles são fabricados na Alemanha, Estados Unidos e China. É uma tecnologia muito eficaz.

Talvez devêssemos comprar tais aparelhos com esse dinheiro...

Claro que seria preciso comprá-los, mas também é óbvio que US$ 64,2 milhões representam muito dinheiro. Paralelamente, quando US$ 4,8 bilhões são alocados para ajudar o Chipre, surge a questão: talvez o dinheiro deveria ter sido direcionado para a luta contra as drogas.

 

Publicado originalmente pelo Kommersant 

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