Embaixador russo na China, Andrêi Denisov Foto: Press Photo
A nova concepção na política externa levou diplomacia russa a se voltar à região Ásia-Pacífico, que atrai também a atenção dos Estados Unidos e da UE. De partida para Pequim, o novo embaixador russo na China, Andrêi Denisov, concedeu uma entrevista exclusiva à Gazeta Russa.
Gazeta Russa: Quais são as abordagens da Rússia em relação aos processos de integração na região
Ásia-Pacífico, que está se transformando em uma arena de competição global?
Andrêi Denisov: Todos os integrantes-chaves demonstram um crescente interesse em relação à região "Ásia-Pac", que se firmou como principal força motriz para o desenvolvimento global. Os EUA anunciaram seu estratégico "retorno" à região e a União Europeia passou a dispensar uma atenção consideravelmente maior a ela.
É crucial que na "Ásia-Pac" prevaleça a cooperação, a confiança e a compreensão mútua, e não a rivalidade e o confronto. Essa é a nossa estratégia na região, onde a Rússia, enquanto potência da Ásia e do Pacífico, sempre teve, tem e terá profundos interesses políticos e econômicos.
O ingresso na OMC (Organização Mundial do Comércio) criou para a Rússia a oportunidade de estabelecer uma conexão mais forte com os processos de liberalização do comércio e integração econômica na região. Estamos interessados na ideia da criação de uma zona única de livre comércio na região Ásia-Pacífico, na parceria Transpacífico e em uma abrangente parceria econômica regional.
GR: Existem condições na região Ásia-Pacífico para a consolidação do princípio da segurança igualitária e indivisível, que acontece com dificuldade na região Euro-Atlântica?
A.D.: A abordagem da Rússia em relação à arquitetura da segurança na "Ásia-Pac" é conhecida, é a busca conjunta para um equilíbrio de interesses, abrindo o caminho para uma ordem regional previsível e estável.
Como parte das atividades que integram o Diálogo Sobre a Cooperação na Ásia, estamos elaborando, em conjunto com a China e Brunei, uma declaração na qual poderá ser fixado o compromisso comum dos países da região para com a resolução pacífica de disputas, o não uso da força, a rejeição de confrontos e o estabelecimento de parcerias entre organizações multilaterais na Ásia-Pac.
É extremamente importante consolidar nela o princípio da indivisibilidade da segurança. Nessa base, seria possível passar a tratar das medidas concretas que contribuam para o reforço da confiança mútua e a solução dos problemas regionais.
GR: Que tipo de questões o conceito da participação da Rússia no Brics coloca diante das embaixadas russas nos países membros?
A.D.: Essa concepção, acima de tudo, nos conduz no sentido de reforçarmos aquele conjunto de interesses estratégicos comuns que se constituíram entre os parceiros do BRICS, nas áreas política e econômico-financeira. Nós e os nossos parceiros somos a favor de uma reforma da arquitetura econômico-financeira internacional que considere a realidade da economia mundial no século 21, a favor do princípio do primado do direito internacional e do papel central da ONU na manutenção da segurança e da paz mundial.
Daí surgem as tarefas concretas de nossas missões diplomáticas nos países do grupo Brics: colaborar com a promoção do diálogo com os parceiros em toda a gama de áreas de trabalho do Brics e "gerar” novas propostas. Atualmente, existe uma maior demanda de iniciativas na esfera da cooperação multilateral de investimentos. Dentro do grupo Brics estão estabelecidos canais diretos de comunicação em todos os níveis, desde os chefes de Estado até os coordenadores dos grupos de trabalho.
GR: Sua nomeação para o cargo de embaixador russo na China, logo após a visita oficial à Rússia do presidente da República Popular da China, Xi Jinping, reflete a mudança de ênfase nas relações entre Rússia e China?
A.D.: A China é um parceiro-chave da Rússia, tanto em cooperação bilateral, como em assuntos internacionais e regionais. Avaliamos nossas relações atuais com a China como as melhores de toda a história. A visita oficial do presidente da China, Xi Jinping, à Rússia, reiterou o caráter prioritário e o mais alto nível das relações bilaterais.
A principal tarefa de qualquer embaixador é cumprir todas as disposições da liderança de seu país. Eu, assim como os meus respeitados predecessores no cargo de embaixador russo na China, não tenho outras instruções, senão garantir a continuidade do mutuamente vantajoso desenvolvimento das relações entre a Rússia e a China, pois isso corresponde aos interesses nacionais da Rússia.
O papel e a influência da China no mundo estão crescendo ano a ano. As questões que precisam ser resolvidas em Pequim estão ficando cada vez mais abrangentes. Pessoalmente, fico bastante animado com isso. Afinal, por definição, o sinólogo é um "workaholic", não daria para aprender o idioma chinês de outra maneira.
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