“Patrocinadores externos dificultam diálogo na Síria”, diz Lavrov

Foto: Reuters

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Apesar de governo e oposição perceberem a necessidade de uma solução política, chanceler russo acredita que atores externos atrasam as negociações do conflito que já dura dois anos.

Em uma reunião com representantes do CCMDS (Comitê de Coordenação para a Mudança Democrática da Síria) realizada no último dia 11 em Moscou, o chanceler russo Serguêi Lavrov acusou os patrocinadores externos da oposição síria de estar criando dificuldades para o início de um diálogo sobre a solução política do conflito. Em sua opinião, o Ocidente abdicou de seus planos de intervenção militar direta no conflito sírio, mas pretende derrubar o regime de Bashar Assad pelas mãos dos rebeldes.

“A situação não está melhorando, embora as partes demonstrem uma compreensão crescente da necessidade de dar fim à violência e iniciar o diálogo”, afirmou o ministro russo. “É grande o número daqueles, inclusive entre os patrocinadores externos da oposição, que estão tentando dificultar esse processo. Portanto, acreditamos que os esforços iniciados por vocês para unir a oposição são muito importantes”, disse Lavrov à delegação do CCMDS.

Citado pela agência de notícias ITAR-TASS, o chanceler também disse que a Conferência das Forças Patrióticas da Oposição, realizada em janeiro passado em Paris, elaborou uma posição construtiva sobre o diálogo. A negociação foi também considerada pelo próprio governo. “Queremos fazer com que esses dois processos se unam”, disse Lavrov. “O mais importante é que os sírios decidam sozinhos o destino de seu país e políticos.”

O coordenador da CCMDS no exterior, Heysam Manaa, acredita que só a solução política do conflito pode salvar a Síria de desdobramentos semelhantes aos da Somália. “Essa visão é atualmente compartilhada por vários integrantes da Coalizão Nacional das forças revolucionárias e oposicionistas, além de um grande número de servidores públicos sírios”, declarou Manaa durante a reunião, acrescentando que a maioria esmagadora dos sírios acredita que uma solução política do conflito poderia salvar o país.

“Temos o grande prazer de estar aqui porque acreditamos que a solução política da crise passa por Moscou. Dissemos isso quando a Liga Árabe ofereceu sua solução para o problema e, por isso, é muito importante para nós colaborar com vocês”, continuou Manaa.

O vice-presidente do Centro de Pesquisas Políticas da Rússia, Dmítri Polikanov, garante que, por um lado, o Ocidente não quer intervir militarmente na Síria, mas, por outro, não gosta do regime de Assad. “A ideia é alterar a situação sem intervir diretamente no conflito, pois os líderes ocidentais que isso trará nada de bom”, disse Polikanov.

Segundo o especialista, quanto maior é o impasse na Síria, menor é paciência e confiança do Ocidente nas negociações. “Uma vez que uma das partes do diálogo está sendo rejeitada pelas forças externas, é difícil haver um diálogo na Síria”, salientou.

Na semana passada, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, reconheceu oficialmente que os instrutores militares de países ocidentais treinam os rebeldes do Exército Livre da Síria. “Muitos países estão trabalhando conosco nessa área”, disse Kerry. “Acho que o presidente Assad deve ser cauteloso ao falar do futuro”, completou. Centenas de rebeldes sírios foram treinados em campos de treinamento na Jordânia para aprender a usar canhões anticarro e mísseis terra-ar Stinger.

Cabe lembrar que, no início deste mês, a União Europeia suspendeu o embargo ao fornecimento de equipamento não letal à Síria. Trata-se de meios de transporte blindados não militares, binóculos e equipamento de comunicação, entre outros. A decisão foi condenada pelo secretário-geral da ONU, que é sumariamente contra ajudar militarmente quaisquer uma das partes em conflito na Síria.

O chanceler irlandês, Eamon Gilmore, cujo país exerce a presidência rotativa da União Europeia, aproveitou a oportunidade para declarar que Bruxelas gostaria que a Rússia desempenhasse um papel mais  construtivo na busca de soluções para essa situação. O vice-chanceler russo, Guennádi Gatilov, afirmou nesta segunda-feira (25) que o governo russo irá insistir para que representantes russos e chineses participem da investigação da ONU sobre as supostas armas químicas usadas na Síria na semana passada.

De acordo com os dados da ONU, cerca de 70 mil pessoas foram mortas desde o início do conflito na Síria, em março de 2011.

 

Publicado originalmente pelo Vzgliad

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