Aliança com a Venezuela passa por teste

Foto: Flickr / www.ukberri.net

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Morte de Hugo Chávez coloca em dúvida as perspectivas dos projetos russos no país, seu maior parceiro no continente.

Apesar dos receios que geraram a morte do líder venezuelano Hugo Chávez de que alguns contratos sejam quebrados por um eventual novo governo, os russos creem que seus acordos com o país não irão sofrer alterações.

“Assinamos contratos com o governo. Portanto, o Estado assumiu compromissos conosco. Não tenho nenhuma preocupação a esse respeito. Esperamos que as relações entre os dois países continuem a ser cordiais e construtivas”, declarou o ministro russo da Indústria e Comércio, Denis Manturov, um dos três altos funcionários russos designados pelo presidente Vladímir Pútin para representar a Rússia no funeral do líder venezuelano.

A cooperação russo-venezuelana se desenvolve em quase todos os setores - de flores a aviões de combate. A Venezuela é o segundo maior país de destino para armamentos e equipamentos militares russos em seguida à Índia. No início de 2013, o valor total dos contratos fechados entre os países no setor foi de US$ 11 bilhões, segundo estimativas da estatal Rosoboronexport, responsável pela exportação de armas russas. 

A cooperação bilateral fora do setor militar é ainda mais intensa. A Venezuela foi o primeiro país da América Latina a abrir um banco conjunto com a Rússia, projeto que foi aprovado em 2009. Em meados de 2012, Chávez anunciou que os dividendos já chegavam a US$ 5 milhões. 

Os países também assinaram cinco acordos bilaterais relativos a projetos de produção de petróleo e gás em alto mar, além de joint ventures e compra de equipamentos de perfuração e plataformas offshore fabricados na Rússia. Segundo esses, a fábrica russa Uralmach construirá 50 perfuradoras para  a Venezuela. 

No setor de construção civil, um projeto prevê a a criação de infraestrutura e instalação de nove joint ventures para a produção de material de construção e edificação de conjuntos habitacionais em Caracas. Já as negociações iniciadas para a construção de usinas nucleares foram suspensas após o acidente de Fukushima, no Japão. 

Petróleo

A cooperação mais intensa no país, entretanto, é a mantida pelas empresas russas Rosneft e Russian Technologies. Seus presidentes, respectivamente, Ígor Sétchin e Serguêi Tchemezov, também foram enviados à Venezuela para prestar a última homenagem ao “comandante”. 

A Rosneft fechou muitos acordos na Venezuela e detém uma participação de 40% do Consórcio Nacional de Petróleo criado para explorar o campo Junin-6 no país. Já a Russian Technologies, holding conhecida também pela exportação de armas, fechou um acordo, em junho de 2012, para fabricação na Venezuela de ônibus de passageiros da Kamaz (da qual Russian Technologies é a principal acionista). 

O analista da empresa de investimento Rikom-Trust, Vladislav Jukóvski, avalia o valor total dos projetos de investimento russos na Venezuela em US$ 22 bilhões a US$ 25 bilhões. 

“É claro que, com a morte de Chávez, os planos do Kremlin podem ter alguns ajustes políticos e econômicos. As grandes empresas de gás e petróleo russas envolvidas nos projetos na Venezuela suspenderão os acordos de investimentos porque não há garantias de que Nicolas Maduro, companheiro de Chávez, esteja à frente do país”, diz Jukóvski. 

Liderança apertada

Chávez venceu as últimas eleições presidenciais com uma vantagem estreita, de cerca de 9% dos votos, relembra o especialista-chefe do setor de títulos de valores do banco Interkommerts Ivan Kibardin. “Se a oposição chegar ao poder, é muito provável que a política do país mude. Nesse caso, os contratos de compra de armas podem ser revistos e os investimentos russos no país podem enfrentar dificuldades”, diz Kibardin. 

Porém, a aliança no setor petrolífero não corre perigo, pelo menos pelos próximos 10 anos, de acordo com Kibardin. Para ele, caso Nicolas Maduro se mantenha no cargo de presidente, os negócios bilaterais continuarão a avançar. “Mas devemos levar em conta que não haverá outro Chávez. Mesmo se a Rússia mantiver suas posições no país, a nova liderança venezuelana vai moderar sua posição em relação aos EUA”, acredita. 

O diretor do Fundo Nacional de Segurança Energética, Konstantin Símonov, traça um cenário mais pessimista. “Chávez expulsou todas as empresas norte-americanas do país sem pagar um centavo sequer de indenização. Se a oposição vencer as eleições presidenciais, podemos dizer adeus a nosso dinheiro”, diz. Segundo ele, a Rússia manterá seus projetos na Venezuela apenas em dois casos: se algum companheiro de Chávez vencer as eleições ou se houver um golpe militar. Se a vitória for da oposição, as empresas russas seriam obrigadas a abandonar a Venezuela e ceder lugar aos norte-americanos.

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