Foto: PhotoXPress
Os EUA ameaçam aplicar sanções comerciais contra países suspeitos de ataques digitais contra instalações norte-americanas.
Chineses e norte-americanos já haviam se acusado mutuamente de agressões virtuais, mas o atual confronto no ciberespaço está adquirindo características de um conflito internacional.
O escândalo ocorreu após alguns veículos de comunicação importantes dos EUA, como “New York Times”, “Wall Street Journal”, Bloomberg, entre outros, terem anunciado, no final de janeiro, que suas redes de computadores foram invadidas.
Ao afirmar que o objetivo dos invasores era obter informações relacionadas à China, especificamente às fontes chinesas consultadas pela imprensa ocidental, os veículos acusaram a China de ciberataque.
A situação foi agravada ainda mais em meados de fevereiro quando a empresa norte-americana Mandiant divulgou um relatório afirmando que grupos de hackers próximos do exército chinês efetuam ataques maciços às redes dos EUA pelo menos desde 2006.
De acordo com especialistas, o principal objetivo dos hackers chineses é roubar segredos comerciais. As vítimas foram mais de 140 empresas ocidentais, cuja maioria se encontra nos EUA. Entre elas, empresas de TI, da indústria armamentista, de setores de transporte, finanças, química, energia e de outras indústrias.
Especialistas avaliam o prejuízo causado à economia norte-americana pelas ações de espionagem cibernética da China em dezenas de bilhões de dólares.
Logo após a revelação da imprensa norte-americana, foi relatado que a Casa Branca estava preparando um documento para aplicar sanções comerciais e econômicas contra países suspeitos de ataques digitais contra os EUA. O subsecretário de Estado, Robert Hormats, disse que os espiões digitais chineses são os "mais agressivos" e acrescentou que as redes norte-americanas são também atacadas por hackers da Rússia e da Índia.
Fontes
Especialistas consideram ser muito difícil identificar as fontes de ataques digitais e agressores reais. Nesse contexto, o famoso cientista político dos EUA Zbigniew Brzezinski declarou ser necessário adotar "novas regras de guerra".
Segundo ele, a regra antiga de não fazer aos outros aquilo que você não quer que façam a você deixou de valer na época de tecnologias digitais.
"Todo o sistema internacional está sob ameaça. Os Estados capazes de influenciar a estabilidade global e que têm grandes potencialidades tecnológicas devem elaborar regras para proibir a execução de atos ocultos de agressão", disse o cientista norte-americano.
A Rússia sugere há quase um ano e meio aprovar tais regulamentos sob os auspícios da ONU, insistindo em proibir a militarização do ciberespaço e a utilização do mesmo para torpedear os regimes e economias de outros países.
No entanto, os EUA e seus aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) rejeitam a proposta russa, encarando-a como tentativa de aumentar a censura e o controle sobre a internet por parte dos governos. Enquanto isso, Rússia levou à prática parte de suas iniciativas nesse domínio no âmbito da Otsc (Organização do Tratado de Segurança Coletiva) e da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês).
ONU e Osce (Organização de Cooperação e Segurança na Europa) continuam debatendo as propostas russas. No entanto, é pouco provável que, em um futuro próximo, as coisas cheguem ao ponto de um acordo juridicamente vinculativo ser celebrado: as divergências entre as maiores ciberpotências são demasiadamente grandes.
A hipótese mais provável é que os países se limitem a aprovar um acordo sobre medidas de confiança, troca de informações, notificação de incidentes e estabelecimento de linhas telefônicas abertas.
Segundo o “Kommersant” apurou, no ano passado, a Rússia se ofereceu para cooperar com a Otan no domínio da segurança cibernética e sugeriu à aliança analisar em conjunto as ameaças existentes, trocar experiência na proteção de infraestrutura crítica e avaliar conjuntamente a probabilidade de armas digitais caírem nas mãos de terroristas.
"Mas a Otan não estava pronta para isso", disse uma fonte diplomática russa familiarizada com as negociações.
"Essa vertente é muito nova para nós", disse ao veículo uma fonte da sede da Aliança.
"Como ainda não temos consenso dentro da aliança, não podemos celebrar acordos com atores externos", completou.
Outra fonte ouvida pelo “Kommersant” foi ainda mais categórica:
"Alguns Estados membros da Otan acreditam que, no ciberespaço, a Rússia representa uma ameaça maior do que a China. Enquanto não houver confiança entre nós, é pouco provável conseguirmos chegar a um acordo."
Publicado originalmente pelo Kommersant
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