Serguêi Dankvert Foto: Monique Lapa
O Brasil é hoje o maior fornecedor de carne para a Rússia. Foi difícil abrir o mercado interno para um fornecedor dessas dimensões?
Abrimos o mercado para a carne brasileira há oito anos. Os europeus declaravam que a carne brasileira tinha febre aftosa e outras doenças, mas agora também compram essa mesma carne. Sempre soubemos que o Brasil seria um país complicado, que a cooperação resultaria em muito trabalho para o Serviço Veterinário, mas sempre resolvemos tudo juntos: escolhemos uma série de fábricas, realizamos inspeções e abrimos o mercado russo para os brasileiros. A Rússia nunca proibiu a importação de carne brasileira.
Idade: 57
Formação: engenheiro agrícola e economista
Serguêi Dankvert nasceu em 1955, na região de Astrakhan, Rússia oriental, mas logo partiu para a capital, onde se formou no Instituto de Engenharia Agrícola de Moscou (1977) e em economia na Academia de Comércio Exterior (1986).
Trabalhou em diversos complexos agroindustriais até ser nomeado ministro da Agricultura (2000-2004). Em 2004, assumiu a chefia do Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor).
Em 2012, o volume de importações de carne brasileira caiu apenas 7%, em
comparação com o ano anterior. No ano passado, o Brasil exportou cerca de 430
mil toneladas de carne para a Rússia.
A maior parte das empresas brasileiras que produz para o mercado local e quer
começar a exportar para Rússia não utiliza a ractopamina, um estimulante de
crescimento proibido em nosso país. Agora estamos criando, junto com os
brasileiros, uma lista de produtores que garantam um produto livre de
ractopamina.
Isso significa que a questão com a
ractopamina ainda não está resolvida?
De qualquer maneira, realizamos a verificação de toda a carne proveniente do
exterior. Os produtores por vezes usam ractopamina na fase inicial, mas não no
final da vida de um animal. Nesse caso é muito difícil encontrar o estimulante.
Também queremos incentivar a concorrência. Se o Paraguai e o Uruguai não usarem
ractopamina, esses países terão vantagem. Não queremos criar condições
especiais para o Brasil.
As inspeções são realizadas em laboratórios ou nos frigoríficos?
Em ambos. Em primeiro lugar, precisamos de acesso aos abatedouros e frigoríficos para podermos analisar as carnes mais frescas.
Durante a visita oficial do premiê russo Dmítri Medvedev ao Brasil, o representante de uma empresa exportadora de carne à Rússia declarou que o governo brasileiro quer introduzir uma lei proibindo o uso da ractopamina.
Será um mérito da Rússia. A ractopamina não é proibida por lei no Brasil, mas a situação pode mudar logo. Quando encontramos uma substância proibida, emitimos um aviso. De 50 frigoríficos brasileiros, entre 30 e 40 já receberam esses avisos.
Isso significa que mais de 50% dos fornecedores de carne brasileira para a Rússia já quebraram suas promessas. Isso é normal, leva a melhorias na qualidade do produto. Agora, além do Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária, empresas privadas também realizam inspeções nos frigoríficos brasileiros.
Isso significa que as empresas brasileiras aceitaram as condições pré-estabelecidas pela Rússia de eliminar o uso de ractopamina?
Elas aceitaram nossas condições desde o início. Todos os nossos parceiros no Brasil, nos EUA e na Canadá prometeram cancelar o uso desse estimulante. Agora, nosso objetivo é verificar se eles cumprem as promessas. Realizamos inspeções nos países, fazemos análises, observamos o processo de produção. Ainda não encontramos discordâncias.
O volume de exportações brasileiras para a Rússia vai aumentar?
Isso depende de muitos fatores. Se o embargo à carne dos Estados Unidos for mantido, o volume de carne brasileira no mercado russo poderá aumentar em até 20%.
Como a entrada da Rússia na OMC afetará as relações entre os dois países?
As relações entre a Rússia e o Brasil sempre foram boas. Os americanos e europeus não permitem que os brasileiros entrem no seus mercados só por causa da grande concorrência que enfrentariam.
A entrada da carne brasileira nesses mercados poderia afetar significativamente os agricultores locais.
A Rússia, por sua vez, permite que entrem em seu mercado todos os produtores que sigam suas regras. Os produtores da América Latina fascinam a Rússia devido a diversos fatores que influenciam mudanças nos preços do produto.
Como o senhor poderia avaliar as perspetivas de fornecimento de grãos russos ao Brasil em 2013?
O Brasil sempre importou grãos do exterior. Tudo depende de vários fatores, da competitividade, da safra no Brasil e em outros países do mundo etc. A Rússia pode exportar trigo porque produz mais do que consome. Além disso, empresas russas começaram a vender massas ao Brasil, algo que nunca fizemos antes.
O objetivo então não é apenas exportar grãos, mas também produtos alimentícios?
Sim, com certeza. Mas nesse caso, para serem competitivas, as empresas devem organizar todo o processo de produção no Brasil e comprar apenas o trigo russo.
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: