Lavrov (à esq.) com o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil Elaraby. Foto: AP
Na última sexta-feira (20), Moscou recebeu a primeira sessão do Fórum de Cooperação Russo-Árabe.
O evento foi visto por especialistas como tentativa de Moscou de recuperar posição no Oriente Médio, perdida após a Primavera Árabe.
Empenhada em lançar um diálogo entre a oposição e o regime de Bashar Assad na Síria, a Rússia não abandona seus esforços para reativar o diálogo entre Israel e Palestina e convocar uma conferência sobre a desnuclearização do Oriente Médio.
No entanto, os especialistas estão céticos em relação às iniciativas de Moscou e não acreditam que elas lhe valham algo mais além de uma imagem positiva.
Moscou esperou três anos por uma reunião com representantes do mundo árabe. Na abertura do Fórum, o chanceler russo, Serguêi Lavrov, falou sobre os problemas-chave da região, dizendo que as iniciativas de Moscou foram rejeitadas pelo mundo árabe (como no caso da crise síria) ou foram inibidas por Israel (como no caso do processo israelense-palestino e da ideia de uma conferência sobre a criação de uma zona livre de armas nucleares na região).
Ao se dirigir à delegação árabe chefiada pelo secretário-geral da Liga Árabe, Moussa Nabil al-Arabi, Lavrov deixou claro que Moscou não ficará mais na defesa, rejeitando as acusações de cumplicidade com o regime de Assad, e passará à contraofensiva diplomática.
As condições para isso foram criadas pela situação de impasse vivida atualmente na Síria.
Segundo Moscou, nesse contexto, a ideia russa de um diálogo interno como alternativa à derrubada violenta do regime sírio com a ajuda de forças externas se torna cada vez mais relevante.
"Podemos constatar que a aposta na solução violenta do problema não funciona. A necessidade de um diálogo se torna cada vez clara", disse Lavrov.
A crise síria dominou o contato telefônico mantido há dias entre Lavrov e seu par norte-americano, John Kerry. Divididos nos últimos seis meses quanto ao problema sírio, Rússia e EUA se vêem obrigados a buscar pontos de convergência.
Segundo a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Victoria Nuland, em um futuro próximo, o secretário de Estado irá manter um encontro em Roma com os líderes da oposição síria no âmbito de sua viagem pela Europa e Oriente Médico iniciada no último domingo (24).
Ao ser perguntada se a Rússia terá sido convidada, a responsável lembrou: Moscou foi convidada para os encontros anteriores, mas recusou o convite.
"A Rússia deve decidir sozinha sobre esse assunto, mas eu não acho que sua posição mude", disse a diplomata norte-americana.
Face às iniciativas dos EUA, Moscou não para de tentar lançar um diálogo entre as autoridades sírias e a oposição. Na última terça-feira (19), o vice-chanceler russo, Gennadi Gatilov, disse que o "ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid Muallem, e o líder da Coalizão Nacional Síria da Oposição e das Forças Revolucionárias, Ahmad Muaz al-Khatib, podem se encontrar em Moscou para negociações, se desejarem".
A chegada do chanceler sírio a Moscou esperada para segunda-feira (25) foi anunciada por Lavrov às vésperas do fórum. Segundo ele, a Rússia pretende discutir com o governante sírio questões que contribuam para o início de um diálogo no país.
"Estamos realizando o mesmo trabalho com a oposição, nunca paramos de fazer contato nesse sentido com o governo, nem com aqueles que lhe fazem oposição", disse Lavrov.
No entanto, os especialistas estão céticos em relação aos esforços de Moscou no Oriente Médio.
"A existência de duas dezenas e meia de países árabes é do interesse do Ministério das Relações Exteriores da Rússia. Isso permite, por exemplo, à Rússia estar no grupo de países poderosos como copatrocinador do processo de paz no Oriente Médio, o que é uma grande honra para a Rússia, mas não tem nenhum sentido para o processo de paz palestino-israelense", disse o presidente do Instituto de Estudos sobre o Oriente Médio, Evguêni Satanovski.
De acordo com o especialista, o tom na região é dado pelos concorrentes geopolíticos de Moscou: as monarquias salafitas do Golfo Pérsico, a Turquia e os EUA.
Nesse contexto, quaisquer tentativas de Moscou de aumentar seu papel na região parecem "ilusórias".
"No entanto, tudo isso não impede que os participantes do jogo realizem manobras em torno da Rússia. É o que estamos assistindo hoje", disse Satanovski.
Publicado originalmente pelo Kommersant
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