Em visita de três dias ao Brasil, o primeiro-ministro russo, Dmítri Medvedev, encontrou-se com a presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer. Foto: Reuters
O chefe do governo russo chegou ao Brasil nesta
terça-feira (19) acompanhado por uma grande comitiva, composta por ministros de
Estado e empresários, e foi recebido pela presidente Dilma Rousseff no Palácio
do Planalto na manhã seguinte.
A presidente brasileira e o primeiro-ministro russo trataram de temas
relevantes no campo tecnológico, “tornando a interação Brasil-Rússia mais
efetiva”.
Na reunião da CAN, por sua vez, as autoridades firmaram entendimentos e assinaram sete acordos e declarações de intenções nas áreas de defesa, tecnologia, agricultura, energia, educação e esportes.
Após a assinatura dos atos, o vice-presidente Michel
Temer ressaltou a importância dos acordos, com destaque para a importação de
trigo russo pelo Brasil, um antigo pleito do presidente Vladimir Putin, e a
solução ao embargo russo à carne brasileira.
“As autoridades sanitárias entraram em entendimento com os correspondentes brasileiros
ao longo dos últimos dois anos e amenizaram a restrição que havia”, anunciou.
Medvedev qualificou o diálogo como “proveitoso”
e ressaltou a importância da ampliação da parceria comercial e tecnológica
entre as duas nações.
“A aliança tecnológica que podemos estabelecer ajudará nossas empresas, e
veremos vários projetos interessantes surgirem nessa e em outras áreas.
Esperamos contar com a experiência do Brasil e partilhar também nossa
experiência”, disse o premiê russo.
A visita oficial de três dias foi encerrada nesta quinta-feira (21), com um café da manhã para o empresariado brasileiro e russo.
Na sequência, Medvedev partiu para Cuba, onde
ficará até sábado (23) para discutir questões relacionadas a comércio e energia
com o presidente cubano, Raúl Castro.
Cooperação técnico-militar
Os dois governos assinaram um documento de intenções relativo à aquisição pelo Brasil
de baterias antiaéreas russas. Segundo o Itamaraty, o contrato prevê, a partir
de março, o avanço nas negociações para a aquisição de três sistemas de
artilharia Pantsir-S1.
O sistema antimíssil de médio alcance tem capacidade para atingir alvos entre 3 e 15 km de distância e vai aperfeiçoar a defesa do espaço aéreo do Brasil, que se prepara para receber eventos esportivos de grande porte e turistas do mundo todo a partir do próximo ano. O valor envolvido na negociação não foi divulgado.
Além da intenção de comprar o sistema antimíssil, o Brasil vai desenvolver a parceria com os russos para a produção de mísseis e a produção conjunta de novos instrumentos de defesa, por meio de uma joint venture envolvendo empresas brasileiras e russas.
A visita dos russos rendeu ainda a assinatura de
contrato para a instalação de uma central quântico-óptica e a inauguração de
uma estação de rastreamento do Glonass, o sistema russo de navegação global por
satélite concorrente do GPS.
O equipamento instalado na Universidade de Brasília (UnB) é o primeiro
localizado fora da Rússia, que pretende instalar estações semelhantes em países
na China, Estados Unidos e Canadá.
“A instalação da base na UnB e a transferência de tecnologia colocam o Brasil
em um importante patamar de conhecimento, beneficiando a pesquisa aeroespacial.
Além disso, será muito útil na prevenção de catástrofes e até na aviação
civil”, explica o cientista político Paulo Afonso Carvalho, professor da UnB.
Ele acredita que o sistema russo irá alcançar seu concorrente americano até
2020.
Esporte e ciências
Na esteira da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, brasileiros e russos também trocarão experiências em matéria de governança e organização de grandes eventos esportivos.
Os ministros dos Esportes dos dois países assinaram um Plano de Ação para estabelecer a cooperação na área esportiva, segundo o qual estão previstas visitas de representantes, além do intercâmbio de atletas e a realização de jogos amistosos e da troca de informações sobre temas esportivos.
Os ministros brasileiros e russos debateram também a entrada da Rússia no programa Ciência Sem Fronteiras. Temer frisou que a cooperação na área da educação abrirá as portas das universidades russas e sua alta tecnologia aos estudantes brasileiros.
Apesar dos possíveis benefícios, a adesão da
Rússia ao programa Ciência sem Fronteiras é vista com menos otimismo fora do governo.
O cientista político e professor da UnB, David Flaicher, acredita que a
barreira linguística será um entrave à interação científica entre estudantes
brasileiros e russos.
“A ideia é boa, mas não foi muito bem articulada. A não ser que haja universidades
russas com língua franca inglesa, o fato de brasileiros terem de aprender o
russo será uma grande barreira a esse intercâmbio”, avalia.
Diplomacia
No campo diplomático, Temer e Medvedev abordaram a cooperação entre os dois países no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O Brasil voltou a destacar a candidatura do embaixador Roberto Azevedo ao cargo de diretor-geral da OMC como uma alternativa importante de representação dos membros do Brics na organização, e pediu o apoio russo ao nome do diplomata brasileiro.
Apesar de demonstrar simpatia pela proposta, a Rússia não selou nenhum compromisso nesse sentido. Segundo a assessoria de comunicação do Itamaraty, o brasileiro está entre os oito candidatos mais cotados para assumir o cargo, cujo processo de escolha deve ser concluído até maio.
Os governos de ambos os países abordaram, por
fim, a cooperação técnica entre o Banco Nacional de Desenvolvimento e Comércio
Exterior (BNDES) e o Banco de Desenvolvimento e Atividade Econômica Exterior da
Rússia.
As duas partes reafirmaram o interesse em criar um banco de desenvolvimento nos
moldes do BNDES liderado pelos Brics para financiar projetos de investimentos e
incentivar operações de exportações entre os membros do bloco e do bloco com
países em desenvolvimento.
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