Conceito Atualizado de Política Externa da Federação Russa foi apresentado por Vladímir Pútin. Foto: президент.рф
A Rússia vai manter uma política ativa no cenário internacional, utilizando métodos modernos de diplomacia econômica e “soft power” (“poder suave”) e integrando-se aos fluxos de informação.
O anúncio foi feito pelo presidente da Rússia, Vladímir Pútin, em uma reunião do Conselho de Segurança no Kremlin, durante a apresentação do Conceito Atualizado de Política Externa do país, redigido de acordo com o decreto presidencial de 7 de maio de 2012.
"A Rússia vai continuar com uma política ativa e construtiva nos assuntos internacionais, reforçando seu papel e influência no mundo", disse Pútin.
Segundo ele, os "princípios básicos da política externa russa se mantêm inalterados" e continuam a ser a abertura, a previsibilidade, o pragmatismo, o alcance e a defesa dos interesses nacionais sem qualquer confronto.
A Rússia está interessada em ter um cenário internacional favorável ao alcance dos objetivos de seu desenvolvimento interno e à solução de seus problemas sociais e econômicos, adiantou Pútin. Nesse contexto, o presidente salientou em especial o papel central da Organização das Nações Unidas e o primado do Direito Internacional.
O Conceito Atualizado atende a todas as mudanças ocorridas no mundo nos últimos anos.
Entre elas, segundo Pútin, estão a "crise financeira e econômica mundial, que ainda não nos deixa quietos, a redistribuição do equilíbrio de poderes no mundo, um aumento acentuado da turbulência no Oriente Médio e no Norte da África e a crescente importância da dimensão cultural e civilizacional da concorrência no mundo".
"O Conceito enfatiza o uso de formas e métodos modernos de política externa, incluindo a diplomacia econômica, a aplicação dos chamados elementos do poder suave e a integração correta do país aos fluxos de informação globais", especificou Vladímir Pútin.
Comentário
Fiódor Lukianov, presidente do Conselho de Política Externa e de Defesa da Rússia
O Conceito Atualizado identifica de forma mais clara as prioridades da política externa russa, sobretudo em relação aos países das ex-repúblicas soviéticas.
Mais claro em relação à importância da cooperação com os países da CEI (Comunidade de Estados Independentes, que agrupa as ex-repúblicas soviéticas, menos os países bálticos e a Geórgia), ele destaca a necessidade de reforçar a União Euroasiática e os laços multidisciplinares no espaço pós-soviético.
Isso nos leva a crer que, na política externa russa, as relações do país com seus vizinhos mais próximos terão prioridade sobre os problemas globais e regionais.
Nas relações com o Ocidente, a Rússia dá mais ênfase ao aspecto pragmático e ao reforço de seu potencial econômico.
Apesar dos numerosos apelos feitos nos últimos dois ou três anos no sentido de o país se voltar para a região asiática, as relações com o Ocidente ocupam uma posição mais alta na lista das prioridades da política externa russa.
Na minha opinião, o Conceito Atualizado está pautado pela tese de que o mundo está cheio de ameaças, destacando em especial que os riscos presentes são muito difíceis ou impossíveis de prever.
Segundo o documento, nessas condições, o conceito de "identidade nacional" assume especial relevância.
O documento deixa bem claro que o mundo é um lugar para a interação e, possivelmente, para um confronto e competição entre diferentes identidades nacionais. Para mim, é isso que distingue o Conceito Atualizado de Política Externa Russa de sua versão anterior.
Durante muitos anos, o aspecto pragmático prevaleceu sobre o aspecto ideológico na política externa russa: o objetivo foi minimizar o conteúdo ideológico e maximizar atos práticos e promover interesses específicos do país no cenário internacional.
Hoje, o vetor está mudando. O Conceito Atualizado reconhece a importância do aspecto pragmático, afirmando, porém, que sem os fundamentos ideológicos não pode haver uma política externa eficaz.
Atualmente, a questão da formação de princípios específicos do conceito de identidade nacional está em aberto. O documento se limita a traçar seus contornos.
Merece atenção o conceito de “soft power”, que, na realidade, não passa da extensão de uma identidade nacional ao resto do mundo.
A atenção dispensada ao conceito leva a crer que a Rússia pretende formar seu conjunto de valores ideológicos e morais para oferecê-lo como alternativa no mercado de valores globais, sem descuidar dos aspectos econômicos de suas relações internacionais.
A diplomacia russa terá como missão continuar promovendo os interesses econômicos do país no cenário internacional. Num momento em que o risco e a probabilidade de uma grande guerra são pequenos, as contradições em outras áreas, especialmente a luta pela influência econômica, estão aumentando.
Publicado originalmente por Rossiyskaia Gazeta
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