No Brasil, Medvedev espera assinar "mapa" de cooperação bilateral

Foto: Divulgação

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Após desembarcar no país, primeiro-ministro russo se encontrou com Dilma Rousseff para discutir parcerias estratégicas e alianças tecnológicas entre os dois países.

A visita do primeiro-ministro russo Dmítri Medvedev ao Brasil, que desembarcou no país nesta quarta-feira (20) deve ser marcada pela elaboração de um "mapa" da cooperação bilateral entre os dois países.

Essa foi a sugestão do premiê russo, para quem as relações russo-brasileiras estão em um patamar bastante alto, ao aceitar o convite da presidente Dilma Rousseff para a reunião.

"Mas isso não significa que não tenhamos projetos que possam servir de motores do desenvolvimento de nossas relações nos próximos anos", disse Medvedev.

Nos últimos anos, as relações entre os dois países vêm se desenvolvendo de forma progressiva, com o intercâmbio comercial atingindo quase US$ 7 bilhões em 2012.

Mesmo assim, a cooperação bilateral poderia ser ainda mais intensa, uma vez que os dois países se declararam dispostos a desenvolver parcerias estratégicas e alianças tecnológicas, disse em entrevista à rede de televisão Rusia hoy o diretor do Instituto de Estudos sobre a América Latina, da Academia de Ciências da Rússia, Vladímir Davidov.

A atonia observada na cooperação econômica e comercial e na área de investimentos, e que está em evidente contraste com um crescimento sem precedentes do intercâmbio comercial entre Brasil, China e Índia, é o principal obstáculo à intensificação das trocas comercias entre  Brasil e Rússia.

A cooperação bilateral na área técnico-militar também deixa a desejar, mas pode ganhar novo alento com a assinatura de um contrato para o fornecimento ao Brasil de sistemas de defesa antiaérea no valor de US$ 1 bilhão.

De acordo com o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Brasil, general José Carlos de Nardi, as Forças Armadas brasileiras estão interessadas não só em comprar três baterias Pansir-S1 (de 12 a 18 veículos) e duas baterias do sistema Igla, mas também em receber a tecnologia de sua produção e em construir, no Brasil, uma fábrica para sua montagem no futuro.

Segundo Anatoli Isaikin, diretor-geral da empresa Rosoboronexport, a única exportadora autorizada de armas do país, as negociações serão realizadas durante a viagem de Medvedev ao Brasil.

Caças

Outro assunto que será discutido durante a reunião é a situação da compra de aviões de caça russo Su-35. Segundo uma fonte próxima das negociações ouvida pela Rusia hoy, em meados dos anos 2000, o Brasil abriu uma licitação para a compra de 36 caças para substituir seus F-103 Mirage III desatualizados, retirando, contudo, da lista dos licitantes a Corporação de Aeronáutica russa Sukhoi.

Com a chegada de Dilma à presidência, a Corporação Sukhoi recebeu nova chance de concorrer à licitação e irá brigar pelo contrato avaliado entre € 4 e € 5 bilhões com a francesa Dassault, que oferece o caça Rafale, a americana Boeing, que oferece o F/A-18E/F Super Horne, e a sueca Saab, com o JAS 39 Gripen.

Durante visita a Moscou em dezembro passado, a presidente brasileira deixou claro que ainda não havia nada decidido sobre o contrato.

"Somos muito cuidadosos com nossas despesas. A decisão sobre esse contrato pode demorar mais tempo. Tudo vai depender da rapidez com que conseguirmos estabilizar nosso orçamento", disse Dilma, sem especificar exatamente quando o Brasil iria escolher o vencedor da licitação.

Por outro lado, o Brasil também quer vender à Rússia seus aviões. Segundo o vice-presidente da fabricante de aeronaves Embraer, Jackson Medeiros de Farias Schneider, a empresa conseguiu o certificado para a venda na Rússia de seu jato regional Embraer-190, que certamente fará concorrência a seu par russo Sukhoi Superjet 100 (SSJ). A intenção da Embraer é vender no país pelo menos 150 aeronaves até 2020.

Vendas do Brasil

Hoje, no entanto, 95% das exportações brasileiras para a Rússia são de açúcar, carne, café, tabaco e soja. Por isso, a próxima viagem de Medvedev ao Brasil desperta grandes esperanças e expectativas na sociedade brasileira.

Há quase dois anos que o governo russo mantém embargo às importações de carne proveniente do Brasil por causa do uso de hormônios de crescimento na alimentação animal pelos produtores locais. Ainda assim, a Rússia continua a ser o maior importador da carne bovina e o segundo maior importador da carne suína brasileira.  

No final de 2012, a vigilância veterinária russa fechou o mercado nacional à carne de animais que receberam adição de ractopamina. Para atender às exigências do lado russo, o Brasil impôs uma proibição temporária ao uso da substância na alimentação de animais.

A medida ficará em vigor até o Brasil criar um sistema de produção separado para distinguir as carnes destinadas ao consumo interno e às exportações para os países que não se opõem ao uso de ractopamina das carnes destinadas aos países onde esse aditivo é proibido.

O caso confirma a tese de que os dois países devem abandonar o comércio de commodities, em que barreiras aduaneiras e fitossanitárias continuam grandes, a favor de uma cooperação industrial, científica e tecnológica.

De acordo com o ministro do Desenvolvimento Econômico da Rússia, Andrêi Beloussov, ouvido pela Rusia hoy, é a hora de os dois países iniciarem a criação de joint-ventures e a cooperação em áreas tecnologicamente sofisticadas, uma vez que têm o que oferecer um ao outro e possuem um quadro jurídico-institucional necessário.

"Investidores russos se dispõe a implantar no Brasil projetos no valor de US$ 200 milhões a mais de US$ 1 bilhão", disse Belousov.

Segundo o governante, os investidores russos estão interessados em cooperar na construção de usinas hidrelétricas e fotovoltaicas, produção de hidrocarbonetos, assim como nas áreas de informática, biotecnologia e produtos farmacêuticos.

Para tanto, porém, é preciso que ambos os lados ponham em ação os mecanismos governamentais de apoio e incentivos. 

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