Foto: Ricardo Marquina Montañana.
O pessimismo que caracterizou a Cúpula de Los Cabos, no México, no ano passado, parece continuar. Frases como “cometemos erros no passado” foram as mais repetidas pelos responsáveis dos Bancos Centrais dos diversos países que participaram das sessões da última sexta-feira (15) no hotel Ritz Carlton de Moscou.
As propostas gerais sobre como solucionar o problema do atual sistema financeiro global, que está há mais de cinco anos imerso em uma profunda crise, não foram homogêneas. Além disso, sobraram mais perguntas do que respostas.
Os três pilares nos quais se baseia a atual presidência russa do G20 são: crescimento por meio de emprego; investimento, confiança e transparência; e a regulamentação eficaz do sistema financeiro e monetário.
As ideias sugeridas por Lael Brainard, do Departamento de Tesouro dos EUA, giraram em torno de reformas estruturais e controle exaustivo do déficit público. Tudo isso sem perder de vista uma regulação efetiva da política fiscal.
A visão mais otimista foi aparentemente proposta pelo lado russo, que exortou a união de forças para solucionar a crise. “É hora de apostar em medidas de alcance global e abandonar as resoluções exclusivamente domésticas”, declarou o ministro das Finanças russo, Anton Siluanov.
Um dos objetivos dessa conferência foi justamente transparência e luta contra a evasão fiscal. Empresas como Apple e Starbucks, por exemplo, realizam manobras legais em todos os países que permite a evasão de impostos.
Guerra cambial
Um dos temas mais esperados dessa reunião foi a “guerra cambial”, como muitos rotularam o movimento dos EUA e Japão de desvalorizar suas moedas para incentivar as exportações em um momento especialmente difícil para a economia mundial.
A jogada
suja foi denunciada por vários países, embora negada pela diretora-geral do
Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, durante a reuniões de
oficiais de alto patamar.
O presidente do Banco Internacional de Investimentos, Nikolai Kosov, salientou
a importância de os meios de comunicação internacionais fazerem o possível para
“não ressaltar apenas os elementos negativo da Rússia, já que essa postura
destrói a confiança e repele os investimentos”.
Kosov afirmou que o centro financeiro de Moscou se encontra entre os três melhores mercados financeiros dos países emergentes em termos de nível técnico.
Por último, ressaltou a necessidade de incluir no sistema, para melhorar seus padrões de vida, países tradicionalmente excluídos, tais como Cuba, Vietnã, Coreia do Norte e Mongólia. Isso corresponderia à área de inclusão do chamado “altermundismo”, dentro dos objetivos da presidência russa de lutar contra a desigualdade mundial.
Dose de realismo
Ersin Özince, diretor do banco Türkiye Is Bankasi, destacou que “devemos ser cautelosos porque a realidade é que nenhum mercado está seguro”, em referência à volatilidade intrínseca que permeia todos os mercados, já que o risco é um elemento que não pode ser eliminado do sistema financeiro.
Também se falou que cerca de 30% do PIB de alguns países são destinados a financiar os mercados. O secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Pier Carlo Padoan, também evidenciou a “morte dos mercado”, tal e qual observado antes da eclosão da crise, como um novo fenômeno econômico internacional e alerta para o risco de consumo insustentável.
“A dívida tem algumas implicações, mas há elementos contextuais que devemos considerar”, concluiu.
Evolução econômica
O atual ministro russo das Finanças, Anton Siluanov, falou sobre o potencial da Rússia em termos tecnológicos e no campo de inovação e avanço científico-técnico.
A discussão em torno da posição de Moscou como centro financeiro internacional resultou em propostas concretas de melhorar a rede de transporte para resolver um dos problemas que mais preocupam as autoridades locais da cidade, o tráfego de carros. A Rússia falou sobre o tema durante a apresentação sobre sustentabilidade econômica e sua relação direta com o meio ambiente. “Temos muito trabalho a fazer para mudar o comportamento das pessoas nessa área”, ressaltou Siluanov, em referência fomento do uso de transporte público na capital russa.
Nesse sentido, propostas como as de Skôlkovo, centro de inovação tecnológica apelidado de “Vale do Silício russo”, fazem com que o país possa se situar no futuro como referência tecnológica, em par igualdades aos EUA, Finlândia ou Coreia do Sul.
Paralelamente, o ex-ministro das Finanças da Rússia, Aleksêi Kudrin, fez uma análise sobre o passado econômico recente do país para demonstrar como se pode sair de situações de crises graves como a que ocorreu na jovem Federação Russa nos anos 1990. A recuperação da economia russa durante os anos 2000 pode ser caracterizada como quase milagrosa, dada à situação anterior.
A Bolsa de
Moscou acabou a sexta-feira passada (15) com um índice de 4 pontos positivos.
As reformas do governo, sem dúvidas, melhoraram as expectativas do mercado.
As autoridades mencionaram o grande momento pelo qual passa a economia russa ao
enfatizar que o déficit público é basicamente 0, e o superávit, certamente invejável.
“Temos uma reserva nacional considerável, permitindo um bom seguro contra a
crise”, declararam.
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