Casa Branca irá propor à Rússia nova redução dos arsenais nucleares

Foto: AFP / EAST NEWS

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Segundo os EUA, novas medidas permitirão aos dois países economizar até US$ 8 bilhões anualmente.

O governo de Washington pretende propor à Rússia uma nova redução dos arsenais nucleares dos dois países. O tema das novas reduções dominou a visita do subsecretário de Estado dos EUA, Rose Gottemoeller, a Moscou na última terça-feira (12). A Casa Branca acredita que os dois países podem reduzir pela metade seus arsenais nucleares sem prejuízo à segurança nacional.

A disponibilidade dos EUA para debater novas reduções dos arsenais nucleares havia sido anunciada pelo vice-presidente dos EUA, Joe Biden, na reunião com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguêi Lavrov, durante a Conferência Internacional de Segurança em Munique, no início deste mês.

De acordo com fontes da Casa Branca, a proposta norte-americana foi acolhida com frieza pela Rússia. “Há receio de que a medida cause indignação dos militares e dos executivos da indústria armamentista, pois o governo russo lhes prometeu dinheiro para a construção do míssil balístico pesado SS-27”, disse um funcionário não identificado.

A proposta de novas reduções se baseia em um relatório redigido em conjunto pelo Departamento de Estado, Pentágono, Conselho de Segurança Nacional, Comitê dos Chefes dos Estados-Maiores das Forças Armadas, os serviços secretos e o Comando Estratégico dos EUA. O documento define uma nova lista de alvos para as forças estratégicas dos EUA, da qual foram retirados o Iraque e a Síria.

No entanto, ainda permanecem na lista alvos como a Rússia, China, Coreia do Norte e Irã. A recente doutrina militar norte-americana estabelece que o objetivo principal de um primeiro ataque é desestruturar a liderança do país e causar um “dano irreparável” a suas Forças Armadas. Porém, os especialistas aconselham a mudar o objetivo e a reorientar os mísseis para instalações econômicas e militares importantes.

Segundo eles, a quantidade de alvos militares está em constante declínio. A Federação de Cientistas Americanos (FAS, na sigla em inglês) declarou que, há dez anos, os mísseis norte-americanos tinham na mira 660 silos de mísseis na Rússia. Hoje em dia, o número de alvos potenciais é duas vezes menor e pode diminuir ainda mais em um futuro próximo. Os analistas acreditam que, nos próximos anos, o número de mísseis balísticos russos posicionados dificilmente ultrapassará 230.

A administração de Obama pensa que, diante dessas circunstâncias, um arsenal de 1.000 a 1.100 ogivas seria suficiente para a dissuasão nuclear. Atualmente, o tratado START deixa em poder da Rússia e dos EUA arsenais muito maiores, permitindo a cada país o posicionamento de não mais de 1.550 ogivas até 2018.

Além disso, o sistema de cálculos usado para os fins do tratado parte da tese de que um bombardeiro estratégico pode transportar apenas um míssil nuclear enquanto, na realidade, o número de mísseis a bordo de uma aeronave pode chegar a 20. Assim, só esse item permite a cada país aumentar o número de ogivas para 1.900.

O tratado também não limita o número de munições de médio e curto alcance nem o de ogivas armazenadas. Segundo a FAS, os EUA possuem 2.700 munições desse tipo e a Rússia, 2.680.

O chefe do Comando de Ataque Global dos EUA, James Kovalski, exortou a reduzir o número de ogivas posicionadas para um nível abaixo do limite de 1.500 estabelecido pelo acordo.

As estimativas dos militares mostram que com tal redução o arsenal nuclear norte-americano pode diminuir quase pela metade e proporcionar ganhos para a economia do país. Se os EUA se recusarem a construir dois dos 12 submarinos da classe Trident, por exemplo, irão economizar US$ 16 bilhões e, se reduzirem uma das três unidades de mísseis estratégicos baseados em terra, terão até US$ 360 milhões de economia por ano.

Embora nem todos os detalhes do relatório encaminhado para apreciação do presidente norte-americano tenham sido divulgados, sabe-se que a nova estratégia já foi apoiada pelos titulares dos ministérios envolvidos.  O ex-senador e secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, confirmou ter assinado o relatório encaminhado ao presidente.

De acordo com fontes da administração norte-americana, as conclusões foram acolhidas favoravelmente pelo presidente Obama. O plano de novas reduções dos arsenais nucleares pode ser divulgado já nas próximas semanas, mas antes disso, Washington gostaria de saber a posição de Moscou.

Entrevistados pelo jornal russo “Kommersant” durante visita à Rússia, o subsecretário de Estado, Rose Gottemoeller, e o conselheiro presidencial para a segurança nacional, Thomas Donilon, pretendem propor a Moscou iniciar negociações sobre uma nova redução dos arsenais nucleares.

Os EUA acreditam que, se as partes chegassem a consenso, elas poderiam consagrar os entendimentos alcançados em um acordo anexo ao tratado START ou, pelo menos, assinar um protocolo de intenções.

“Se Moscou se recusar a considerar a proposta americana, a Casa Branca pode tentar conseguir o apoio de dois terços dos senadores e começar a reduzir seus arsenais unilateralmente”, declarou uma fonte próxima da administração norte-americana.


Publicado originalmente pelo Kommersant

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