É o terceiro acordo importante com os EUA que a Rússia abandona nos últimos seis meses. Foto: Kommersant
No final de janeiro, Moscou anunciou sua retirada do acordo de 2002 com os EUA sobre a cooperação no combate a drogas ilícitas, tráfico de pessoas, corrupção e terrorismo. Segundo fontes da diplomacia russa, a proposta não corresponde à realidade atual e atritos recentes entre Moscou e Washington, além de a Rússia não estar satisfeita com seu status de recipiente em tais relações.
O acordo estabelecia que as partes iriam desenvolver e apoiar projetos contra o tráfico internacional de drogas e outras atividades criminosas realizadas em território russo. O financiamento integral dos projetos cabia aos Estados Unidos.
Nos dois primeiros anos de vigência do acordo, Washington deveria ter disponibilizado a Moscou US$ 4,2 milhões para a implantação de projetos diversos, como combate à pornografia infantil na internet, ao tráfico de pessoas e à lavagem de dinheiro, entre outros, mas os EUA disponibilizaram apenas parcela da quantia estimada, segundo uma fonte do governo russo.
“Há muito tempo que não precisamos das doações norte-americanas. Mais do que isso, a Rússia também começou a patrocinar projetos semelhantes em outros países, tanto pelo escritório da ONU sobre Drogas e Crime quanto em planos bilaterais”, disse.
Os EUA pretendem continuar a cooperação com a Rússia em matéria penal. “Por exemplo, no que diz respeito ao combate a drogas, ainda temos em vigor o acordo de assistência jurídica mútua. Mantemos também cooperação no âmbito da Agência de Controle de Drogas Ilícitas, disse a porta-voz do departamento de Estado dos EUA, Victoria Nuland. Ela também disse que as autoridades norte-americanas receberam a notícia com frustração. “Lamentamos essa decisão de Moscou”, arrematou Nuland.
Recomeço diplomático
Algumas fontes diplomáticas apontam que a decisão foi motivada pela insatisfação de Moscou com seu status de recipiente nas relações com os EUA.
“Mas essa iniciativa não tem ligação alguma com a lei Magnitski nem com a retirada dos EUA do grupo de trabalho sobre a sociedade civil da Comissão Presidencial bilateral”, completou a fonte ao jornal russo “Kommersant”.
“A questão havia sido discutida com a parte norte-americana muito antes de as relações bilaterais começarem a se agravar”, afirmou o vice-chanceler russo, Serguêi Riabkov, em entrevista à agência Interfax.
De qualquer modo, a retirada da Rússia aconteceu paralelamente ao fim de outros dois acordos bilaterais por iniciativa de Moscou. No final de 2012, o governo russo insistiu para que a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), o maior patrocinador estrangeiro das organizações não governamentais russas, encerrasse suas atividades no país.
As autoridades russas também se recusaram a renovar o programa Nunn-Lugar, aprovado no início dos anos 1990, para disponibilizar recursos financeiros à Rússia usados no desmantelamento de seus arsenais nucleares, em conformidade com os tratados de desarmamento entre os dois países.
A justificativa sugerida pela fonte do governo russo é que a Rússia deu fim aos três acordos acima citados porque não precisa mais de ajuda financeira dos EUA.
O diretor do Centro de Estudos Políticos da Rússia, Vladímir Orlov, acredita que o acordo de cooperação em matéria penal é o último ajuste bilateral abandonado pela Rússia. “Esse é um dos últimos retoques planejados por Moscou há um ano e meio para o terceiro mandato presidencial de Vladímir Pútin”, esclarece o especialista.
Segundo ele, a ideia era retirar das relações com os EUA tudo o que causava a sensação de desconforto e recordações da política em relação à Rússia praticada pelos EUA nos anos 1990. “Embora esses acordos tivessem muita coisa boa, Moscou quis se desligar da herança do passado e começar a construir as relações com os EUA a partir de uma folha em branco e em condições de igualdade”, salienta Orlov.
Após o anúncio, o Serviço Federal de Controle de Drogas da Rússia se adiantou em anunciar que Moscou e Washington irão fazer um novo acordo que reflita as atuais atividades antidrogas e novas abordagens no combate ao tráfico transnacional de drogas.
Orlov acredita que Moscou e Washington terão a chance de começar tudo do zero. “A direção do departamento de Estado foi assumida por John Kerry e a pasta da Defesa será provavelmente entregue a Chuck Hagel. Ambos são pessoas sensatas e sem preconceitos em relação à Rússia” completa o especialista.
No entanto, a largada para a construção de novas relações russo-norte-americanas só será dada após a visita do presidente Barack Obama a Moscou, esperada para o primeiro semestre deste ano.
Com informações do jornal Kommersant e da agência RIA
Nóvosti
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