Uma data para não comemorar

Foto: AP

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Conflito armado na Síria completa dois anos em março de 2013, deixando cada vez mais clara a necessidade de Ocidente e Rússia conjugarem esforços.

Depois de um período de calmaria, a Síria volta às primeiras páginas da imprensa internacional. Não porque a situação no país apresenta sinais de mudança, mas pelo fato de os principais atores internacionais lançarem uma campanha de informação a respeito do próximo segundo aniversário do conflito na Síria.

 “Será que [a intervenção armada – nota da redação] poderia piorar ainda mais a violência ou provocar o uso de armas químicas? E como equilibrar os dezenas de milhares que já foram mortos na Síria versus os dezenas de milhares que estão atualmente morrendo no Congo?”, questionou

o presidente dos EUA, Barack Obama, em entrevista à revista norte-americana “The New Republic”.

Segundo Obama, a Síria é um exemplo clássico para avaliar uma intervenção norte-americana, pois é preciso certeza de que essa intervenção não só contribuiria para a segurança dos EUA, mas também seria correta do ponto de vista do povo sírio e dos países vizinhos. “Por exemplo, Israel seria gravemente afetado com isso. Portanto, às vezes não devemos atirar a esmo”, completou o presidente norte-americano em uma entrevista à “CBS”.

Ainda assim, a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Victoria Nuland, afirmou na última segunda-feira (28) que há uma série de medidas a serem tomadas pela Rússia. “Esse país poderia parar de fornecer ao regime de Assad armas, especialmente helicópteros de apoio de fogo, fechar as contas de Assad em bancos russos, apoiar a passagem política do poder no país e colaborar conosco na questão de quem será o próximo presidente sírio e quem poderá preservar a unidade do país e colocá-lo no caminho da democracia”, disse Nuland.

A afirmação anterior é justa, mas somente em parte. Em primeiro lugar, o cientista político do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, Boris Dolgov, justifica que não é correto dizer que a Síria passa por uma  guerra civil. O exército sírio não enfrenta o povo armado, mas grupos de pessoas armadas e bem treinadas que são  financiados e equipados por fontes exteriores. “O encerramento das fronteiras sírias para o tráfico de armas e o contrabando poderia resolver essa questão em duas semanas, porque a oposição não teria mais fontes de dinheiro e armas”, afirmou o presidente sírio Bashar Assad em uma entrevista recente ao jornal libanês “Al-Akhbar”.

Além disso, as acusações lançadas por Nuland contra a Rússia têm conotação política. Moscou disse repetidamente que Assad não está entre suas figuras políticas favoritas, posição reiterada pelo próprio ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguêi Lavrov, na última segunda-feira (28).

De acordo com Lavrov, todas as ações da Rússia têm por objetivo contribuir para a implantação do acordo de Genebra sobre a formação de um órgão de transição e mostram o desejo de estabilizar a situação, criando condições para que os sírios determinem por conta própria seu governo e o destino de seu povo e de seu país. “É nisso, e não no apoio a um personagem específica dessa tragédia, que reside nossa posição”, finalizou o chanceler russo.

O problema está no fato de os dois países assumirem diferentes posições no conflito desde o início. Enquanto a Rússia, assim como a China, é contra a mudança do regime sob pressão externa, seja militar, política ou econômica, os EUA tentam convencer Moscou a concordar com o afastamento de Bashar Assad do poder. Porém, apesar de uma disputa com Washington sobre a questão dos direitos humanos na Rússia, o Kremlin se declara disposto a cooperar em pé de igualdade com os EUA em diversas questões.

Em entrevista recente à rede de televisão “CNN” em Davos, o primeiro-ministro russo, Dmítri Medvedev, repetiu que o futuro da Síria é tema de diálogo entre os dois países e que suas respectivas posições não são irreconciliáveis.

Embora Medvedev tenha reafirmado a necessidade de deixar o povo sírio decidir o futuro de Bashar Assad, o depoimento estava de acordo com a declaração do patriarca da política externa americana, Henry Kissinger, no mesmo evento. “Se o mundo exterior fizer uma intervenção militar, ficará no meio de um vasto conflito étnico e, se isso não acontecer, ocorrerá uma tragédia humanitária”, arrematou o político.

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