Barão Wrangel, o último inimigo real dos bolcheviques

 Piotr Wrangel, 1920.

Piotr Wrangel, 1920.

Legion Media
Em 1920, o comandante do Exército Russo, Piotr Wrangel, foi o único líder do movimento contrarrevolucionário branco que as autoridades soviéticas ainda temiam. Todos os outros altos adversários dos bolcheviques já haviam sido mortos, desistido de lutar ou deixado o país.

“Nossos próximos caminhos estão cheios de incerteza... Que Deus conceda a todos a força e a inteligência para superar e sobreviver aos tempos difíceis da Rússia”, disse o líder do movimento branco antissoviético na Guerra Civil Russa, o barão Piotr Wrangel (também grafado como Pyotr Wrangel em português) às suas tropas em novembro de 1920.

Piotr Wrangel descendo as escadas do cais Grafskaia, em Sevastopol, pela última vez, novembro de 1920.

O exército russo que ele liderou sofreu uma grande derrota por parte dos bolcheviques e estava sendo embarcado às pressas em navios para deixar a Rússia para sempre. Seu comandante, o último grande inimigo do governo soviético naquele conflito, foi evacuado junto com os seus subordinados.

Piotr Nikoláevitch Wrangel nasceu em 1878 em uma antiga família dinamarquesa que havia se mudado para a Rússia ainda no século 18. Muitos representantes dessa família eram famosos militares no serviço russo. O barão estudou engenharia no Instituto de Mineração, mas depois optou pela carreira militar.

Divisão Transbaikal sob o comando do Major-General P.K. Rennenkampf e 2º Regimento Cossaco de Argun; Wrangel é o 4º à esquerda na 1ª fileira

Durante a Guerra Russo-Japonesa, Wrangel ascendeu ao posto de comandante e ganhou várias medalhas por sua bravura em batalha. “Durante a Guerra da Manchúria, Wrangel sentiu instintivamente que a luta era o seu destino e que o trabalho de combate era a sua vocação”, escreveu o general Pável Chatilov, que serviu com o barão.

Ataque de Piotr Wrangel com o esquadrão do regimento de cavalaria para a bateria alemã em 6 de agosto de 1914, por A. Cheloumov.

O barão se tornou um dos primeiros militares que receberam medalhas no Exército Russo durante a Primeira Guerra Mundial. Em 19 de agosto de 1914, perto da vila de Kaushen, ele, à frente de um esquadrão, capturou a bateria de artilharia alemã inteira.

“[Após essa façanha] ele continuou a comandar brilhantemente unidades de cavalaria até uma divisão”, escreveu o grão-duque Nicolau Romanov sobre Wrangel.

Piotr Wrangel e sua esposa.

“Este é o fim, é anarquia”, escreveu Wrangel logo após o colapso da monarquia e a Revolução de Fevereiro de 1917. Ele defendia a supressão da revolução pela força militar, porém não tinha autoridade e capacidade para enfrentar os bolcheviques.

Após a Revolução de Outubro dos bolcheviques, o barão se distanciou temporariamente da política e foi para a cidade de Ialta, onde morava sua família. Lá, foi preso, mas por um curto período de tempo.

Forças Armadas do Sul da Rússia sob o comando de Deníkin. Trem pesado blindado Ivan Kalita.

Tendo escapado milagrosamente da morte pelos bolcheviques, Wrangel decidiu se juntar à luta contra o poder soviético. Em setembro de 1918, ele se juntou às fileiras do Exército Voluntário Branco do general Anton Deníkin, que mais tarde se tornaria as Forças Armadas do Sul da Rússia.

Como oficial experiente, o barão recebeu uma divisão de cavalaria e depois um corpo sob seu comando. Depois de derrotar com sucesso as forças vermelhas na região de Kuban e no norte do Cáucaso, Wrangel se tornou o comandante do Exército Voluntário Caucasiano.

General Piotr Wrangel deixando a Catedral Alexander Nevski após cerimônia. Tsarítsin, 15 de outubro de 1919.

Em 30 de junho de 1919, as tropas de Wrangel tomaram Tsarítsin (uma das maiores cidades russas, que também foi chamada de Stalingrado e, atualmente, Volgogrado). Nessa cidade, em 3 de julho, Deníkin assinou a “Diretiva de Moscou”, um plano da ofensiva decisiva contra a capital russa controlada pelos comunistas.

Barão criticou o plano pela dispersão excessiva de forças e falta de manobra, chamando-o de “uma sentença de morte para os exércitos do Sul da Rússia”. No entanto, foi forçado a concordar e participar da ofensiva.

Comandante do Exército Russo, general Wrangel, conferindo o relatório do piloto do 5º destacamento de aviação. À sua frente vê-se um piloto em shorts tropicais britânicos.

As Forças Armadas do Sul da Rússia foram derrotadas e recuaram para a Península da Crimeia. Deníkin renunciou ao cargo de comandante-chefe e, em abril de 1920, o barão Wrangel se tornou comandante-chefe. Por sua iniciativa, as Forças Armadas do Sul foram renomeadas como Exército Russo.

A Crimeia se tornou o último reduto do movimento branco no sul do país. Wrangel conseguiu reorganizar as tropas e assumiu a política interna, tentando fazer da península um exemplo para o resto da Rússia.

 Governo do Sul da Rússia. Crimeia, Sevastopol, 1920.

O barão realizou a reforma agrária. A maior parte das terras dos proprietários foi transferida para o campesinato em troca de um resgate pago ao Estado, que teve que acertar contas com os proprietários das terras. Estas medidas, no entanto, não receberam apoio dos camponeses.

Além disso, Wrangel abandonou a ideia principal do movimento Branco de “uma Rússia unida e indivisível” e tentou estabelecer cooperação militar com diversos centros políticos que surgiram no território do Império destruído.

Líderes militares Semion Budiônni, Mikhail Frunze e Kliment Vorochilov (da esquerda para a direita) desenvolvendo plano para derrotar as tropas de Piotr Wrangel.

Durante muito tempo, a Crimeia de Wrangel resistiu devido ao fato de que o Exército Vermelho estava travando uma guerra difícil contra a Polônia. No início de junho de 1920, as tropas brancas conseguiram até invadir a região norte do Mar Negro e assumir o controle de vários territórios.

No outono do mesmo ano, a fase ativa da guerra soviético-polonesa terminou e os bolcheviques lançaram todas as suas forças contra Wrangel. Em novembro de 1920, o Exército Vermelho rompeu as linhas defensivas brancas no istmo de Perekop e invadiu a península. A Crimeia branca estava condenada.

Exército de Wrangel evacuando da Crimeia.

Em apenas três dias, o Exército Russo, junto com o seu comandante e civis, fugiu dos bolcheviques. Cerca de 146 mil pessoas foram evacuadas da península com o apoio da frota da Entente. Assim, o regime soviético na Rússia acabou com o seu último oponente perigoso na Guerra Civil.

No exílio, Piotr Wrangel criou uma grande organização antissoviética chamada União Militar Russa, que, em meados da década de 1920, reunia até 100 mil ex-membros do Exercito Branco. Eles iriam participar da futura guerra da Entente contra os bolcheviques. Porém, o barão não estava destinado a participar das novas batalhas contra os comunistas. Ele teria morrido repentinamente em 1928 de tuberculose — mas, segundo uma das versões, foram os serviços secretos soviéticos que o mataram.

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