A parte noroeste da América do Norte era um espaço em branco no mapa mundial até a primeira metade do século 18, quando foi descoberta e explorada pelos russos. Foram os exploradores do Império Russo que começaram a desenvolver essa região inóspita.
Inicialmente, o Alasca e as Ilhas Aleutas atraíram os europeus como uma rica fonte de peles valiosas, o “ouro macio” da época.
Caça a lontras-marinhas
A região tinha abundância e variedade de criaturas vivas, mas o verdadeiro tesouro para os caçadores russos eram as lontras-marinhas, chamadas de “castores marinhos” — animais cuja pelagem têm uma densidade excepcional.
No início, os russos não estabeleceram bases permanentes nas Ilhas Aleutas ou na costa do Alasca. Eles construíram moradias temporárias ou moravam junto com os aborígenes, os aleutas e alutiiq, que eram excelentes caçadores de lontras-marinhas e ajudavam os russos. Mas nem sempre os exploradores e caçadores conseguiam estabelecer boas relações com a população local. Em 1763, eclodiu uma revolta no Monte Lísia, no arquipélago das Aleutas.
Durante os combates, que se arrastaram por anos, os russos perderam quatro navios e mais de 100 caçadores; entre os aleútas, mais de milhares morreram.
O primeiro assentamento comercial russo permanente na futura América Russa apareceu na ilha de Unalaska em 1772 e, a partir de então, o número de vilarejos semelhantes começou a crescer rapidamente. A região se transformou em uma arena de luta e rivalidade entre dezenas de empresas comerciais russas que competiam na caça de peles.
Companhia Russo-Americana
O governo russo não interferia nos assuntos dos pescadores e caçadores privados na América. Mas o aparecimento dos navios britânicos do capitão James Cook perto das Aleutas em 1778 fez com que as autoridades russas passassem a prestar mais atenção à situação regional.
No final do século 18, o governo imperial decidiu acabar com as guerras comerciais no Alasca. Em 1797, o Conselho de Comércio (uma agência governamental que tratava de questões comerciais) apresentou ao imperador Paulo 1º um relatório “Sobre a nocividade de muitas empresas na América”.
Dois anos depois, por decreto do imperador, foi criada a Companhia Russo-Americana, que monopolizou toda a caça e o comércio de peles no noroeste da América. Apesar do nome, não havia cidadãos norte-americanos nela.
A empresa se tornou o principal instrumento para a colonização do Alasca e ilhas adjacentes. Tanto é que o seu primeiro diretor, Aleksandr Baranov, foi ao mesmo tempo o governador da América Russa.
Fort Ross
O Império expandiu gradualmente suas posses na América e por vezes encontrava resistência dos locais. A primeira metade do século 19 foi marcada por uma série de conflitos armados entre os colonos e os povos tlingit.
Em 1812, os russos fundaram a Fortaleza de Ross na costa da Califórnia, a 80 quilômetros de São Francisco. Os espanhóis reivindicaram essas terras, mas os dois Estados conseguiram evitar um conflito aberto.
No entanto, os custos de manutenção da fortaleza eram muitas vezes superiores às suas receitas. “O sul não é tão próspero”, escreveu o novo governador da América Russa, Leónti Gagemeister, em 1818. “Não há castores em Ross, e a pesca não traz muito.”
Declínio da América Russa
Desde a década de 1820, as possessões russas na América começaram a sofrer pressão constante de outras potências, entre elas, os Estados Unidos no sul e a Grã-Bretanha no nordeste.
O Império se viu obrigado a esquecer dos planos de expansão para o sul, mas o desenvolvimento do Alasca também se tornou difícil.
Havia uma escassez catastrófica de imigrantes. “Nossas cidades não têm mais de 2.000 habitantes, cerca de 500 russos estão espalhados por uma área de vários milhares de verstás [antiga unidade para medir distâncias, 1 verstá equivale a cerca de 1,06 km]”, lê-se na carta de 1824 do conselho principal da Companhia Russo-Americana para o ministro das Finanças, Egor Kánkrin.
Em 1839, a Companhia Russo-Americana solicitou ao Ministério das Finanças a permissão para abolir a colônia na Califórnia, que dois anos depois foi adquirida pelo proprietário de terras norte-americano John Sutter.
Em 1867, a Rússia decidiu se desfazer de todas as possessões na América do Norte, incluindo o Alasca e as Ilhas Aleutas. Entre as razões para a sua venda aos EUA estavam os baixos rendimentos e despesas elevadas, a incapacidade de proteger a região no caso de grande guerra, o fracasso do “estabelecimento duradouro do elemento russo” e a crise econômica no Império.
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