No verão de 1908, um objeto espacial não identificado caiu na taiga siberiana e explodiu sobre o rio Podkamennaia Tunguska. A explosão foi tão potente que destruiu todas as árvores em um raio de 40 quilômetros e a onda de choque estourou as janelas de casas a centenas de quilômetros do epicentro.
O vale do riacho Tchurguima, 4 km ao sul de onde o meteorito caiu.
Sovfoto/Universal Images Group/Getty ImagesApós a queda do corpo celestial, todo o hemisfério Norte observou tempestades magnéticas, nuvens prateadas e “noites claras” onde jamais haviam sido presenciadas. Sismógrafos em localidades diversas, como Irkutsk, Tbilisi, Tasquente e até na Turíngia, registraram a onda de choque.
Ao redor da área onde o meteorito de Tunguska caiu.
Nikolai Pachin/SputnikO mistério envolvendo incidente é que, até agora, os cientistas não descobriram se foi um meteorito, um cometa ou um fenômeno tecnogênico.
Como a área onde o objeto espacial caiu era deserta, não houve vítimas. Os primeiros relatos de testemunhas oculares foram coletados por jornais locais.
O jornal “Sibir” escreveu, em 2 de julho de 1908, que camponeses no norte da província de Irkutsk tinham visto “um corpo de luz branca azulada e brilhante movendo-se por dez minutos de cima para baixo”.
“Todos os moradores da aldeia correram pela rua em pânico, as mulheres choravam, todos pensaram que o fim do mundo estava chegando”, escreveu o autor do artigo. No instante do ocorrido, ele próprio não estava longe da cidade de Kirensk e ouviu ‘como se um canhão fosse disparado em intervalos de 15 minutos, várias (ao menos 15) vezes. Em Kirensk, em algumas casas, nas paredes voltadas para o noroeste, o vidro chacoalhou.”
Testemunhas oculares também relataram ter visto uma “bola de fogo”.
“O fenômeno instigou um amontoado de especulação. Alguns dizem que era um meteorito enorme, outros, um raio globular”, escreveu o jornalista.
Algumas semanas depois, o jornal “Krasnoiarets” reportou o “fenômeno atmosférico extraordinário”. Segundo a reportagem, houve tremores e uma nuvem de cinzas, mas “a maioria das testemunhas oculares decidiu que os estrondos foram causados por disparos de artilharia comandados pelos japoneses”. Cabe lembrar que a Guerra Russo-Japonesa terminou em 1905.
Na ocasião, o jornal “Golos Tomska” descreveu um terremoto e um tremor subterrâneo na cidade de Kansk, que fica a 600 quilômetros de distância.
“Portas, janelas, as lâmpadas dos ícones — tudo tremeu. Um som estrondoso foi ouvido, como um tiro de canhão distante.”
O fenômeno de Tunguska começou a ser estudado apenas na década de 1920. Sob a liderança do cientista-geólogo soviético Leonid Kulik, sete expedições foram enviadas ao local da explosão. Após a Segunda Guerra Mundial, seus pupilos também foram ao epicentro. Em quase um século de pesquisa, foram coletadas centenas de depoimentos de moradores das aldeias vizinhas.
Professor Leonid Kulik.
Sovfoto/Universal Images Group/Getty ImagesKulik explorou a “floresta morta” junto com um guia local. Este último lhe contou que, depois que o objeto caiu, os moradores começaram a encontrar renas mortas e celeiros queimados.
O professor Leonid Kulik cruzando o rio Khuchmo a cavalo, a 7 km de onde o meteorito caiu em 1908.
Sovfoto/Universal Images Group/Getty ImagesOs moradores também queriam saber o segredo do objeto espacial. Em 1962, Viktor Konenkin, um professor escolar de matemática na vila de Varnavara, pediu aos moradores das aldeias vizinhas que se recordassem daquele dia. Suas anotações foram publicadas em 1967 pela editora da Universidade de Tomsk. Quase todo mundo relatou a ocorrência de um “feixe de fogo” e explosões.
“Ouvi um estrondo e olhei para o sul de Ierbogatchen [vila no norte da região de Irkutsk]. Vi um feixe de fogo voando pelo céu”, lembrou Theophan Farkov, nascido em 1897. “Voava rápido, mas eu consegui ver que tinha formato oblongo; a sua ponta era mais escura e então a chama começou, seguida de faíscas. (…) As janelas chacoalharam. Todos ficaram assustados.”
Expedição ao local da queda do meteorito de Tunguska.
Vladímir Medvedev/TASS“Vi muito bem um balão vermelho voando da esquerda para a direita em direção ao sul. Depois disso, foram ouvidos disparos. Todos ficaram assustados, os evenques vestiram suas melhores roupas, preparando-se para morrer, mas a morte não veio”, disse Elena Safiannikova, nascida em 1898
“Quando o feixe de fogo caiu no horizonte, as chamas do fogo subiram e então veio a fumaça, que ficou visível por um longo tempo. Depois, cerca de 3 a 4 minutos depois, ouvimos três ‘tiros’, os dois primeiros foram mais fracos e o último foi bem alto”, relatou Stepan Permiakov, nascido em 1891.
“No verão de 1908, de manhã, saí na varanda desta mesma casa (de onde os lados noroeste, norte e nordeste do horizonte são claramente visíveis) e pude ver um enorme feixe de fogo caindo atrás da floresta. O fogo era redondo e havia faíscas por trás”, disse Nadejda Konenkina, nascida em 1890 na vila de Preobrajenka. “Em pouco tempo, o chão começou a tremer e ouviu-se um forte trovão. E outros na vila disseram que um planeta havia caído”, relatou.
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