Durante o Grande Expurgo, a mais violenta campanha de repressões políticas na história russa, conduzida por Ióssif Stálin, centenas de representantes do mais alto comando do Exército Vermelho morreram em prisões e campos de trabalho forçado. No entanto, alguns dos presos conseguiram sobreviver, foram libertados e conseguiram retornar às fileiras das Forças Armadas.
Em 17 de agosto de 1937, o comandante da divisão do Exército Vermelho Konstantin Rokossôvski (também grafado Rokossovsky em português) foi preso sob a acusação de trabalhar para a inteligência polonesa e japonesa. No total, ele passou 2 anos e meio na prisão, onde os agentes do serviço secreto fizeram tudo para que ele confessasse.
“Na prisão, eles o torturaram: arrancaram seus dentes da frente, bateram nos dedos dos pés com um martelo, quebraram suas costelas”, disse a bisneta do marechal, Ariadna Rokossôvskaia. “Ele não assinou nada, não deu falsas provas contra si ou contra outros. Em 1939, ele foi levado para fora da prisão duas vezes para ser fuzilado. Eles atiraram com balas de festim.”
Rokossôvski foi libertado em março de 1940 graças aos esforços do comandante do Exército Semion Timochenko. A partir de então, ele passou a sempre carregar consigo uma pistola e dizia aos parentes: “Se eles vierem atrás de mim de novo, eles não me levarão vivo”.
Após voltar ao exército, durante a Segunda Guerra Mundial, Rokossôvski se tornou um dos comandantes militares mais bem-sucedidos. Ele desempenhou o papel crucial nas batalhas de Stalingrado e de Kursk, e especialmente na derrota do Grupo de Exércitos Centro durante a Operação Bagration, no verão de 1944. Como resultado, ele ascendeu ao posto de marechal da URSS e da Polônia e participou pessoalmente da captura de Berlim em 1945.
O general Kirill Meretskov foi preso no segundo dia da guerra contra a Alemanha nazista, em 23 de junho de 1941. Ele foi acusado de pertencer a uma “organização militar-conspiratória antissoviética” e de colaborar com a inteligência alemã.
O líder militar foi mantido em uma cela úmida e fria e era constantemente espancado. Muitos anos depois, quando questionado pelo historiador Nikolai Orlov sobre como eram os interrogatórios, Meretskov baixou a cabeça entre as mãos, chorou e respondeu: “Se você soubesse como eles me batiam”.
Em agosto, Meretskov escreveu uma carta dirigida a Stálin, que por algum milagre chegou ao destinatário. “Peço-lhe que confie em mim mais uma vez, que me deixe ir para a frente e em qualquer trabalho que você achar possível, para provar minha devoção ao senhor e à Pátria”, escreveu Meretskov.
Em 6 de setembro de 1941, ele foi libertado. Como Rokossôvski, Meretskov acabou sendo um líder militar excepcional. Ele ascendeu ao posto de marechal da União Soviética, participou do fim do cerco a Leningrado, da libertação da Noruega e da derrota do Exército de Guangdong japonês.
O comandante da brigada Aleksandr Gorbatov foi preso duas vezes. Na primeira vez, em 1937, foi detido por se opor à prisão do chefe, o comandante da divisão Piotr Grigoriev.
Em março de 1938 ele foi libertado, mas em outubro do mesmo ano acabou sendo novamente levado sob custódia após ser acusado de ligações com “inimigos do povo”. O líder militar suportou vários interrogatórios intensos, após os quais ele era devolvido para sua cela em uma maca.
Gorbatov foi condenado a 15 anos de prisão e enviado para um campo de trabalhos forçados em Kolimá, onde sofreu de escorbuto. Em março de 1941, graças à intervenção do mesmo comandante Timochenko que salvou Rokossôvski, o caso do militar foi revisto e ele foi libertado.
Durante a guerra, Gorbatov se tornou o general que liderou o 3º Exército, participando da libertação da Bielorrússia, das batalhas na Prússia Oriental e da operação de Berlim.
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