Os guerrilheiros mais famosos da história russa

Aleksandr Smirnov; George Dawe/Hermitage; Domínio público
Essas tropas irregulares de partisans, compostas principalmente de civis armados, fizeram nada menos que o exército regular derrotar Napoleão e Hitler.

Vasilisa Kójina

Retrato de Vasilisa Kójina por Aleksandr Smirnov, 1813.

“Ela é uma mulher de enorme estatura e grande força física. Tem um rosto lindo e um caráter corajoso e decidido” — assim os conhecidos descreveram uma das heroínas mais famosas da guerra russo-francesa de 1812, Vasilisa Kójina.

Vasilisa, de 35 anos e mãe de cinco filhos, enfrentou pela primeira vez os horrores da guerra em meados de agosto de 1812, quando as tropas francesas saquearam a sua aldeia natal na província de Smolensk e mataram o seu marido, o chefe da aldeia, Maksim Kójin.

Os franceses voltaram à aldeia nove dias depois, no dia do velório. Vasilisa, eleita nova chefe pelos moradores locais, cumprimentou os franceses com gentileza e hospitalidade, convidando-os para uma mesa na cabana. Quando os soldados ficaram bêbados, ela ordenou que trancassem as janelas e as portas e queimassem os inimigos.

O destacamento partidário organizado e liderado por Kójina seguiu o “Grande Exército” francês, lidando impiedosamente com soldados atrasados e saqueadores. Em pouco tempo, os guerrilheiros do destacamento de Kójina substituíram os machados por sabres e fuzis, mas Vasilisa continuou a lutar com forquilhas. “Ela agia com tanta força que podia matar o cavalo com um golpe”, lê-se na publicação “Mulheres da Guerra de 1812”. 

Certa vez, quando Kójina escoltava prisioneiros franceses, um deles começou a expressar abertamente a sua insatisfação com o fato de ser liderado por uma mulher. Vasilisa imediatamente o matou com uma gadanha, dizendo: “O mesmo acontecerá com todos vocês, ladrões, cães, que se atreverem a mexer comigo”.

O destino de Kójina após o fim da guerra é desconhecido. Segundo a versão mais confiável, ela retornou à sua aldeia natal, onde viveu até 1840.

Denis Davidov

Retrato de Denis Davidov, por George Dawe, antes de 1828.

Outro herói da Guerra Patriótica de 1812 é o tenente-coronel Denis Davidov. Ele enfrentou a invasão do exército de Napoleão como comandante do 1º batalhão do Regimento de Hussardos Akhtírski. Em agosto de 1812, recorreu ao comandante do 2º Exército Ocidental, Piotr Bagration, com um projeto de guerrilha na retaguarda das tropas francesas e logo recebeu total aprovação.

Davidov não foi o único comandante dos destacamentos de guerrilheiros na Guerra Patriótica, mas foi graças a ele que a guerrilha se tornou conhecida e popular, e a sua experiência foi cuidadosamente documentada e estudada.

Enquanto Vasilisa Kójina era uma representante do movimento partidário popular espontâneo, Denis Davidov pertencia aos chamados “guerrilheiros do exército”. No início, ele selecionou 50 hussardos e 80 cossacos das unidades regulares para servir no seu destacamento. Posteriormente, esse número cresceu para 300 pessoas.

Como os camponeses comuns muitas vezes confundiam os uniformes dos hussardos russos com os franceses, Davidov decidiu mudar as roupas dos membros do seu destacamento — ordenou que vestissem cafetãs cossacos e deixassem a barba crescer.

Em meados de setembro, quando o exército de Napoleão se preparava para entrar em Moscou, Davidov pegou de surpresa e derrotou um grande destacamento de forrageiros franceses em sua retaguarda. “O medo tem olhos grandes e causa desordem. Tudo desmoronou com a nossa aparição: capturamos diversos soldados que não tinham tempo para se armar e até para se vestir [...] Apenas um grupo de 30 pessoas decidiu se defender, mas eles foram dispersados ou mortos. Como resultado desse ataque, tínhamos 119 soldados presos, 2 oficiais, 10 carroças de suprimentos e uma carroça com munições", escreveu Davidov no seu “Diário de Ações dos Partisans”.

Em 7 de novembro, o grupo de Denis Davidov, juntamente com outros “destacamentos voadores” como eram chamados os partisans na época, derrotou a brigada do general Jean-Pierre Augereau em uma batalha perto da aldeia de Liákhovo. O líder militar francês, junto com 1.500 soldados, foi preso. “Esta vitória é ainda mais famosa porque, pela primeira vez nessa guerra, um corpo inimigo depôs armas à nossa frente”, escreveu o comandante-chefe do exército russo, marechal de campo Mikhail Kutuzov.

Após a saída dos franceses do território russo em janeiro de 1813 e o início da campanha externa do exército russo, Davidov voltou às fileiras do exército.

Depois do término da guerra contra Napoleão, Davidov permaneceu no serviço militar por mais cerca de 20 anos. Ele tinha uma grande paixão pela poesia e entrou na história como um “poeta dos partisans”.

Konstantin Tchekhovitch

Às 20h de 13 de novembro de 1943, ocorreu uma poderosa explosão no prédio do cinema na cidade de Porkhov, região de Pskov, resultando na morte de mais de 700 soldados da Wehrmacht, 40 oficiais e dois generais. O organizador e executor desta sabotagem foi o gerente de cinema e também combatente ativo da 7ª Brigada dos Guerrilheiros de Leningrado, Konstantin Tchekhovitch.

Logo no início da guerra, o comandante de um pelotão de sapadores, Konstantin Tchekhovitch, foi enviado a Leningrado, onde se envolveria em trabalhos de sabotagem. Lá ele foi capturado pelos alemães, mas conseguiu escapar em duas semanas. Depois se juntou aos guerrilheiros soviéticos.

O comandante da 7ª Brigada dos Guerrilheiros enviou Tchekhovitch para a cidade de Porkhov, que estava sob o controle dos nazistas, onde realizaria uma grande sabotagem.

Tchekhovitch passou dois anos tentando conquistar a confiança dos alemães: constituiu família, trabalhou como relojoeiro, eletricista na usina local, mecânico em um cinema e enfim ascendeu ao posto de gerente do cinema, cujo prédio foi escolhido como principal alvo de sabotagem. Neste edifício os soldados alemães costumavam se reunir para assistir a filmes, enquanto no segundo andar estava localizado o escritório do Serviço de Segurança Militar.

Usando os bolsos e uma pequena lancheira, Tchekhovitch carregou gradualmente 65 quilos de TNT para o cinema, distribuindo os explosivos pelo perímetro do prédio e ajustando o mecanismo do relógio. Tchekhovitch contava com a ajuda da irmã de sua esposa, Evguênia Mikhailova, que trabalhava no cinema como faxineira.

O sabotador calculou tudo corretamente: a explosão ocorreu na hora certa, e o prédio desabou como um castelo de cartas, matando todos que estavam dentro. A essa altura, Tchekhovitch e sua família já tinham saído da cidade.

Após a missão bem-sucedida, ele foi nomeado para o título de Herói da União Soviética, mas não o recebeu, porque os líderes do Partido Comunista se recusaram a honrar a pessoa que tinha passado 15 dias em cativeiro inimigo. Somente em 2013 uma placa memorial a Tchekhovitch foi inaugurada na cidade de Porkhov.

Sidor Kovpak

Quando o exército alemão invadiu a União Soviética, Sidor Kovpak já tinha 54 anos. Ele tinha participado da Guerra Civil russa (1918-1923), após a qual ele nunca mais serviu no exército. Isso, porém, não o impediu de se tornar um dos comandantes dos guerrilheiros mais eficazes da URSS e um dos principais organizadores do movimento dos guerrilheiros na Ucrânia.

Em setembro de 1941, Kovpak se tornou o líder de um pequeno destacamento de cerca de 10 guerrilheiros escondidos na floresta Spadschanski, perto da cidade de Putivl, no nordeste da Ucrânia. “Nosso primeiro abrigo foi construído em um lugar tão selvagem que, se você se afastasse algumas dezenas de passos dele, provavelmente não o encontraria mais. Fique quieto e nenhum cão de caça alemão jamais vai te encontrar. Mas viemos para a floresta não para nos escondermos dos alemães, mas para destruí-los, não para lhes dar um momento de paz, mas para não permitir que governassem a nossa região. Éramos os mestres aqui e tínhamos que continuar a ser os mestres”, escreveu Kovpak no seu livro “De Putivl aos Cárpatos”.

Em apenas seis meses, o destacamento de Kovpak cresceu para uma unidade de guerrilheiros de 1.500 combatentes. Os guerrilheiros sob sua liderança realizaram ataques na retaguarda das tropas alemãs e húngaras, conseguindo sair das armadilhas mais difíceis dos nazistas.

No verão de 1943, a unidade de Kovpak ficou encarregada de realizar um ataque em grande escala em todo o território do oeste da Ucrânia, que mais tarde ficou conhecido como o “Ataque dos Cárpatos”. Ao longo de três meses, os guerrilheiros percorreram 2.000 km atrás das linhas inimigas, derrotando 17 guarnições alemãs, descarrilando 19 trens, e destruindo 51 armazéns e 52 pontes, além de uma série de usinas elétricas e fábricas de petróleo.

“Nossa aparição nas proximidades do Dniestre foi tão inesperada para os alemães que eles confundiram os guerrilheiros com paraquedistas militares [...] Um dos destacamentos alemães nos encontrou perto da cidade de Skalat, na orla da floresta. Assumindo que diante deles estava um pequeno destacamento de paraquedistas soviéticos, os guardas alemães formaram uma cadeia de soldados e lançaram um ataque “psíquico”, sem perceber que estavam enfrentando cerca de dois mil combatentes. Deixamos esses jovens chegarem a uma distância tal que poderíamos nos divertir ao ver a rapidez com que a expressão em seus rostos mudou, quando de repente toda a orla da floresta ganhou vida, uma avalanche de guerrilheiros se levantou para enfrentar o inimigo. Parecia que o vento estava levando os guardas”, escreveu Kovpak em seu livro.

No final de 1943, devido a uma doença, Kovpak se viu obrigado a transferir o comando para seu vice, Piotr Vechgor, e voltar ao território controlado pelo Exército Vermelho. Em homenagem ao ex-comandante, essa unidade dos guerrilheiros foi renomeada como Primeira Divisão dos Partisans Ucraniana de Sidor Kovpak, duas vezes Herói da União Soviética.

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