Que desastres naturais já atingiram Moscou?

História
ANNA POPOVA
Moscou foi consumida várias vezes pelo fogo, e suas ruas e praças foram inundadas com neve derretida. Mas estes não foram os únicos infortúnios que se abateram sobre a capital.

O “Grande Tremor”

Pode ser difícil de acreditar, mas a cidade foi atingida várias vezes por terremotos. As crônicas do século 15 mencionam como o chão tremeu de repente e os sinos começaram a tocar sozinhos. Houve um terremoto em 1474 que, segundo os pesquisadores, foi de pelo menos magnitude 6: o “Grande Tremor”, como o chamaram os contemporâneos, destruiu a Catedral da Dormição do Kremlin de Moscou. O templo, que os mestres de Pskov, Krivtsov e Míchkin, haviam concluído até o nível do telhado, desabou como se tivesse sido esmagado por uma mão gigante invisível. De todo modo, o desastre também teve o seu lado positivo: foi depois do terremoto que Ivan 3º convidou Aristotele Fioravanti, da Itália, para reconstruir a catedral.

Moscou também tremeu em outubro de 1802. E, mais uma vez, o Kremlin foi atingido: os construtores que trabalhavam na Torre Spásskaia alegaram que ela chacoalhou visivelmente. Em algumas casas, os lustres e móveis balançaram, as paredes racharam, e em alguns pontos até o chão desabou — mas os poucos tremores não foram suficientes para dar um verdadeiro susto aos moradores da cidade, cuja vida rapidamente voltou ao normal.

A capital russa está situada em uma zona sismicamente estável; por isso, quase todos os terremotos na cidade foram reverberações de desastres naturais mais significativos em outros locais. Por exemplo, em dezembro de 1945, as reverberações de um terremoto na costa da Antártica atingiram Moscou. Já o terremoto de Bucareste de 4 de março de 1977 foi sentido em quase toda a Europa Oriental — e não foi diferente em Moscou: nos edifícios residenciais, os móveis tremeram violentamente e as luzes do teto balançaram; e em edifícios altos como a Universidade Estatal de Moscou, as oscilações atingiram a magnitude 7.

Mais recentemente, em 2013, a capital pôde sentir a reverberação de um terremoto centrado no Mar de Okhotsk que abalou todos os países europeus. Em Moscou, os moradores foram até evacuados de arranha-céus.

O Grande Incêndio de Moscou

O que acontece ao combinar um fogo que devora tudo em seu caminho com clima quente e vento? Tem-se uma tempestade de fogo. Foi o que Napoleão observou em 1812, ao deixar Moscou. Não é por acaso que o fenômeno é chamado de fogo demoníaco: incêndios eclodiram em diversos pontos da cidade, lojas de venda de materiais combustíveis explodiram e o vento espalhou o fogo por todos os cantos. Os incêndios devoraram rapidamente os edifícios de madeira — não adiantava apagar nada e não havia equipamentos que pudessem ser acionados, pois ao sair de Moscou os bombeiros levaram consigo todo o seu aparato. A intensificação do vento apenas acelerou a queimada. Na calada da noite, as correntes de fogo se uniram e formaram uma tempestade de fogo que destruiu a cidade.

Napoleão conseguiu sair do Kremlin, embora não tenha sido fácil: a estrada estava derretendo com o calor. Ele retornou quatro dias depois, mas tudo o que encontrou foram ruínas carbonizadas. Napoleão descreveu o incêndio como o maior, mais majestoso e mais aterrorizante espetáculo já visto por ele. E o fogo durou muito tempo na cidade: quando, mais de um mês depois, as tropas russas entraram em Moscou, a cidade ainda fumegava.

Tornado sobre Sokólniki

Fotografias de 1904 com a legenda “tornado observado da estação Pererva a 13 versts [cerca de 12 km] de Moscou” mostram uma muralha de nuvens negras cobrindo todo o céu. A nuvem da tempestade estendeu-se por uma faixa de 15 a 20 km. A cidade foi tomada por ventos violentos que atingiram velocidades de 25 metros por segundo vindos da direção da província de Tula. Depois de assolar os subúrbios orientais, dividiu-se em dois funis de tornado que levaram destruição a diversas áreas na região. As turbulentas correntes de ar arrancaram árvores e cruzes de igrejas e varreram vacas e cabras.

“De repente, tudo começou a girar... no meio de relâmpagos em ziguezague, houve flashes de luz amarela e uma coluna de fogo girou no meio. Em um minuto, esse horror ensurdecedor passou correndo, destruindo tudo em seu caminho”, escreveu o historiador local Vladímir Giliarôvski.

Poluição encobre a capital

Em julho e agosto de 2010, uma névoa espessa recaiu sobre Moscou: a fumaça da queima de turfas nos entornos cobriu a cidade com uma densa nuvem de fumaça. Um calor sufocante (termômetros indicavam temperaturas de até 37°C) e o cheiro constante de queimado envolveram a cidade. A neblina penetrou até no sistema de metrô: vagões e estações ficaram mergulhadas na semiescuridão e os passageiros foram obrigados a cobrir o rosto com panos úmidos ou a usar máscaras de respiração. Suspendeu-se os serviços de transporte fluvial, escritórios foram fechados e, nas lojas que vendiam eletrodomésticos, os itens mais procurados eram ventiladores e aparelhos de ar condicionado. Os produtos começaram a se esgotar e foi necessário sair à caça para conseguir um. Ao longo de várias semanas de densa poluição atmosférica, a taxa de mortalidade em Moscou duplicou. A fumaça da queima de turfas só desapareceu da cidade entre 18 e 19 de agosto, e o calor foi enfim substituído por chuva e temperaturas mais amenas.

LEIA TAMBÉM: A cidade soviética que desapareceu por completo em questão de minutos

O Russia Beyond está também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos em https://t.me/russiabeyond_br