O que é que a “iarmarka” russa tem?

A merry-go-round at the Nizhny Novgorod fair, the 1900s

A merry-go-round at the Nizhny Novgorod fair, the 1900s

Maxim Dmitriev/The Archive for Audio and Video documents of Nizhny Novgorod oblast
O nome dessas feiras vem do alemão, mas sua essência é muito particular...
  1. Por que não havia feiras na Rússia inicialmente?

A palavra "feira" foi introduzida do alemão no russo (“jahr” significava “ano” e “markt”, mercado) no século 17, quando comerciantes de língua alemã passaram a negociar massivamente com a Moscóvia. Eles levaram para lá a moda europeia de vendas anuais em locais "movimentados", em grandes cidades e em cruzamentos de rotas comerciais importantes. Comerciantes profissionais de diferentes lugares e vilarejos compareciam às feiras.

No Estado russo, os locais onde as pessoas se reuniam e ofereciam produtos para venda eram chamados de “torg”. (É assim, “Torg”, com letra maiúscula que se chamava a Praça Vermelha de Moscou até o século 17). Mas nas cidades russas existiam apenas “torjók”, ou seja, pequenos comércios, e bazares. Não eram exatamente as feiras “iarmarka“!

  1. Como o comércio russo se diferenciava das feiras?

As feiras eram regulares e reuniam comerciantes de todos os lugares, enquanto os comércios eram locais, e tinham outra regularidade. Mas os primeiros grandes locais de comércio na Rússia considerados feiras “iarmarka” até o século 17 continuaram a ser chamados de “torg”: Molojski Torg, Makarievski Torg etc.

A população local negociava nos “torgs”, “torjoks” e bazares. Os “torjoks” eram montados várias vezes ao ano e os bazares, toda semana.

Porém, no século 16, surgiu o Molojski Torg, ou Torg da cidade de Kholop — no rio Mologa, perto da aldeia Borisoglebskoie (atualmente, inundada pelo reservatório de água Ríbinsk). O Torg de Mologa era regular – ficava montado por quase quatro meses, durante o verão (de junho a setembro ou de maio a agosto, dependendo do clima e de outros fatores) todos os anos.

Pessoas de todas as nacionalidades - alemães, poloneses, gregos, armênios, persas, italianos, turcos - negociavam ali não por dinheiro, mas na base da troca. Havia tantos navios que se represava todo o rio Volga com uma largura de pelo menos 500 a 600 metros para que fosse possível atravessar de uma margem a outra.

No final do século 16, o principal “torg” passou a ser aquele próximo a Níjny Nôvgorod.

  1. Quais eram as maiores “iarmarkas”?
A

A primeira grande “iarmarka” da Rússia foi a “Makarievskaia”, ou seja, a “Makarievski Torg”, que recebeu o nome do Mosteiro Jeltovodski Makarievski. Na época, esta “iarmarka” ficava perto do monastério, a 90 quilômetros de Níjni Nôvgorod. Já no início do século 19, ela foi transferida para Níjni Nôvgorod em si, onde novos pavilhões, mais modernos, foram construídos para a “iarmarka”.

Originalmente, ela surgiu no meio da rota do rio Volga, entre a confluência dos rios Oká e Káma. Entre os anos de 1552 e 1556, Ivan, o Terrível, subjugou Kazan e Ástrakhan, tomando a rota comercial do rio Volga - os comerciantes do norte foram atraídos para as terras do sul porque Ivan, o Terrível, tinha permitido o comércio com a Pérsia.

Além da Makarievskaia, havia também a Iarmarka de Irbit, a Iarmarka de Perm, a Iarmarka de Orenburg, a Iarmarka de Barnaul e muitas outras menores. Em 1864, havia mais de 18 mil feiras na Rússia, com um volume de negócios de mais de um bilhão de rublos (para se ter ideia, a receita orçamentária de 1866 foi de 362 milhões, 475 mil e 811 rublos).

  1. No que as “iarmarkas” russas se pareciam com os shopping centers modernos?
Planta da feira de Níjni Nôvgorod, 1821.

Um bazar não é só um local de comércio. Ele é, antes de tudo, um local público, uma área de entretenimento, expressão e publicidade e, nesse aspecto, é semelhante às antigas ágoras e aos modernos shopping centers.

No prado de Molojski, por exemplo, havia mais de 70 tabernas e qualquer “iarmarka” era um lugar onde se podia consumir de tudo, inclusive roupas. Mas, nas tabernas bebia-se, enquanto a diversão ficava por conta das apresentações de artistas e atrações. Havia os "petruchniks" (marionetistas) e artistas de circo, e eles mostravam ursos cientistas, brigas de galo e de ganso etc.

Mas uma das diversões mais favoritas das “iarmarkas” era o “raiók”, o tataravô do cinema. O “raiók” era uma caixa de madeira com duas lentes de aumento na parte da frente e ficava sobre uma mesa ou rodas. Duas pessoas podiam olhar para dentro dela ao mesmo tempo, cada uma através de um vidro.

The stone buildings of the Nizhny Novgorod trading fair, early 20th century

Dentro da caixa havia uma simples tela: era uma tira de papel enrolada com imagens que passavam de um lado para o outro. Em alguns “raiók”, as imagens eram iluminadas por uma vela. Ao trocar o vidro colorido, era possível tornar sua iluminação azul ou vermelha.

Mas o dispositivo em si era apenas uma parte da diversão: o que aparecia ilustrado na fita de papel tinha de ser comentado, e era aí que entrava o “raiochnik”. Ele proferia versos rimados sobre cada imagem - panoramas de Paris e Moscou, as batalhas de Borodinô e Poltava, outras cenas russas e "estrangeiras".

 

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