Nas ruas da cidade ártica de Norilsk, uma ursa polar caminhava entre as pessoas. Livre, sem coleira. O nome dela era Aika.
Na década de 1970, Aika morava no apartamento comum de três cômodos do diretor de cinema Iúri Ledin, comia semolina, abria a porta da varanda com a sua pata e geralmente considerava as pessoas como sua família.
Iúri Ledin soube de Aika por meio de um programa de televisão: ela nasceu no Zoológico de Nikolaev, mas sua mãe se recusou a alimentá-la e a equipe começou a amamentar o filhote de apenas 380 gramas. O cineasta já queria há muito tempo fazer um filme sobre a vida dos ursos polares e convenceu a administração do zoológico a lhe conceder a tutela de Aika.
Até os cinco meses, a ursa morava no apartamento de Iúri, junto com sua esposa Liudmila e sua filha Veronika, de 6 anos. Aika era alimentada com mingau de sêmola — e podia comer até 12 garrafas por dia (sim, os moradores de Norilsk medem mingau por garrafa) — e depois acrescentavam peixe e carne às refeições. Ledin a levava para passear pelas ruas da cidade.
O filme sobre a vida dos ursos polares foi rodado por toda a família Ledin na Ilha Champ, no arquipélago de Terra de Francisco José. A ideia do diretor era que Aika fizesse amizade com os seus parentes selvagens e depois prosseguisse livre. Porém, durante os seis meses de expedição, Aika nunca encontrou uma linguagem comum com nenhum dos ursos. Com isso, ela se tornou protagonista do filme “Urso Polar”, lançado em 1975.
Os Ledins voltaram para Norilsk com um urso adulto, porém ainda doméstico. Já pesava 300 quilos e não cabia no apartamento. O Zoológico de Berlim aceitou recebê-la, mas a separação foi angustiante. De acordo com a equipe do zoológico, Aika uivou continuamente nos primeiros dois dias. Ela morou em Berlim apenas um ano e morreu após cair de um penhasco. Ledin se culpou pela sua morte, acreditando ter desistido cedo demais da ursa.
Atualmente, há um complexo esportivo em Norilsk que leva o nome de Aika. Ao lado dele, foi inaugurado um monumento à ursa em 2020.
Confira abaixo o documentário de Iúri Ledin “Urso Polar” (1975):
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