“Deixamos a Rússia e agora estamos caminhando pelas terras estrangeiras, não para tomar posse delas, mas para salvá-las... Até agora lutamos pela paz da nossa Pátria, agora lutaremos pela paz de todos da Europa”, escreveu o oficial Vassíli Norov sobre o início da campanha militar externa do exército russo em janeiro de 1813.
Naquele momento, restavam apenas regimentos separados do outrora “Grande Exército” de Napoleão, que invadiu o Império Russo em junho de 1812. Abandonando-os à própria sorte, o imperador foi a Paris para reunir novas forças.
Os russos estavam determinados a tirar vantagem da situação difícil de Bonaparte e acabar com o seu domínio na Europa. “O Reno, os Alpes, os Pirenéus – estas são as fronteiras naturais da França; todo o resto não deveria fazer parte do império de Napoleão ou permanecer sob sua influência direta”, disse o Secretário de Estado do imperador russo Alexandre 1º e o futuro Ministro dos Negócios Estrangeiros, Karl Nesselrode.
Em primeiro lugar, Alexandre 1º pretendia trazer os aliados formais da França, a Prússia e a Áustria, para o seu lado. Derrotados por Napoleão em campanhas militares anteriores, esses Estados foram forçados a agir de acordo com as políticas francesas e até a fornecer suas tropas para a campanha militar contra a Rússia.
Em 28 de fevereiro, em Kalisz (atual Polônia), o Império Russo e a Prússia firmaram uma aliança militar e, em 4 de março, suas tropas expulsaram conjuntamente a guarnição francesa de Berlim. “Quantos apertos de mão e abraços sinceros, quantas lágrimas da mais sincera alegria, quantas exclamações: ‘Graças a Deus, estamos livres de novo!’”, lê-se em uma revista alemã.
A campanha militar foi muito bem sucedida para as forças aliadas, que avançaram quase sem obstáculos pelas terras alemãs. Além disso, em janeiro, o exército russo ocupou completamente o Grão-Ducado de Varsóvia, criado por Napoleão em 1807, nos territórios da Prússia e da Áustria.
A situação mudou com o regresso do imperador francês, que tinha conseguido recrutar um novo exército, à área de combate. Em maio de 1813, nas batalhas de Lützen e Bautzen, ele infligiu derrotas sensíveis aos aliados.
Depois disso, as partes concordaram com uma trégua que durou vários meses. Os combates foram interrompidos temporariamente e negociações de paz começaram em Praga, com a mediação dos austríacos.
Os aliados exigiram que Napoleão libertasse a Itália e a Holanda da presença militar e política francesa, dissolvesse a União do Reno dos estados alemães dependentes da França, concordasse com a liquidação do Ducado de Varsóvia e restaurasse a dinastia Bourbon ao trono espanhol.
As exigências pareceram excessivas ao imperador francês, e a guerra estourou novamente. Desta vez, o Império Austríaco também entrou em guerra contra os franceses.
A campanha da segunda metade de 1813 resultou em um sucesso variado para ambos os lados. Napoleão derrotou as forças aliadas em Dresden, mas os aliados conseguiram derrotar o corpo do general Vandamme em Kulm e infligir danos significativos às tropas do marechal Ney.
O duelo decisivo foi a “Batalha das Nações”, que se desenrolou perto de Leipzig, entre 16 e 19 de outubro. Essa enorme batalha contou com cerca de 500 mil soldados: os franceses e seus aliados italianos e alemães contra os russos, prussianos, austríacos e os suecos, que pretendiam tomar controle sobre a Noruega.
“O fogo era terrível! Balas de canhão e granadas caíram como granizo”, escreveu o ajudante do general Nikolai Raévski, Konstantin Batiuchkov. “Os minutos mais horríveis para mim foram aqueles em que o general me mandou entregar mensagens, ora em uma direção ou outra, ora para os prussianos, ora para os austríacos, e eu passava sozinho no meio de pilhas de corpos de mortos e moribundos. Nunca vi uma batalha tão terrível na minha vida e não a verei por muito tempo.”
No auge da batalha, os contingentes militares dos reinos da Saxônia e Württemberg passaram para o lado da coalizão antifrancesa. Esse foi um dos principais motivos para a derrota de Napoleão, que acabou perdendo até 80 mil soldados. As perdas aliadas são estimadas em 54 mil pessoas.
Depois de Leipzig, Napoleão teve que recuar para território francês. Sob os golpes da coalizão, que além da Saxônia e Württemberg também incluía a Baviera, a Confederação do Reno caiu. Em dezembro, as tropas russas libertaram a Holanda.
Em janeiro, os combates já ocorriam em solo francês. Na Batalha de Brienne, em 29 de janeiro, Bonaparte quase foi morto pelos cossacos, e o imperador teve que revidar com um sabre.
Napoleão fez tudo para “acender a chama da guerra popular”. “Exterminem até ao último soldado o exército dos aliados e prometo-vos um reinado feliz”, é possível ler na sua ordem secreta aos residentes das regiões ocupadas.
Esse apelo, porém, não teve efeito. Os aliados tentaram prevenir a violência contra a população local e enfatizaram de todas as formas possíveis que não lutavam contra o povo, mas só contra Napoleão.
O imperador francês ainda conseguiu infligir diversos golpes dolorosos. Em fevereiro, as forças dos aliados sofreram derrotas em Vauchan e Montreux. No entanto, o número de tropas e armas dos aliados já era incomparavelmente maior.
Em 30 de março ocorreu a batalha por Paris, na qual as tropas russas desempenharam papel fundamental. Os russos perderam mais de seis mil soldados, mas conseguiram tomar o controle sobre a capital francesa. No dia seguinte, o imperador russo Alexandre 1º entrou solenemente na cidade.
Napoleão, que estava a várias centenas de quilômetros de distância com seu pequeno exército, percebeu que perdeu a guerra e abdicou do trono em 6 de abril de 1814.
Assim, a era do domínio francês na Europa acabou. A Rússia, a Áustria e a Prússia aderiram à Santa Aliança e se comprometeram a manter conjuntamente a paz e o equilíbrio de poder no continente, a prevenir revoluções, a derrubada das dinastias dominantes e a revisão das fronteiras dos Estados.
Embora a nova ordem internacional tenha durado apenas algumas décadas, foi um verdadeiro presente para os povos europeus exaustos por guerras incessantes.
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