7 fatos sobre Vassíli Stálin, o negligenciado filho do ditador soviético

História
ALEKSANDRA GÚZEVA
O filho mais novo de Ióssif Stálin não queria se enquadrar na imagem estereotipada do “filho do pai das nações”. Ele se tornou piloto de combate, comandante de um regimento de aviação e recebeu merecidamente muitas medalhas. Vassíli, porém, não conseguiu lidar com seu temperamento explosivo, foi reprimido e morreu em circunstâncias pouco claras.

Dos dois aos seis anos de idade, Vassíli Stálin, filho mais novo de Ióssif Stálin e Nadejda Allilueva, foi criado em um orfanato. O ditador soviético e sua esposa não costumavam cuidar muito dos filhos. Quando Nadejda Allilueva cometeu suicídio em 1932, Stálin voltou toda a sua atenção para sua filha Svetlana e quase ignorou Vassíli, então com 11 anos de idade.

Vassíli Stálin descreveu sua infância assim: “Deixado sem mãe e incapaz de ser criado sob a supervisão constante do meu pai, eu, de fato, cresci e fui criado pelos homens (seguranças) que não eram conhecidos pela moralidade ou temperança. Isso deixou uma marca em toda a minha vida e caráter. Comecei a fumar e a beber cedo”.

1. Foi um piloto de combate bem-sucedido

Aos 17 anos, Vassíli Stálin entrou em uma escola de aviação, onde não demonstrou grande interesse em estudar, mas na prática se revelou um ótimo piloto. Ele se formou na escola como tenente e, em 1941, começou a servir como piloto de caça, até que começou a Grande Guerra Patriótica. Em dezembro daquele ano, Vassíli foi promovido para major de aviação, embora não tenha recebido os títulos anteriores. Poucos meses depois, recebeu o posto de coronel, também ignorando outros postos.

Em julho de 1942, Vassíli passou a comandar um regimento de pilotos militares. O general Serguêi Dolgúchin descreveu sua participação nas batalhas: “Vassíli Stálin comandou o regimento com diligência, prestava atenção aos os pilotos mais experientes. [...] Entre fevereiro e março de 1943, abatemos uma dúzia de aeronaves inimigas, três com a participação de Vassíli”.

No final da guerra, a divisão de aviação sob o comando de Vassíli Stálin participou da operação ofensiva de Berlim. De acordo com os documentos de premiação da Ordem de Suvorov, que Vassíli recebeu em 11 de maio de 1945, ele “realizou pessoalmente 26 missões de combate e abateu duas aeronaves inimigas”.

Em 1943, Vassíli foi ferido, mas não em combate. Um grupo de pilotos liderados por Stálin decidiu pescar, matando os peixes com munição. Após uma explosão mal-sucedida, um dos pilotos foi morto e Vassíli Stálin foi ferido no calcanhar por um estilhaço. Ele passou cerca de seis meses no hospital em Moscou. Ióssif Stálin, ao saber dessa história, removeu Vassíli do posto de comandante do regimento, mas apenas por seis meses.

2. Após a guerra, foi um importante líder militar

Durante a guerra, Vassíli Stálin recebeu quatro medalhas e, em 1946, aos 25 anos, se tornou major-general da aviação. Assim, obviamente, o filho do líder soviético avançou no serviço de modo muito mais rápido do que qualquer outro militar. Em 1948, ele se tornou comandante da Força Aérea do Distrito Militar de Moscou e viveu uma vida de estrela.

Como chefe da Força Aérea do Distrito Militar de Moscou, Vassíli Stálin herdou aeródromos e aeronaves danificados pela guerra; sua tarefa era levantar a defesa aérea da capital da URSS das ruínas. Segundo o técnico aeronáutico Víktor Charkov, após a chegada de Vassíli Stálin, todos trabalhavam dias e noites sem parar.

Vassíli cuidou da vida dos pilotos e de suas famílias, tendo promovido a construção de um bairro para pilotos em Moscou e garantindo salários decentes e educação para seus filhos. O piloto militar Serguêi Kramarenko escreveu: “Quase imediatamente após sua nomeação, ele chegou ao nosso campo de aviação. O ex-comandante não costumava nos visitar. [...] Os pilotos amavam Vassíli Stálin. Apesar de ser filho do líder, ele lutou honestamente na Guerra Patriótica, passou por Stalingrado e chegou a Berlim, e para qualquer soldado da linha de frente isso significa muito”.

3. Patrocinou atletas

Aproveitando sua posição de chefe da Força Aérea do Distrito Militar de Moscou, Vassíli Stálin se tornou o maior patrono dos esportes do país. Ele recrutou equipes “departamentais” de futebol, hóquei e basquete.

Nessas equipes atuaram as lendas do hóquei soviético Anatóli Tarasov e Vsevolod Bobrov, que se tornaram amigos próximos de Vassíli. Ele procurou dar o melhor aos atletas das suas equipes, o que mais tarde se tornou a base para uma investigação judicial.

“[Vassíli Stálin] conseguiu a criação de 8 equipes desportivas de até 300 pessoas, para cuja manutenção mais de 5 milhões de rublos foram gastos anualmente [...] Os atletas [...] receberam apartamentos, postos de oficiais, uniformes técnicos de voo [...] o que infringiu os interesses do pessoal da Força Aérea do Distrito Militar de Moscou”, lê-se no arquivo investigativo de caso de Vassíli Stálin.

4. Queria criar uma Fórmula 1 soviética

Após a Segunda Guerra Mundial, 18 carros Auto Union Typ 650 foram descobertos na Saxônia, na Alemanha oriental, criados em 1940 para participar do Grande Prêmio da Europa. Ao saber desses carros, o filho do ditador decidiu criar carros esportivos soviéticos copiando os carros da Auto Union. Os especialistas da Auto Union em Zwickau, Alemanha Oriental, junto com engenheiros desenvolveram o carro soviético Sokol 650.

Em abril de 1952, dois Sokol 650 foram enviados a Moscou, onde Vassíli Stálin imediatamente quis demonstrá-los no campeonato municipal de automobilismo. No entanto, segundo uma das fontes, os técnicos da Força Aérea que faziam a manutenção dos veículos abasteciam os tanques não com gasolina de alta octanagem, mas com combustível de aviação, o que arruinou os motores, as linhas de combustível e os sistemas de ignição. Assim, o show fracassou. Os carros foram devolvidos à Alemanha, onde mais tarde, em 1957, foram usados como adereços para filmagens.

5. Tinha um temperamento furioso

“O estado de saúde é ruim. Ele é temperamental e irritável e nem sempre sabe como se conter. Ao se comunicar com os subordinados, ele é rude e às vezes confia demais neles, mesmo que não estejam preparados e não sejam capazes de executar a decisão do comandante. Estas deficiências pessoais reduzem sua autoridade como comandante-líder”, escreveu o tenente-general Evguêni Savítski em 1947.

Durante a guerra, o regimento sob o comando de Vassíli recebeu a tarefa de se reposicionar. Certa manhã, um dos engenheiros não teve tempo de embalar o equipamento. O comandante do regimento, ao saber disso, deu o comando para uma formação geral para “executar publicamente o capitão Chiriaev”. Felizmente, o capitão conseguiu se esconder na floresta. O surto de raiva passou e o capitão foi “perdoado”.

Nikolai Efimov, mecânico do avião em que Vassíli Stálin voou, escreveu que ele “bebia muito, mas não se embriagava”.

Em 9 de dezembro de 1950, o chefe do departamento médico do Kremlin, professor Piotr Egorov, relatou a Ióssif Stálin: “Vassíli sofre de exaustão do sistema nervoso, gastroenterite e anemia. A causa dessas doenças é o abuso excessivo de álcool. Em 16 de novembro [...] Vassíli de repente [...] sofreu um ataque epilético".

6. Foi reprimido após a morte de Stálin

Os problemas de Vassíli começaram quando seu pai ainda estava vivo. Em maio de 1952, após o desfile aéreo em Moscou, dois novos aviões Il-28 caíram durante o pouso. Vassíli foi afastado do cargo de chefe da Força Aérea do Distrito Militar de Moscou

Em 27 de julho de 1952, após o desfile da Força Aérea do Distrito Militar de Moscou no campo de aviação Túchinski, na presença de Ióssif Stálin, Vassíli criticou publicamente seu chefe, o comandante-em-chefe da Força Aérea da URSS, Pável Jigarev. Segundo testemunhas, Vassíli estava bêbado.

Após a morte de Stálin, o ministro da Defesa da URSS, Nikolai Bulgánin, repetidamente insultado e criticado por Vassíli, ofereceu ao filho de Stálin o cargo de comandante de um dos distritos militares. Vassíli ficou furioso, porque, segundo ele, essa posição não era importante o bastante. Como resultado, Vassíli foi demitido e, um mês depois, foi preso e enviado para a prisão na região da cidade de Vladimir.

Os altos funcionários soviéticos decidiram lembrar ao filho do ditador quem estava no comando. Vassíli Stálin foi acusado de corrupção e declarações caluniosas sobre funcionários do partido comunista e condenado a 8 anos de prisão.

7. Morreu em circunstâncias desconhecidas

Na prisão de Vladimir, o filho de Stálin cumpriu pena sob o pseudônimo de “Vassíli Pávlovitch Vassíliev”. Lá ele trabalhou como mecânico e torneiro, sem receber quaisquer condições especiais para cumprir a pena. Na prisão, sua saúde entrou em colapso total. “Ele está preso há seis anos e oito meses. Nesse período, a administração dos locais de privação de liberdade o caracterizou positivamente. Atualmente, ele tem uma série de doenças graves (cardíaca, estomacal, vascular das pernas e outras)”, lê-se nos documentos da prisão datados de 1960.

A pedido do novo líder da URSS Nikita Khruschov, Vassíli foi liberado da prisão em janeiro de 1960. Além disso, recebeu um apartamento em Moscou e uma pensão pessoal. Logo em seguida, sofreu um acidente rodoviário com um carro diplomático e, por algum motivo, foi visitar o embaixador da China. Naquela época, a URSS tinha relações extremamente difíceis com a China. Em 16 de abril de 1960, Vassíli Stálin foi novamente preso pela KGB “por continuar praticando atividades anti-soviéticas”. Durante sua visita à embaixada da China, Vassíli alegadamente fez uma “declaração caluniosa de natureza anti-soviética”. Ele foi então devolvido à prisão “para cumprir o restante de sua sentença”. Durante mais um ano ele esteve na prisão de Lefortovo em Moscou.

Em 28 de abril de 1961, Stálin foi libertado novamente devido ao cumprimento de sua pena, mas não foi mais autorizado a entrar em Moscou. Dos locais de residência propostos, Stálin escolheu a cidade de Kazan, onde viveu por menos de um ano. Em 19 de março de 1962, Vassíli Stálin morreu.

Os detalhes de sua morte são desconhecidos. Segundo os médicos, ele morreu devido ao “abuso de álcool”. Supostamente, ele havia bebido um barril inteiro de vinho com convidados da Geórgia. Muitos anos depois, em 1998, a terceira esposa de Vassíli afirmou que não houve autópsia e questionou a versão de morte por embriaguez. Vassíli Stálin foi enterrado sem honras em um cemitério em Kazan. Em 2002, seus restos mortais foram transportados e enterrados novamente em Moscou.

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