1. Alexander Leslie
O escocês Alexander Leslie foi um dos militares mais proeminentes do século 17. Ele entrou no serviço russo três vezes: em 1618, 1630 e 1647.
Durante o cerco da cidade russa de Smolensk pelos poloneses em 1633, o regimento de “formação estrangeira” sob o comando de Leslie salvou o regimento de outro militar, o coronel Thomas Sanderson, da derrota completa.
Alexander Leslie não era apenas um líder militar talentoso, mas também um recrutador competente. Antes do início da Guerra de Smolensk, ele conseguiu recrutar mais de 4.500 militares para o serviço russo e criar quatro regimentos formados por estrangeiros.
A terceira visita à Rússia quase lhe custou a vida. Os boiardos (membros da aristocracia rural), insatisfeitos com o grande número de estrangeiros nas tropas, acusaram Leslie de cuspir no altar de uma igreja ortodoxa, atirar na cruz com uma pistola e obrigar os servos russos a comer carne de cachorro.
O tsar Aleixo da Rússia ajudou Leslie a escapar da morte. Ele convidou o militar e seus subordinados a se converterem à ortodoxia, o que fizeram alegremente. Em 1654, Leslie se tornou o primeiro general na história da Rússia.
2. Jan Hendrik van Kinsbergen
Em 1771, o oficial naval holandês Jan Hendrik van Kinsbergen, que já tinha experiência militar de 20 anos, tendo realizado uma expedição às Índias Ocidentais e outra à costa do Norte da África, decidiu ir para a distante Rússia.
Os militares russos estavam buscando marinheiros experientes, e Kinsbergen era bem-vindo. Ele recebeu um esquadrão sob seu comando e, em pouco tempo, se tornou a estrela da guerra russo-turca. O holandês atacou muitas vezes o inimigo e, mesmo este sendo numericamente superior, lhe infligiu graves perdas e o forçou a retirar seus navios.
“Tenho a honra de relatar sobre o capitão e cavaleiro Kinsbergen que é um excelente e corajoso oficial naval, digno de promoção em todos os aspectos”, escreveu o contra-almirante Aleksêi Seniávin no documento de premiação.
Em 1775, logo após o fim da guerra, o holandês deixou a Rússia, apesar da própria imperatriz Catarina 2ª ter lhe pedido que permanecesse no serviço. Na Holanda, Jan Kinsbergen ascendeu ao posto de almirante e chegou a chefiar as forças navais da república.
3. John Paul Jones
Capitão norte-americano de ascendência escocesa, John Paul Jones é considerado um dos pais da Marinha norte-americana. Durante a Guerra da Independência, ele se tornou um dos principais oficiais da Marinha Continental dos Estados Unidos e obteve mais sucesso em batalhas navais do que os demais.
Logo após o fim do conflito, o capitão encontrou uso para seus talentos no distante Império Russo, onde foi promovido a contra-almirante. Em junho de 1788, no comando de um esquadrão de 11 navios, ajudou a derrotar a frota turca perto da fortaleza de Otchakov, no Mar Negro. O inimigo perdeu 15 navios e 6 mil soldados; outros 15 mil foram feitos prisioneiros.
Na Rússia, John Paul Jones esperava seguir uma carreira brilhante, que foi arruinada por um escândalo sexual de grande repercussão: ele foi acusado de estuprar uma menina de dez anos. Mesmo com as acusações tendo sido retiradas após a investigação, ele se tornou persona non grata na Rússia. Em agosto de 1789, o comandante naval foi forçado a deixar o país às pressas.
4. Gomes Freire de Andrade
Filho do enviado português em Viena, Gomes Freire de Andrade nunca pensou em ir à longínqua Rússia. Ele fez carreira militar em Portugal, alternando o serviço entre o exército terrestre e a marinha do país.
No entanto, sem oportunidade de participar de uma grande guerra, Gomes acabou deprimido e, em 1788, com a permissão da corte real, partiu para a guerra russo-turca. Nela, junto com o exército Iekaterinoslávski, participou do cerco à fortaleza Otchakov (hoje uma cidade no sul da Ucrânia).
Na manhã gelada de 17 de dezembro as tropas russas atacaram, e Gomes Freire foi um dos primeiros a escalar as muralhas da cidadela. Por decreto da imperatriz Catarina 2ª, o bravo português foi condecorado com a ordem militar de São Jorge.
Mas somente uma guerra não foi suficiente para Gomes e, em 1789, ele recorreu ao comando russo com um pedido para mandá-lo para o mar Báltico, onde, naquela época, já estavam em andamento operações militares contra a Suécia.
Devido a seu excelente comando das baterias flutuantes e de um navio lento com artilharia pesada durante a Primeira Batalha de Rochensalm, em 24 de agosto, ele foi premiado com uma espada de ouro "Por Sua Coragem" e promovido a coronel.
“É bom ouvir os elogios que não só os chefes, mas também seus camaradas expressam pela coragem, diligência e trabalho ativo do comandante Gomes Freire de Andrade”, relatou o Secretário da Missão Portuguesa em São Petersburgo, Noronha Torresana, ao ministro português. Em 1791, após o fim das guerras contra turcos e suecos, Gomes Freire de Andrade retornou à sua terra natal.
O português ainda voltaria à Rússia em 1812 mas, desta vez, numa visita nada amigável: como oficial da Legião Portuguesa, ele participou naquele ano da invasão do Grande Exército de Napoleão ao Império Russo.
Gomes não participou efetivamente de batalhas contra seus ex-companheiros de armas, já que servia como governador militar da cidade de Disna (que hoje faz parte da Bielorrússia, no norte do país). No final de 1812, ele deixou para sempre a Rússia, junto com os poucos remanescentes das tropas francesas.
5. Louis-José de Bourbon
Muitos franceses não aceitaram a revolução de 1789 e lutaram nas fileiras dos exércitos estrangeiros para restaurar a monarquia. A formação monarquista de imigrantes mais bem-sucedida foi o corpo de Louis-José de Bourbon, Príncipe de Condé.
Durante muitos anos, os soldados de Condé lutaram junto com os austríacos mas, após a derrota e a retirada da Áustria da guerra em 1797, o príncipe foi forçado a procurar um novo patrono.
O então imperador russo Paulo 1º ajudou os monarquistas e, por acordo com o rei francês no exílio, Luís 18º, aceitou o corpo em serviço. Os franceses receberam novos uniformes e estandartes que combinavam símbolos heráldicos russos e franceses.
Nas fileiras do exército russo, os monarquistas de Condé participaram da guerra da Segunda Coligação Anti-Francesa. Quando a Rússia saiu do conflito, em 1800, o corpo passou à Grã-Bretanha. Em agradecimento pelo serviço fiel, os soldados ficaram com todos os seus equipamentos, armas, uniformes e cavalos.
6. Levin August von Bennigsen
O tenente-coronel do exército de Hanover, Barão Levin August Gottlieb Theophil von Bennigsen, entrou no serviço russo em 1773. Ele participou das guerras contra os poloneses, turcos e persas, e por sua bravura recebeu diversas medalhas, uma espada de ouro com diamantes, além de grandes mansões com servos.
Em 7 de fevereiro de 1807, perto da cidade de Preussisch-Eilau (atual Bagrationovsk, na região de Kaliningrado, na Rússia), na Prússia Oriental, o exército russo, sob o comando de Bennigsen, lutou contra as tropas de Napoleão. Nenhum dos lados conseguiu uma vitória decisiva, mas para os franceses a batalha foi um fracasso total, porque abalou a fé dos soldados na invencibilidade de seu imperador.
Esse líder militar também lutou contra os franceses durante a Guerra Patriótica de 1812 e a campanha externa do exército russo entre 1813 e 1814. Logo após o fim das hostilidades, ele pediu demissão e voltou para sua terra natal, Hanover, onde passou os últimos anos de vida.
7. Jaime de Bourbon
Pretendente ao trono da Espanha, o duque de Madri Jaime de Bourbon pouco visitava a Península Ibérica, devido aos fracassos que os Bourbons espanhóis sofreram na luta pelo poder no país.
O duque Jaime viveu e estudou em diversos países europeus até chegar à Rússia, em 1896, onde uma brilhante carreira militar o aguardava. O espanhol, que ascendeu ao posto de coronel, conseguiu servir na guarda imperial, participou da intervenção da Aliança das Oito Potências na China, em 1900, e da Guerra Russo-Japonesa de 1904-1905.
No campo de batalha, o aristocrata espanhol sempre esteve na linha de frente, demonstrando enorme coragem. Em uma das batalhas contra o exército japonês, o general russo Aleksandr Samsonov tentou levar o duque para fora da área de perigo, lembrando-o de que a Espanha precisava dele vivo. “General, se eu fosse um covarde, não seria digno do meu país!”, teria respondido Jaime de Bourbon.
O duque de Madrid, que deixou o serviço russo em 1910, nunca se tornou rei. Nos vinte anos que se seguiram, ele continuou a percorrer diversos países europeus, visitando periodicamente a Espanha, até terminar seus dias em Paris, em 1931.
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