A verdadeira história por trás da icônica foto de um comandante de batalhão na 2ª Guerra Mundial

História
EKATERINA SINELSCHIKOVA
O ‘Comandante do Batalhão’, de Max Alpert, é uma das fotografias mais famosas da Grande Guerra Patriótica. Mas, por um bom tempo, essa fama não chegou à pessoa retratada nela.

A foto ‘Kombat’ (“Comandante de Batalhão”) do correspondente de guerra Max Alpert mostra um comandante convocando suas tropas para a batalha. Com status icônico semelhante a “Erguendo a bandeira da Vitória sobre o Reichstag”, de Khaldei, ou ao monumento “Mãe Pátria”, estampou as capas de revistas nos EUA e até foi impressa em selos postais do Congo em 1985.

Alpert capturou a figura do homem em 12 de julho de 1942, na frente sul, durante a batalha de Vorochilovgrad (atual Lugansk) e assumiu que se tratava de um comandante de batalhão, dando, assim, o nome à fotografia. A verdadeira história do homem, porém, só se tornou conhecida nos anos 1970.

Última foto de sua vida

A história de como a foto foi feita seria encontrada mais tarde nas memórias de Alpert de 1962. O batalhão foi indicado pelo quartel-general, e o fotógrafo – que nunca havia estado em um campo de guerra antes – saiu para capturar a contraofensiva. Alpert foi às trincheiras em busca do comandante.

“Ele se mostrou um homem modesto e sociável, que trabalhava em algum departamento de fábrica antes da guerra”, escreveu Alpert.

O fotógrafo decidiu não incomodar os soldados que se preparavam para um dia difícil e evitou perguntas desnecessárias. “Os soldados, falando em voz baixa, concentravam-se na preparação para a ofensiva, na limpeza e verificação das armas e equipamentos, escrevendo cartas a entes queridos… Recebi a permissão do comandante do batalhão para estar por perto nesses momentos decisivos”, descreveu Alpert em suas memórias.

Antes do início da ofensiva, o comandante levantou-se da trincheira, ergueu seu canhão TT e deu a ordem de ataque: “Aos gritos de ‘urra!’, os soldados se lançaram à batalha. Esse foi o momento que consegui capturar. Minutos depois veio a notícia: ‘O comandante do batalhão morreu!’. Nunca consegui descobrir seu sobrenome, pois fui imediatamente chamado de volta à sede.”

Trinta anos depois

A fotografia que retrata os últimos minutos de vida do comandante do batalhão foi uma das centenas tiradas naquele dia. E jamais chegou a qualquer jornal na época. Passou anos na coleção pessoal do fotógrafo, antes de finalmente ser publicada no jornal ‘Pravda’ em 1974, para marcar mais um aniversário da vitória sobre os nazistas.

Após a publicação da foto, o autor recebeu centenas de cartas de pessoas alegando que a imagem retratava um parente seu. Pelo menos um homem afirmou ter se reconhecido na fotografia. Uma carta de Zaporojie, no entanto, afirmava que a figura pertencia a um certo Aleksêi Gordeevitch Iermenko, um enviado político que desapareceu em combate em 14 de janeiro de 1942.

O jornalista nem teria prestado atenção (sobretudo devido à discrepância de datas; sua foto foi tirada seis meses depois), se não fosse por um fato: a carta chegou com várias fotos retratando o próprio comandante.

Alpert iniciou uma investigação que duraria dois anos. Solicitou mais fotos e fez perguntas sobre o suposto comissário político, Ieremenko. Acontece que o mesmo batalhão tinha outro Ieremenko – um cadete com as mesmas iniciais – lutando lado a lado com o comandante. Foi este quem desapareceu em 1942, e a família do comandante recebeu por engano a notícia de seu sumiço.

Mas e o comandante do batalhão?

O comissário político Aleksêi Ieremenko, de 36 anos, nasceu em uma família simples e, aos 14 anos, já trabalhava em uma ferrovia para ganhar dinheiro para ajudar os familiares. Logo seria transferido para uma fábrica, antes de iniciar sua carreira partidária, tornando-se presidente da fazenda coletiva “Avangard”. Também presidiu fazendas de criação de gado, porcos e cavalos.

Quando a guerra começou, Ieremenko tinha a desculpa oficial que o protegia de servir, mas não estava disposto a ficar de fora da luta, na retaguarda, então acabou se voluntariando para a frente. No verão de 1942, serviu como comissário júnior, condizente com um tenente. Mas, em seu último dia de vida, teve que substituir o comandante da unidade ferido e assumiu a responsabilidade de enviar os soldados para a batalha — isso levou Alpert a confundi-lo com o verdadeiro comandante.

Aleksêi Ieremenko foi enterrado em uma vala comum perto da aldeia de Khorocheie, na região de Lugansk. Anos depois, foi erguido um monumento em sua homenagem, inspirado na famosa fotografia de Alpert. A sua silhueta também pode ser vista em moedas russas emitidas em 1995, bem como nos selos postais “Vitória” de 1985.

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