Batalha de Kursk, o ponto final para os nazistas na Segunda Guerra Mundial; veja fotos

Ivan Cháguin/Sputnik
Há 80 anos, aconteceu a Batalha de Kursk, fundamental para o resultado da Segunda Guerra Mundial. Mais de 3 milhões de soldados, 6 mil tanques e 4 mil aviões de combate participaram do combate. Até então, os alemães acreditavam que as tropas soviéticas só avançariam no inverno.

Em 5 de julho de 1943, perto de Kursk, começou uma das batalhas mais importantes da história da Segunda Guerra Mundial, decisiva para a Alemanha tentar recuperar a liderança no confronto contra a União Soviética, perdida após o fiasco de Stalingrado.

Após o cerco do 6º Exército de Friedrich Paulus em Stalingrado, a Wehrmacht e seus aliados romenos, húngaros e italianos continuaram a sofrer derrotas na frente de batalha. Sob pressão crescente das tropas soviéticas, os nazistas recuaram centenas de quilômetros para oeste.

Somente em meados do primeiro semestre de 1943, os alemães conseguiram se recuperar e até retomar as cidades de Kharkov e Belgorod. Como resultado dos combates, foi formada uma enorme saliência, que penetrou profundamente nos territórios controlados pelas tropas alemãs. Essa zona ficou conhecida como Arco de Kursk.

As tropas soviéticas concentradas nessa zona ameaçaram os flancos e a retaguarda dos Grupos de Exércitos Alemães Centro e Sul. Do seu lado, os alemães, caso tivessem sucesso nos combates, poderiam “cortar” o Arco e prender as grandes forças do Exército Vermelho.

Destruidores de tanques alemães Marder III a caminho.

Era nisto que consistia o plano ofensivo “Cidadela”, desenvolvido pelo Alto Comando Supremo das Forças Armadas Alemãs. Na sua ordem de 15 de abril de 1943 está escrito: “Esta ofensiva é de altíssima importância. Deve terminar com um sucesso rápido e decisivo. As melhores formações, as melhores armas, os melhores comandantes e uma grande quantidade de munições devem ser utilizadas na direção dos ataques principais. A vitória em Kursk deve ser um sinal para o mundo inteiro”.

No total, as forças de ataque nazistas eram formadas por mais de 900 mil pessoas, cerca de 10 mil canhões e morteiros, até 2,7 mil tanques e canhões de assalto, além de cerca de 2 mil aeronaves. Isso equivalia a quase 70% de todos os tanques, 30% de todas as divisões motorizadas, 20% de todas as divisões de infantaria e 65% de todas as aeronaves de combate que participaram da guerra contra a URSS.

Mas o Exército Vermelho não ficou parado. Antes da batalha, o comando militar soviético concentrou 1,3 milhão de soldados, mais de 26,5 mil canhões e morteiros, mais de 4,9 mil tanques e instalações de artilharia autopropulsada e cerca de 2,9 mil aeronaves na área.

Mesmo tendo alcançado uma vantagem quantitativa sobre o inimigo em todos os aspectos, o comando do Exército Vermelho, porém, decidiu agir na defensiva. No relatório para Stálin de 8 de abril, o marechal Gueôrgui Jukov escreveu: “Considero inconveniente que as nossas tropas partam para a ofensiva nos próximos dias, a fim de antecipar o inimigo. Seria melhor esgotar as forças do inimigo, derrubar seus tanques e depois, introduzindo novas reservas, passar para a ofensiva geral. Assim, poderemos acabar finalmente com o principal agrupamento inimigo".

As tropas soviéticas criaram uma defesa poderosa do Arco de Kursk, que incluía oito linhas de defesa com uma profundidade total de 250 a 300 km. As tropas que se preparavam para bloquear a ofensiva estavam apoiadas pela artilharia. Assim, na zona do 13º Exército havia mais de 90 armas de artilharia e morteiros por quilômetro de frente - em nenhuma das operações defensivas anteriores houve tal quantidade de artilharia.

Tripulação de morteiro soviético em combate.

O sucesso da ofensiva alemã dependia em grande parte da repentinidade do primeiro ataque. No entanto, a inteligência soviética conseguiu descobrir a data de início da operação e, na madrugada de 5 de julho, pouco antes do início da operação "Cidadela", a artilharia soviética lançou um ataque massivo preventivo contra posições inimigas.

“As unidades nazistas foram pegas de surpresa. O inimigo pensou que as forças soviéticas tinham começado a ofensiva. Isso trouxe confusão às fileiras dos soldados alemães. O inimigo perdeu cerca de duas horas colocando suas tropas em ordem”, escreveu o marechal Konstantin Rokossóvski, comandante da Frente Central.

Depois disso, dois agrupamentos alemães lançaram uma ofensiva em grande escala nas frentes norte e sul do Arco de Kursk. Eles pretendiam romper as defesas soviéticas e unir-se na região da cidade de Kursk, cercando, assim, quase todo o Exército Vermelho.

Tanques alemães Panzer VI “Tiger” na Batalha de Kursk.

“Atacadas por uma avalanche de aço, nossas tropas se sacrificaram ao máximo, usando todos os meios para derrotar o inimigo. Canhões de 45 milímetros também foram usados contra tanques. Eles não conseguiam penetrar na armadura dos [tanques] ‘Tigre’. A gente atirava de perto nos trilhos. Sob fogo pesado, sapadores e soldados de infantaria aproximaram-se dos veículos inimigos parados, colocaram minas sob eles e atiraram granadas e coquetéis molotov. Naquela época, as subunidades de fuzileiros isolaram a infantaria que seguia os tanques com seu fogo e a exterminaram com contra-ataques", escreveu Rokossóvski.

Enfrentando a feroz resistência das tropas soviéticas na frente norte, os alemães conseguiram avançar entre 6 e 8 km. Em 12 de julho, com seu potencial ofensivo totalmente esgotado, os alemães passaram para a defensiva.

Tripulações antitanque na Batalha de Kursk.

Na frente sul do Arco de Kursk, eles conseguiram resultados melhores. “As primeiras posições defensivas do inimigo foram rompidas com relativa facilidade, vários assentamentos foram tomados. Já no segundo dia, a resistência dos russos se intensificou. Em particular, as armas antitanque soviéticas causavam muitos problemas”, escreveu um soldado da Divisão Motorizada de Granadeiros “Grossdeutschland”, Kurt Goetzschmann. 

Sofrendo enormes perdas, as tropas alemãs não conseguiram romper as defesas soviéticas e entrar no espaço operacional. Então, em vez de irem para Kursk pela cidade de Oboian, eles seguiram por um caminho indireto pela vila de Prokhorovka. O 5º Exército de Guardas e o 5º Exército de Tanques foram lançados em direção ao 2º Corpo Panzer SS nesta direção. Inicialmente, o comando soviético não queria usar esses exércitos na fase defensiva da batalha.

Em 12 de julho, perto da vila de Prokhorovka começou uma enorme batalha de tanques, na qual participaram mais de 1.000 veículos blindados. “Isso não pode ser descrito em palavras, tudo ao redor estava em chamas: equipamentos, terrenos, pessoas… Fogo sólido. Aterrissamos em nosso [biplano Polikarpov] PO-2 perto dos postos de comando das brigadas de tanques, perto do campo de batalha, corremos pelas brechas para o posto de comando, entregamos o pacote secreto e decolamos novamente do mar de fogo. Após cada voo, os mecânicos consertavam dezenas de buracos nos aviões. Prokhorovka é a coisa mais horrível que eu vi na guerra”, escreveu o piloto soviético Iakov Sheinkman, testemunha da batalha.

No fim do dia, 400 tanques foram deixados em chamas no campo de batalha, mas nenhum dos lados obteve vantagem.

Naquele momento já estava claro que a operação "Cidadela" tinha falhado. Em 12 de julho, as tropas das frentes Ocidental e Briansk passaram à contra-ofensiva, e, em 15 de julho, foi a vez das tropas da Frente Central.

Durante a ofensiva que se seguiu, as tropas soviéticas avançaram 150 km para oeste. Em 5 de agosto, foram libertadas as cidades de Orel e Belgorod. Em comemoração, foi feita uma salva de tiros pela primeira vez em Moscou. Em 23 de agosto, o Exército Vermelho entrou em Kharkov, encerrando a batalha de Kursk.

Soldados alemães perto de Prokhorovka.

Durante seis semanas de batalhas, as perdas das tropas soviéticas ultrapassaram mais de 800 mil pessoas, das quais 255 mil foram mortas e desaparecidas. Os alemães perderam entre 400 mil e 500 mil soldados.

“As forças blindadas, reabastecidas com tanta dificuldade, ficaram fora de ação por muito tempo devido às pesadas perdas de pessoas e equipamentos. Sua restauração aconteceu em tempo para a condução de operações defensivas na Frente Oriental, bem como para a organização da defesa no oeste, caso houvesse um desembarque dos Aliados em meados do primeiro semestre, o que era difícil de ocorrer. Os russos, obviamente, foram rápidos em explorar seu sucesso. Não houve mais dias tranquilos na Frente Oriental, segundo escreveu o general alemão Heinz Guderian.

Derrotados, os alemães foram forçados a esquecer a realização de grandes operações ofensivas e passaram a se defender ao longo de toda a extensão da frente soviético-alemã. O Exército Vermelho, por sua vez, tomou a iniciativa estratégica e não a perdeu até ao final da Segunda Guerra Mundial.

Tanquistas soviéticos sobre um Tiger inutilizado.

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