A cinebiografia do diretor Cristopher Nolan sobre Robert Oppenheimer, o chefe do ‘Projeto (Nuclear) Manhattan’, estreou na sexta-feira (21), e a trama inclui uma parte altamente ambígua da biografia do cientista – seus laços com os comunistas. Mas havia algum mesmo?
‘O pai da bomba atômica’
Foi assim que Oppenheimer acabou sendo apelidado devido ao seu trabalho no Projeto Manhattan. Em 1945, após o teste da bomba ‘Trinity’, os Estados Unidos se tornaram o primeiro país do mundo a possuir armas nucleares.
Vinte anos depois, o próprio Oppenheimer disse: “Sabíamos que o mundo não seria o mesmo. Algumas pessoas riram, algumas pessoas choraram, a maioria ficou em silêncio.”
O trabalho no projeto ultrassecreto começou no início da década de 1940, na véspera de os EUA se juntarem aos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Os norte-americanos temiam que os nazistas fossem os primeiros a desenvolver a bomba atômica – marcando a corrida armamentista nuclear.
Oppenheimer foi convidado a chefiar o projeto, pois era bastante conhecido na comunidade científica por seus estudos sobre partículas subatômicas.
A fabricação da bomba foi concluída quando os nazistas já haviam sido derrotados. Assim, o primeiro e único uso de um explosivo nuclear só ocorreu quando os EUA bombardearam as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, matando aproximadamente 110.000 pessoas.
Após esse acontecimento, Oppenheimer foi ao encontro do presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, e teria dito a ele: “Tenho sangue em minhas mãos…” — ao tomar ciência do terrível poder de sua criação.
Em outubro de 1945, Oppenheimer renunciou a seu cargo. Mas nunca foi contra as armas nucleares em geral; mesmo quando foi proposta a ideia de desenvolver bombas de hidrogênio, ele não se opôs — apenas não ficou entusiasmado com a ideia, pois acreditava que tal bomba seria muito poderosa para ser usada no campo de batalha e que os EUA deveriam se concentrar na produção de bombas como a de Hiroshima.
Por que Oppenheimer foi tachado de comunista?
Ao que parece, as alegações de espionagem para a URSS não passaram de tentativas de vencer Oppenheimer na luta administrativa sobre a produção de bombas de hidrogênio. O cientista era muito influente no início dos anos 1950. Como presidente do conselho consultivo da Comissão de Energia Atômica e diretor do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, sua oposição à produção da bomba podia realmente afetar o orçamento futuro.
Os serviços de inteligência dos EUA dispunham, porém, de algumas cartas na manga. A esposa de Oppenheimer, seu irmão e alguns amigos do cientista já haviam sido membros do Partido Comunista e o próprio Oppenheimer participara de várias reuniões. Além disso, ele apoiou abertamente algumas das ideias do partido e tinha sido um defensor da causa antifascista na guerra civil espanhola. Ninguém jamais provou que ele foi recrutado pelos serviços de inteligência soviéticos ou passou qualquer tipo de informação aos comunistas. No entanto, bastava manter relações amistosas com membros do partido para ser acusado de deslealdade na era da Guerra Fria.
O tribunal que conduziu as respectivas audiências em 1954 votou pela revogação da autorização (segurança da informação) de Oppenheimer e ele foi dispensado de seu cargo na Comissão de Energia Atômica. Mais tarde, Oppenheimer foi redimido em duas ocasiões — em 1959 e 1963. Em 1959, um dos ex-colegas de Oppenheimer testemunhou que a campanha contra o cientista não passou de vingança; em 1963, o presidente Lyndon Johnson concedeu a Oppenheimer o prestigioso Prêmio Fermi.
Em 2022, o Departamento de Energia dos EUA admitiu que o tribunal de Oppenheimer havia sido falho e tendencioso.
LEIA TAMBÉM: Como os soviéticos usaram uma arma termonuclear para apagar um grande incêndio
O Russia Beyond está também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos em https://t.me/russiabeyond_br