A goma de mascar seguiu o destino de muitos outros produtos que não correspondiam ao ideário soviético: ela não foi oficialmente proibida, mas era condenada.
Assim, o chiclete se tornou um verdadeiro “fruto proibido” para crianças e adolescentes soviéticos. Eles buscavam a guloseima estrangeira apaixonadamente e chegavam até a pedir chicletes a estrangeiros - arriscando-se a ter problemas com polícia.
Produto inimigo
Até os anos 1970, a goma de mascar não era produzida na URSS. Poucos soviéticos conheciam o produto, que descobriam em suas viagens de negócios para o exterior - eles eram, principalmente, funcionários diplomáticos, suas famílias e tradutores.
A goma de mascar era condenada pelos ideólogos soviéticos como "um reflexo da insensatez do sistema capitalista" e "o símbolo de uma cultura americana hostil".
Com o enfraquecimento da Cortina de Ferro após a morte de Stálin, os elementos da cultura ocidental começaram pouco a pouco a penetrar na realidade soviética, já que, em 1955, uma quantidade um pouco maior de cidadãos soviéticos tiveram a oportunidade de viajar para o exterior.
O historiador de arte Mikhail Guerman descreve como tentava sair da URSS: “Consegui um atestado médico de que estava apto a viajar porque eu tinha amigos médicos. Mas mesmo que a pessoa fosse saudável, ela não conseguia esse documento em condições normais... Ela podia estar apta para o serviço militar, mas não era considerada apta para viajar ao exterior.”
Os soviéticos autorizados a sair do país tinham o direito de levar consigo e trocar uma quantia bastante limitada de dinheiro. Assim, todos tentavam comprar algo mais pomposo que chicletes.
Chiclete envenenado
Não se sabe ao certo quando exatamente a goma de mascar chegou à União Soviética. Provavelmente, a primeira onda de popularidade ocorreu durante o 4º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, em Moscou, em 1957.
Muitos convidados estrangeiros visitaram a capital soviética para o evento e, às vezes, presenteavam os moradores locais com chicletes. Se uma troca amigável se transformasse em ação comercial, ela era considerada "fartsovka" - a compra e venda ou a troca com estrangeiros, que era passível de ser punida com prisão. Isso, porém, não impedia a juventude soviética.
O "boom" seguinte das gomas de mascar ocorreu durante as Olimpíadas de 1980.
Nas cidades da URSS onde competições eram realizadas, começaram a se espalhar rumores de que os policiais visitavam escolas e fábricas para alertar que era perigoso fazer contatos com estrangeiros e que os chicletes podiam estar envenenados ou recheados com giletes.
Os policiais explicavam que aceitação de qualquer presente significava “admiração pelo Ocidente” e que as pessoas que aceitassem presentes corriam o risco de serem recrutadas pela inteligência estrangeira.
No entanto, muitos jovens soviéticos ignoravam as proibições. Para eles, a goma de mascar era um símbolo da atraente e inacessível vida ocidental.
"Bubble gum patriótico"
A URSS começou a produzir goma de mascar após os trágicos acontecimentos de 1975 no parque Sokôlniki, em Moscou. Foi então que as equipes juvenis de hóquei da URSS e do Canadá se enfrentaram em jogos no estádio no parque.
O patrocinador da seleção canadense era o fabricante da goma de mascar "Wrigley". No final do jogo, os espectadores soviéticos correram para a saída do estádio, onde os canadenses começaram a distribuir chicletes de graça.
No entanto, a saída foi bloqueada e a luz do estádio de repente se apagou. Dizia-se que as luzes tinham sido apagadas propositalmente para que jornalistas estrangeiros não pudessem filmar a correria dos adolescentes soviéticos em busca de chicletes. Isso levou a um enorme tumulto e à morte de 21 pessoas pisoteadas - 13 delas não tinham sequer completado os 16 anos.
Após a tragédia, o governo passou a permitir a produção de chicletes na URSS. A primeira fábrica foi construída na Armênia. Nas lojas soviéticas, surgiram chicletes com sabor de morango, laranja, menta e café.
Após o lançamento da produção, o culto aos chicletes começou a desaparecer. Nos anos 1990, após a queda da URSS, quando as mercadorias importadas inundaram o mercado russo, as gomas de mascar estrangeiras rapidamente substituíram as soviéticas.
Crianças e adolescentes ganharam um novo item de troca: o duríssimo chiclete "Turbo", que vinha com imagens de carros ou tatuagens de decalque dentro.
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