5 curiosidades sobre Sérgio de Radonej, o principal santo russo

Domínio público
Quer saber para que santo os estudantes russos rezam antes de provas cabulosas? Ele é o mesmo monge que teria salvado a Rússia das invasões tártaro-mongóis no século 15, reverenciado até hoje tanto por cristão ortodoxos, como por católicos e velhos crentes.

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1. Seu nome verdadeiro não é Sérgio (e ele não vinha de Radonej)

São Sérgio de Radonej (também grafado em português como Sérjilo de Radonege ou Sêrgui Rádonehski ou Sergio de Rádonej) nasceu na região da Grande Rostóvia (hoje, cidade de Rostov Velíki), a 150 km da cidade de Rádonej. A data exata do nascimento do santo é desconhecida, mas acredita-se que ele tenha nascido em 1314.

“A juventude do venerável Sérgio”, 1892-1897.

Hoje, Rostov é uma pequena cidade provincial na região de Iaroslavl, mas, no início do século 14, foi um principado próspero e um dos principais centros culturais da Rus medieval. Muito provavelmente, Sérgio estudou grego nessa cidade.

Rostov foi invadida diversas vezes pelos tártaros-mongóis e quase foi destruída. Quando Sérgio tinha 12 anos, seu pai decidiu partir com a família para Rádonej, uma cidade mais próxima de Moscou, que era considerada segura. Naquela época, Moscou, que ainda não era capital, já ganhava peso político.

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Na primeira biografia de Sérgio, "A Vida escrita por seu discípulo Epifânio, o Sábio", no início do século 15, eram descritos os milagres e as profecias que ele realizara em vida. Mas as vidas de todos os santos eram escritas seguindo um cânone estrito e, assim, descrições semelhantes também podem ser encontradas em biografias de outros.

A famosa pintura de Mikhail Nésterov “Visão ao jovem Bartolomeu” (1890) retrata Sérgio de Radonej, cujo nome verdadeiro era Bartolomeu. Ele se tornou Sérgio depois de tonsurado como monge.

Aos sete anos de idade, ele teve problemas com os estudos, e não conseguia aprender a ler e escrever. Reza a lenda que, na época, Bartolomeu conheceu um velho, a quem reclamou de seu infortúnio.

O velho orou pelo rapaz e deu-lhe um pedaço de prósfora sagrada. Logo Bartolomeu aprendeu efetivamente a ler e escrever. Imediatamente ele desenvolveu um interesse pelas Sagradas Escrituras e, como está escrito em sua biografia, passou a orar à noite e a fazer o mais estrito jejum, voluntariamente, ainda na adolescência.

É por isso que Sérgio é considerado o patrono de todos os estudantes até hoje. É para ele que eles rezam na igreja antes do início do ano letivo (e, não menos importante, antes de fazer provas cabulosas).

2. Fundou o Mosteiro da Trindade-São Sérgio, o principal da Rússia

“Visão do jovem Bartolomeu”, 1890.

Um dos maiores méritos materiais de Sérgio até hoje é o Mosteiro da Trindade-São Sérgio (ou Laura da Trindade e São Sérgio), o mais importante da Rússia e centro espiritual da Igreja Ortodoxa Russa. Ele fica na cidade de Sêrguiev Possad, 70 km a norte de Moscou. Um possád, na Antiga Rus, era um território que cercava um mosteiro ou domínio principesco.

O jovem Sérgio decidiu ser eremita, um destino normalmente escolhido por monges idosos e sábios.

“A Sacra Trindade de Laura de São Sérgio

Junto com seu irmão, ele se estabeleceu em uma densa floresta, construiu uma pequena casa para servir de monastério e uma capela, que foi consagrada em homenagem à Santíssima Trindade.

O irmão não suportou a severidade do ascetismo e da vida solitária e logo deixou Sérgio. Mas, aos poucos, outros monges começaram a se estabelecer ao seu redor. Assim, ano 1342 é considerado a data de fundação daquele que é hoje o maior e mais famoso mosteiro russo.

3. Criou um novo tipo de monaquismo

“Tríptico. Os trabalhos de Sérgio de Rádonej”, década de 1890.

Sérgio também criou um novo sistema de comunidade monástica. Os monges eram proibidos de deixar o mosteiro para pedir comida (antes, muitos monges se tornavam pedintes). Quando a comida acabava, Sérgio e os membros de sua fraternidade apenas oravam pelo “pão de cada dia” e sempre acontecia um acaso que os salvava da fome.

“Por meio de uma solidão prolongada, cheia de trabalho e privação, em uma densa floresta, ele se preparava para se tornar o líder de outros habitantes do deserto”, escreveu o historiador, Vassíli Kliutchévski.

Estátua de Sérgio de Rádonej na Trindade Laura.

Ele tomava sob sua proteção os novos monges que chegavam ao seu mosteiro, ensinava boas maneiras, observava cuidadosamente para que orassem com fervor e não sucumbissem às tentações da vida mundana. Todos, inclusive o próprio Sérgio, tinham uma rotina diária rígida e trabalhavam incansavelmente: construíam igrejas, cozinhavam, cortavam lenha e costuravam roupas.

Sérgio criou um novo tipo de fraternidade que dava aos leigos um exemplo de comunidade cristã. Os monges eram muito pobres, às vezes ficavam dias sem comida, mas eram muito amigáveis e gentis com todos que os visitavam.

Desde o século 15, Sérgio é reverenciado na Rússia pelo ascetismo monástico, como um santo disfarçado de reverendo, ou seja, como um monge que, por meio de orações, jejuns e trabalhos, se esforçou para ser como Jesus Cristo. Hoje, Sérgio é reverenciado como um santo pela Igreja Ortodoxa, pela Igreja Católica e pelos Velhos Crentes.

4. Formou a mentalidade espiritual russa

Vista da Sacra Trindade de Laura de São Sérgio.

Após o começo da invasão tártaro-mongol, no século 13, as cidades russas foram saqueadas, queimadas e ficaram em ruínas. A Rus Antiga estava arruinada e seriamente prejudicada em seu desenvolvimento. Eles atacavam e saqueavam as cidades russas continuamente, enquanto os príncipes russos foram obrigados a pagar tributos ao Império Mongol.

Muitos mosteiros e templos foram destruídos, e a Igreja deixava ter importância como um guia moral sob essas condições.

Várias gerações de russos cresceram acreditando que os tártaros-mongóis não podiam ser derrotados no campo de batalha. Eles associavam o inimigo a uma força mística que não podia ser superada. Muitos russos estavam psicologicamente destruídos e deprimidos.

Para o historiador Vassíli Kliutchévski, os russos precisavam primeiro superar seu medo e acreditar em sua força para só então se livrar da invasão tártaro-mongol. E foi Sérgio quem desempenhou um papel importante no fortalecimento moral e espiritual do povo russo.

Ele começou consigo mesmo: Sérgio conseguiu combater seus "demônios" quando vivia sozinho no meio da floresta e superava o medo por meio de orações. Depois de ouvir falar do monge milagroso que derrotou os espíritos malignos, não apenas os monges, mas também os russos comuns passaram a se aglomerar no mosteiro, onde recebiam consolo e encorajamento de Sérgio. Segundo Kliutchévski, este foi o começo do renascimento moral e político do povo russo.

5. Uniu a Rússia

“O venerável Sérgio de Rádonej abençoa o sagrado Grande Príncipe Dmítri Donskói antes da Batalha de Culikovo”, 1880.

Pouco a pouco, o principado de Moscou se tornou uma ilha de segurança da Rússia. Ali se reuniam príncipes, boiardos e sacerdotes. Assim, Moscou se tornou uma espécie de capital não oficial russa e seu centro espiritual.

Nesse ambiente cresceu o príncipe que conseguiu realizar a primeira campanha militar bem-sucedida contra os tártaros-mongóis, Dmítri Donskói (também conhecido como Demétrio de Moscou, em português).

O príncipe Donskói, também reconhecido como santo, visitava o mosteiro de Sérgio, o qual aprovava sua intenção de reunir forças de todos os principados russos para lutar contra os tártaros-mongóis. Antes da terrível batalha de Culicovo (Kulikovo), ele abençoou Dmítri e enviou com ele dois de seus melhores monges guerreiros: Peresvet e Osliábia.

“O duelo de Peresvet com Tchelubei no campo Culikovo”, 1943.

“Parta para lutar contra os ímpios corajosamente, sem hesitação, e você vencerá”, disse o monge ao príncipe.

Segundo o acadêmico Dmítri Likhatchov, Dmítri Donskói, que contava com o apoio da Igreja, venceu também no confronto entre russos. “Moscou não era economicamente mais forte do que Tver ou Nóvgorod, mas estava na liderença espiritual”, escreveu Likhatchov.

A vitória do exército russo na Batalha de Culicovo marcou o início da libertação do domínio estrangeiro e da unificação das terras russas sob a liderança de Moscou.

O teólogo Pável Florénski (1882-1937) chamava Sérgio de Rádonej de "anjo da guarda" e "salvador espiritual" da Rússia.

“Graças a ele, o povo russo reconheceu seu lugar cultural e histórico, sua tarefa cultural e recebeu o direito histórico à independência”, escreveu.

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