A Maldição de Tamerlão: um túmulo medieval misteriosamente ligado à Segunda Guerra Mundial

Russia Beyond (Foto: w0zny; shakko (CC BY-SA 3.0); Getty Images)
Em junho de 1941, arqueólogos soviéticos exumaram o corpo do conquistador mongol medieval Tamerlão, em Samarcanda. No dia seguinte, os nazistas atacaram a URSS. Mas o mais impressionante é que, quando os restos mortais foram devolvidos a seu devido lugar, o curso da guerra mudou... e a favor da URSS.

“Hoje, o trabalho continuou no mausoléu Gur-Emir: antropólogos e químicos fizeram um estudo minucioso dos restos mortais de Timur. Os cientistas descobriram que restos de cabelo foram preservados no crânio. Existe agora a possibilidade de fazer um retrato bastante preciso do conquistador”, lê-se no jornal soviético Izvéstia de 21 de junho de 1941.

Por coincidência ou não, na madrugada seguinte a Alemanha nazista atacou a URSS. Surgiu então um mito muito difundido entre o povo soviético conhecido como "Maldição de Tamerlão", conectando esses eventos entre si.

Quem foi Timur?

 Pintura

Tamerlão, ou Timur, o Coxo, (1336-1405) foi um governante da Ásia Central, o fundador da dinastia e Império Timúrida. Ele começou como um guerreiro que reuniu seu próprio destacamento, depois se tornou um grande líder militar e assumiu um importante posto no estado turco-mongol do Mogolistão.

Mais tarde, ele foi eleito o primeiro governante do novo Estado Timúrida, que existiu até 1507 com capital em Samarcanda (atual Uzbequistão). Depois de conquistar muitas terras, Tamerlão passou a governar a maior parte da Ásia Central, bem como os territórios da Mesopotâmia e do Cáucaso, dos modernos Estados do Irã, Afeganistão, Paquistão e Síria.

Tamerlão não era descendente de Genghis Khan, o fundador do Império Mongol. Portanto, segundo a tradição mongol, ele não tinha o direito de ostentar o título de cã e era chamado de "Grande Emir". Mas, ao se casar com a filha de um descendente de Genghis Khan, ele conseguiu o título honorário de "Genro de Cã", que lhe rendeu mais liberdade de ação e poder.

As campanhas militares dele ficaram marcadas por selvagens massacres e uma brutalidade que excedeu em número e desumanidade os cometidos por seus antecessores. Segundo historiadores, as campanhas de Timur causaram a morte de cerca de 17 milhões de pessoas.

O Mausoléu de Tamerlão

 Mausoléu de Gur-Emir.

Além das conquistas, o "Grande Emir" fez muito para desenvolver a cultura, ordenando a construção de inúmeras obras arquitetônicas em Samarcanda. Por ordem dele, foi construído o mausoléu de Gur-Emir, onde Timur e alguns de seus descendentes foram enterrados posteriormente.

Gur-Emir é considerado um dos monumentos mais importantes da arquitetura islâmica, que influenciou muitos locais de culto. Gur-Emir também serviu de inspiração para o arquiteto da mesquita-mausoléu Taj Mahal, na Índia, que foi construída por ordem de um descendente de Tamerlão em meados do século 16.

A abertura da sepultura e a maldição de Tamerlão

A pedra tumular verde de Timur.

Arqueólogos decidiram abrir o túmulo de Tamerlão e seus descendentes e estudar seus restos mortais em 1941. Reza a lenda que a diretiva para o trabalho no Uzbequistão soviético foi supostamente assinada pessoalmente por Ióssif Stálin.

Não se sabe exatamente por que surgiu a ideia de exumar os corpos das sepulturas. Há quem diga que os trabalhos foram iniciados para preservar esses restos mortais, já que, à época, um hotel começou a ser construído próximo ao mausoléu e, durante as obras, a cripta começou a encher de água.

Abertura da tumba de Timur.

Oficialmente, a autópsia tinha sido programada para coincidir com o 500º aniversário do poeta uzbeque Alisher Navoi, que viveu no Estado Timúrida e era próximo dos netos e descendentes de Timur. Os cientistas esperavam revelar novos detalhes históricos ou encontrar artefatos que pudessem ser mostrados ao público.

O túmulo de Tamerlão era protegido por uma laje de jade, na qual estavam esculpidas as palavras em árabe: "Quando eu ascender dos mortos, o mundo vai tremer". Diz-se que quando o corpo foi exumado, uma inscrição adicional encontrada dentro do caixão foi, onde se lia: "Quem abrir meu túmulo soltará um invasor mais terrível do que eu".

Em junho, um grande grupo de cientistas soviéticos iniciou a autópsia. O cinegrafista Malik Kaiumov, que foi enviado para filmar o importante processo disse mais tarde em uma entrevista que, durante um intervalo, conheceu alguns anciãos que lhe haviam contado sobre a maldição: "É proibido abrir o túmulo, caso contrário se iniciará uma grande guerra", disseram.

Kaiumov chegou até a apresentá-los aos líderes da expedição, quando os anciãos lhes mostraram um livro do século 17, onde estava escrito em árabe: “Quem abrir o túmulo de Tamerlão liberará o espírito da guerra. Acontecerá um massacre tão sangrento e terrível como o mundo jamais viu".

Não supersticiosos, os cientistas deram continuidade ao trabalho. No dia seguinte, em 22 de junho de 1941, a Alemanha nazista atacou a URSS.
Segundo fontes não oficiais, até Stálin foi informado sobre a lenda e a maldição, e ordenou que os restos mortais fossem devolvidos ao seu lugar. Segundo os boatos, o ditador soviético estava pronto para colocar em prática qualquer superstição ou ritual místico que o levassem à vitória na guerra.

Entre 19 e 20 de novembro de 1942, ocorreu um enterro solene dos restos mortais exumados, em conformidade com todas as honrarias muçulmanas. Surpreendentemente, ocorreram nesses dias as batalhas mais importantes da Segunda Guerra, perto de Stalingrado, quando as tropas soviéticas lançaram uma contraofensiva bem-sucedida que levou ao início de uma virada radical no curso da guerra.

O que se revelou com a exumação?

Reconstrução de Tamerlão feita em 1941.

A abertura do túmulo foi de grande importância histórica. Depois de estudar o esqueleto e o crânio de Tamerlão, o chefe da expedição, o antropólogo Mikhail Gerássimov conseguiu fazer uma descrição detalhada de como era o governante medieval e até reconstruir seu retrato.

Ele descobriu que Tamerlão tinha características faciais mongóis típicas, cabelos ruivos-avermelhados, um bigode longo e a barba em forma de cone. Ele era bastante alto, especialmente para um mongol, com cerca de 170 cm.

Os arqueólogos também concluíram que a perna de Tamerlão tinha sido ferida, e é por isso que na Rússia e em alguns outros países ele era conhecido como Timur, o Coxo.

Tamerlão viveu até cerca de 68 anos, uma idade muito avançada para a época. No entanto, seus restos mortais indicavam que ele era incrivelmente forte na hora de morrer.

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