Os casamentos secretos de imperatrizes russas com seus amantes

História
ALEKSANDRA GUZEVA
Existem pelo menos duas lendas sobre como os tsarinas se casavam secretamente com seus amantes. Mas por que elas não podiam anunciar seus relacionamentos abertamente e quem eram esses maridos secretos?

Isabel da Rússia

A filha de Pedro, o Grande, tinha um temperamento fácil e um comportamento quase frívolo. Ela adorava trajes alegres, luxuosos, caros e reveladores e era frequentemente vista na companhia de diferentes rapazes. Pedro, o Grande, não conseguiu arranjar casamento para a filha — por exemplo, ele recebeu uma recusa do futuro rei francês Luís 15.

Ela quase não tinha chances de ascender ao trono – e seria a seguinte após seu sobrinho Pedro 2°, sua irmã mais velha Anna e seus descendentes. Mas, no final das contas, para tsarevnas como ela, o casamento era, antes de tudo, um ato político. Desde muito jovem, Isabel da Rússia percebeu que seus relacionamentos amorosos eram observados de perto.

Quando o jovem Pedro 2° ascendeu ao trono, Isabel ficou muito próxima dele. Corriam rumores de que Pedro 2° estava apaixonado por sua jovem tia — pelo menos, eles passavam muito tempo juntos em caçadas e piqueniques. Também existe a opinião de que um casamento foi planejado para eles, mas a Igreja não permitia que parentes tão próximos se casassem.

Os ilustres nobres Ménchikov e Dolgorukov, que praticamente governaram para Pedro 2°, conspiravam e competiam por influência e ficaram assustados com a relação íntima do jovem com Isabel. Eles temiam a influência dela sobre ele e, consequentemente, temiam perder o poder. Assim, eles planejavam casar o jovem Pedro com alguma de suas filhas. No entanto, Pedro morreu cedo e solteiro.

O primeiro casamento mal-sucedido de Isabel aconteceu enquanto Pedro ainda era vivo. Primeiro, ela teve um relacionamento com o major-general Aleksandr Buturlin e, depois, com um cortesão chamado Serguêi Naríchkin. Pedro 2° exilou e expôs ambos — ou porque tinha ciúmes de Isabel ou porque estava sob a influência de seus conselheiros.

Após a morte precoce do jovem Pedro 2°, Ana da Rússia, sobrinha de Pedro, o Grande, subiu ao trono. Durante seu governo, Isabel recebeu propostas de príncipes estrangeiros, mas, sentindo uma concorrência, Ana recusou todas por ela e condenou Isabel, que já tinha quase 30 anos, a uma vida de solteira.

O grande amor de Isabel que veio depois disso foi Aleksêi Razumôvski, um descendente de cossacos de Zaporojie. Dizia-se que ele era o homem mais bonito do Império Russo. Razumôvski ajudou Isabel a realizar um golpe e ascender ao trono, e após isso ele recebeu altas patentes e o título de conde.

Reza a lenda que Isabel se casou secretamente com Razumôvski na aldeia de Perovo, perto de Moscou, em 1742. A Igreja guardou por muito tempo as “provas” – tecidos rituais especiais, “véus” supostamente bordados pela própria Isabel. Depois, ela comprou toda a aldeia e construiu um palácio ali para Razumôvski.

Isabel não via sentido em revelar seu casamento ao público - ela já tinha mais de 30 anos e seu casamento com um homem de família não muito nobre poderia deixar a nobreza indignada. Além disso, Razumôvski podia ter suas próprias exigências em termos de poder.

Acredita-se que, sob o governo de Isabel, o nepotismo com amantes bateu recordes para aqueles tempos: Razumôvski desfrutava de poder ilimitado, influenciando fortemente a imperatriz e suas decisões.

Além da lenda do casamento secreto de Isabel, havia também rumores sobre seus filhos com Razumôvski. Embora a imperatriz oficialmente nunca tenha tido herdeiros, diziam que o casal poderia ter tido um filho e uma filha.

Especulava-se que a filha, conhecida como princesa Tarakánova, fora tonsurada à força como freira e vivera no convento Ivanovski, em Moscou, até a morte. Também houve muitos impostores que mais tarde afirmaram ser filhos de Isabel e Razumôvski.

Um desses impostores foi preso e encarcerado na Fortaleza de Pedro e Paulo por ordem de Catarina, a Grande. Oficialmente, Isabel foi solteira até o fim de seus dias.

Já aos anos, a imperatriz teve outro jovem favorito: o conde Ivan Chuvalov, que, com ela, se tornou educador e fundou a Universidade de Moscou e a Academia de Artes. No entanto, ela foi próxima de Razumôvski até a morte.

Catarina, a Grande

A lista de amantes reais e supostos de Catarina é de cerca de 20 homens. A natureza amorosa da imperatriz deu origem a rumores sobre uma inacreditável depravação que ocorria na corte.

Catarina, a Grande, era mulher de Pedro 3°, herdeiro de Isabel da Rússia que ela mesma escolhera. Pedro 3° era filho de sua irmã mais velha Ana (e neto de Pedro, o Grande). Dessa maneira, Isabel tentava consertar a ordem de sucessão interrompida.

Pedro cresceu na Alemanha – e não estava interessado na Rússia, no poder, ou em sua esposa alemã. No entanto, o casal imperial deu à luz um herdeiro - o futuro imperador Paulo 1° (que era tão impopular quanto seu pai).

Mais tarde, eles também tiveram uma filha, que morreu na infância. Pedro 3° aceitou a criança, mas duvidava abertamente de ser o pai. Reza a lenda que a menina era filha de Catarina com seu amante, o futuro rei polonês Estanislau 2°.

Pedro 3° tinha reputação de ser um homem estranho e seguia uma política muito impopular, por isso Catarina, com a ajuda da nobreza – e especialmente de seu amante Grigóri Orlov –, realizou um golpe no palácio em 1762.

Pedro 3° foi preso e, logo depois, morreu em circunstâncias misteriosas e Catarina 2° (também conhecida como Catarina, a Grande) assumiu o trono após a morte dele — afinal, Catarina 1° já tinha aberto caminho para isso quando se tornou imperatriz após a morte de seu marido, Pedro 1° (também conhecido como Pedro, o Grande). 

O interessante é que apenas alguns meses antes de subir ao trono, Catarina (em segredo do marido) deu à luz um filho de Grigóri Orlov. A imperatriz sequer tentou esconder o filho ilegítimo, conhecido como Aleksêi Bôbrinski, comprando propriedades e palácios para ele. Mais tarde, seu irmão, Paulo 1° até lhe concedeu o título de conde.

Grigóri Orlov foi amante de Catarina por mais de 10 anos e a imperatriz até quis se casar com ele depois de subir ao trono, mas foi dissuadida dessa ideia. Mais tarde, ela teve outros amantes e Orlov foi destituído do palácio.

Seu amante seguinte - e, aparentemente, o grande amor de Catarina - foi o príncipe Grigóri Potiômkin. Ele era 10 anos mais novo que a imperatriz e conquistava para ela novos territórios para o Império Russo.

O casamento secreto dos dois teria ocorrido em 1774 ou 1775. Muitas pessoas daquela época acreditavam que o casamento não era apenas um boato e realmente tinha acontecido.

Potiômkin desfrutava de influência e poder colossais, e por causa disso sempre brigava com a imperatriz. Ela entendia que ele não podia reivindicar o poder e, por isso, apesar de ser tão aberta quanto a seu amor a ele, não declarou-o seu marido.

Corriam boatos de que Catarina até chegou a dar à luz uma filha de Potiômkin, chamada Elizaveta Tiômkina, que ele apresentava como sua pupila. No entanto, muitos historiadores acreditam que é improvável que Tiômkina fosse filha de Catarina, já que a imperatriz já tinha mais de 45 anos quando de seu nascimento.

A HBO fez uma série muito bem fundamentada sobre o relacionamento entre Catarina e Potiômkin, chamada “Catarina, a Grande” e estrelada por Helen Mirren.

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