Os casamentos secretos de imperatrizes russas com seus amantes

Russia Beyond (Getty Images; Fiodor Rókotov/Galeria Tretiakov)
Existem pelo menos duas lendas sobre como os tsarinas se casavam secretamente com seus amantes. Mas por que elas não podiam anunciar seus relacionamentos abertamente e quem eram esses maridos secretos?

Isabel da Rússia

A filha de Pedro, o Grande, tinha um temperamento fácil e um comportamento quase frívolo. Ela adorava trajes alegres, luxuosos, caros e reveladores e era frequentemente vista na companhia de diferentes rapazes. Pedro, o Grande, não conseguiu arranjar casamento para a filha — por exemplo, ele recebeu uma recusa do futuro rei francês Luís 15.

Retrato de Isabel da Rússia feito por Vigilius Eriksen.

Ela quase não tinha chances de ascender ao trono – e seria a seguinte após seu sobrinho Pedro 2°, sua irmã mais velha Anna e seus descendentes. Mas, no final das contas, para tsarevnas como ela, o casamento era, antes de tudo, um ato político. Desde muito jovem, Isabel da Rússia percebeu que seus relacionamentos amorosos eram observados de perto.

Quando o jovem Pedro 2° ascendeu ao trono, Isabel ficou muito próxima dele. Corriam rumores de que Pedro 2° estava apaixonado por sua jovem tia — pelo menos, eles passavam muito tempo juntos em caçadas e piqueniques. Também existe a opinião de que um casamento foi planejado para eles, mas a Igreja não permitia que parentes tão próximos se casassem.

Retrato de Pedro 2° feito em 1800 por pintor desconhecido.

Os ilustres nobres Ménchikov e Dolgorukov, que praticamente governaram para Pedro 2°, conspiravam e competiam por influência e ficaram assustados com a relação íntima do jovem com Isabel. Eles temiam a influência dela sobre ele e, consequentemente, temiam perder o poder. Assim, eles planejavam casar o jovem Pedro com alguma de suas filhas. No entanto, Pedro morreu cedo e solteiro.

O primeiro casamento mal-sucedido de Isabel aconteceu enquanto Pedro ainda era vivo. Primeiro, ela teve um relacionamento com o major-general Aleksandr Buturlin e, depois, com um cortesão chamado Serguêi Naríchkin. Pedro 2° exilou e expôs ambos — ou porque tinha ciúmes de Isabel ou porque estava sob a influência de seus conselheiros.

Após a morte precoce do jovem Pedro 2°, Ana da Rússia, sobrinha de Pedro, o Grande, subiu ao trono. Durante seu governo, Isabel recebeu propostas de príncipes estrangeiros, mas, sentindo uma concorrência, Ana recusou todas por ela e condenou Isabel, que já tinha quase 30 anos, a uma vida de solteira.

O grande amor de Isabel que veio depois disso foi Aleksêi Razumôvski, um descendente de cossacos de Zaporojie. Dizia-se que ele era o homem mais bonito do Império Russo. Razumôvski ajudou Isabel a realizar um golpe e ascender ao trono, e após isso ele recebeu altas patentes e o título de conde.

Aleksêi Razumôvski.

Reza a lenda que Isabel se casou secretamente com Razumôvski na aldeia de Perovo, perto de Moscou, em 1742. A Igreja guardou por muito tempo as “provas” – tecidos rituais especiais, “véus” supostamente bordados pela própria Isabel. Depois, ela comprou toda a aldeia e construiu um palácio ali para Razumôvski.

Isabel não via sentido em revelar seu casamento ao público - ela já tinha mais de 30 anos e seu casamento com um homem de família não muito nobre poderia deixar a nobreza indignada. Além disso, Razumôvski podia ter suas próprias exigências em termos de poder.

Acredita-se que, sob o governo de Isabel, o nepotismo com amantes bateu recordes para aqueles tempos: Razumôvski desfrutava de poder ilimitado, influenciando fortemente a imperatriz e suas decisões.

Além da lenda do casamento secreto de Isabel, havia também rumores sobre seus filhos com Razumôvski. Embora a imperatriz oficialmente nunca tenha tido herdeiros, diziam que o casal poderia ter tido um filho e uma filha.

Especulava-se que a filha, conhecida como princesa Tarakánova, fora tonsurada à força como freira e vivera no convento Ivanovski, em Moscou, até a morte. Também houve muitos impostores que mais tarde afirmaram ser filhos de Isabel e Razumôvski.

Princesa Tarakanova (1864, Konstantin Flavitski).

Um desses impostores foi preso e encarcerado na Fortaleza de Pedro e Paulo por ordem de Catarina, a Grande. Oficialmente, Isabel foi solteira até o fim de seus dias.

Já aos anos, a imperatriz teve outro jovem favorito: o conde Ivan Chuvalov, que, com ela, se tornou educador e fundou a Universidade de Moscou e a Academia de Artes. No entanto, ela foi próxima de Razumôvski até a morte.

Catarina, a Grande

Catarina, a Grande (1794, Dmitri Levitski).

A lista de amantes reais e supostos de Catarina é de cerca de 20 homens. A natureza amorosa da imperatriz deu origem a rumores sobre uma inacreditável depravação que ocorria na corte.

Catarina, a Grande, era mulher de Pedro 3°, herdeiro de Isabel da Rússia que ela mesma escolhera. Pedro 3° era filho de sua irmã mais velha Ana (e neto de Pedro, o Grande). Dessa maneira, Isabel tentava consertar a ordem de sucessão interrompida.

Retrato de coroação de Pedro 3° por Lucas Conrad Pfandzelt, 1761.

Pedro cresceu na Alemanha – e não estava interessado na Rússia, no poder, ou em sua esposa alemã. No entanto, o casal imperial deu à luz um herdeiro - o futuro imperador Paulo 1° (que era tão impopular quanto seu pai).

Mais tarde, eles também tiveram uma filha, que morreu na infância. Pedro 3° aceitou a criança, mas duvidava abertamente de ser o pai. Reza a lenda que a menina era filha de Catarina com seu amante, o futuro rei polonês Estanislau 2°.

Pedro 3° tinha reputação de ser um homem estranho e seguia uma política muito impopular, por isso Catarina, com a ajuda da nobreza – e especialmente de seu amante Grigóri Orlov –, realizou um golpe no palácio em 1762.

Grigóri Orlov (1762, Fiodor Rókotov).

Pedro 3° foi preso e, logo depois, morreu em circunstâncias misteriosas e Catarina 2° (também conhecida como Catarina, a Grande) assumiu o trono após a morte dele — afinal, Catarina 1° já tinha aberto caminho para isso quando se tornou imperatriz após a morte de seu marido, Pedro 1° (também conhecido como Pedro, o Grande). 

O interessante é que apenas alguns meses antes de subir ao trono, Catarina (em segredo do marido) deu à luz um filho de Grigóri Orlov. A imperatriz sequer tentou esconder o filho ilegítimo, conhecido como Aleksêi Bôbrinski, comprando propriedades e palácios para ele. Mais tarde, seu irmão, Paulo 1° até lhe concedeu o título de conde.

Aleksêi Bôbrinski (1782, pintor desconhecido).

Grigóri Orlov foi amante de Catarina por mais de 10 anos e a imperatriz até quis se casar com ele depois de subir ao trono, mas foi dissuadida dessa ideia. Mais tarde, ela teve outros amantes e Orlov foi destituído do palácio.

Seu amante seguinte - e, aparentemente, o grande amor de Catarina - foi o príncipe Grigóri Potiômkin. Ele era 10 anos mais novo que a imperatriz e conquistava para ela novos territórios para o Império Russo.

Grigóri Potiômkin. Retrato feito por Johann Baptist von Lampi, o Velho.

O casamento secreto dos dois teria ocorrido em 1774 ou 1775. Muitas pessoas daquela época acreditavam que o casamento não era apenas um boato e realmente tinha acontecido.

Potiômkin desfrutava de influência e poder colossais, e por causa disso sempre brigava com a imperatriz. Ela entendia que ele não podia reivindicar o poder e, por isso, apesar de ser tão aberta quanto a seu amor a ele, não declarou-o seu marido.

Corriam boatos de que Catarina até chegou a dar à luz uma filha de Potiômkin, chamada Elizaveta Tiômkina, que ele apresentava como sua pupila. No entanto, muitos historiadores acreditam que é improvável que Tiômkina fosse filha de Catarina, já que a imperatriz já tinha mais de 45 anos quando de seu nascimento.

A HBO fez uma série muito bem fundamentada sobre o relacionamento entre Catarina e Potiômkin, chamada “Catarina, a Grande” e estrelada por Helen Mirren.

LEIA TAMBÉM: Por que Catarina foi apelidada “a Grande”?

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