Um sombrio edifício de tijolos vermelhos de quatro andares, em forma de cruz, cercado por um muro de pedra de seis metros e duas cercas de arame farpado: assim era a prisão de Spandau, na parte ocidental de Berlim. Na década de 1930, ela podia acomodar até oitocentos prisioneiros.
Mas, na segunda metade do século 20, cumpriam pena ali apenas sete pessoas — todas ex-líderes da Alemanha nazista (o ex-chefe da Juventude Hitlerista e Gauleiter de Viena Baldur von Schirach; o ex-ministro das Relações Exteriores da Alemanha e protetor imperial da Boêmia e Morávia Konstantin von Neurath; o ministro de Armamentos Albert Speer; o ministro da Economia Walther Funk; o ex-deputado de Hitler no Partido Nazista Rudolf Hess; os almirantes Karl Doenitz e Erich Raeder).
Alguns deles foram condenados a dez anos na prisão; outros, a prisão perpétua. Supunha-se que todo esse tempo eles estariam sob o vigilante controle de representantes das quatro potências vitoriosas na Segunda Guerra Mundial: URSS, EUA, Grã-Bretanha e França.
Prisão única
Spandau recebeu o status de prisão interaliada, embora estivesse na zona de ocupação britânica. A direção da prisão incluía um representante de cada país. O cargo de diretor de prisão era ocupado por um representante de cada país, que se revezavam todos os meses. Todas as decisões, no entanto, tinham que ser tomadas por unanimidade.
Funcionários prisionais civis, com exceção de médicos, eram proibidos de entrar em contato com os presos. Além dos franceses, russos, americanos e britânicos, cidadãos de outros países foram recrutados para trabalhar. Apenas os alemães não tinham acesso a Spandau — embora o alemão fosse a língua oficial da administração.
A guarda externa da prisão mudava mensalmente. A transferência da administração da prisão para outro país era um ritual extraordinário, acompanhado por marchas solenes de soldados e relatórios dos chefes da guarda.
“Não podíamos cometer o mínimo erro, tínhamos que mostrar tudo de que os soldados do país vitorioso eram capazes”, lembrou Nikolai Sisoev, militar do 133º batalhão de fuzil motorizado. "Entrávamos pelos portões da prisão batendoas solas das botas forradas com chapas de aço sobre as pedras do caminho, fazendo um som terrível sob os arcos".
Vida cotidiana
A vida dos prisioneiros de Spandau não era nada boa. Todos moravam em solitárias, e mesmo quaisquer banhos de sol, visitas à Igreja e trabalho (eles todos eram responsáveis por colar envelopes), os prisioneiros não eram autorizados a conversar entre si.
“Uma vez por mês, podíamos escrever uma carta curta, que passava pela censura; também podíamos receber uma carta por mês, que também passava pela censura”, escreveu o almirante Erich Raeder. “Na maioria das vezes, as cartas que recebíamos tinham grandes pedaços cortados [...] Uma vez a cada dois meses podíamos ter um encontro com um de nossos familiares, mas esse encontro não durava mais que 15 minutos”.
A administração soviética tratava os prisioneiros de Spandau com muito mais rigor do que seus homólogos ocidentais. Os guardas noturnos russos batiam deliberadamente nas portas, fazendo um barulho insuportável. Os britânicos e americanos acendiam as luzes das celas várias vezes durante a noite para evitar o suicídio, enquanto os soviéticos chegavam a fazê-lo a cada 15 minutos.
Em 1962, a URSS se opôs fortemente à iniciativa dos aliados ocidentais de libertar von Schirach e Albert Speer por "bom comportamento".
“O abrandamento do regime prisional para os principais criminosos de guerra alemães, que cumprem penas pelos mais graves crimes contra a humanidade, certamente encorajará os militaristas e os revanchistas, que estão novamente tramando planos agressivos contra povos da paz”, declarou o então embaixador soviético na República Democrátia da Alemanha, Mikhail Pervúkhin.
O último prisioneiro
No entanto, os prisioneiros de Spandau foram libertados, um após o outro — após o término de suas penas ou por motivos de saúde. Em 1966, apenas um prisioneiro permaneceu na prisão: Rudolf Hess.
O soldado do 133º batalhão Piotr Lipeiko descreveu seu primeiro encontro com o vice Führer, em 1985, assim: “Ele caminhava em minha direção por uma via estreita do parque prisional e alguém tinha que ceder. Fiquei com raiva: por que eu, oficial do exército do país vitorioso, deveria sair do caminho? Paramos, e vi sob suas sobrancelhas peludas um olhar muito atento. Hess me analisou e saiu lentamente do caminho. É interessante que, depois desse ´duelo´, ele começou a me cumprimentar, embora o velho nazista nunca cumprimentasse os russos", escreveu Lipenko.
Seguindo um acordo entre os aliados, após a morte do último prisioneiro, em 1987, quando Hess conseguiu se suicidar, a prisão de Spandau foi totalmente destruída. Em seu lugar, foi construído um grande centro comercial chamado Britannia Centre Spandau.
Para ficar por dentro das últimas publicações, inscreva-se em nosso canal no Telegram