Ilustração de Manila no século 19
Getty ImagesAo contrário da crença popular de que o interesse da Rússia no Sudeste Asiático é um fenômeno novo, Moscou começou a olhar para o Oriente ainda no século 18.
Em Relações Filipinas-URSS: um estudo sobre o desenvolvimento da política externa, F. Landa Jocano escreve que, em 1722, Fiódor Semiónov, então governador da Sibéria, sugeriu ao imperador Pedro, o Grande que o Império Russo explorasse o Extremo Oriente por meio da Índia e Filipinas para estabelecer vínculos comerciais.
No entanto, levaria quase mais um século até que a Rússia tentasse estabelecer uma presença nas Filipinas. A iniciativa foi liderada por Peter Dobell, um comerciante irlandês-americano com grande interesse na China, na Sibéria e no Extremo Oriente russo.
Ivan Fiódorovitch Kruzenshtern
Domínio públicoViajante intrépido, Dobell vivia em Cantão, na China, no início do século 19, quando conheceu Ivan Fiódorovitch Kruzenshtern, um almirante russo que liderou a primeira circum-navegação russa do globo. O irlandês fez amizade com o explorador e, assim, ganhou acesso ao Extremo Oriente russo.
Dobell morou em Kamtchatka e na Sibéria antes de se mudar para São Petersburgo, onde se naturalizou russo – russificando seu nome para Piotr Vassílievitch Dobell.
“Em São Petersburgo, Dobell abordou o tsar Alexandre 1º com a proposta de estabelecer um consulado russo em Manila”, explica Rosa Carlos, historiadora que vive na capital filipina, ao Russia Beyond. “Dobell já havia construído uma reputação como comerciante e escritor, com suas histórias publicadas no livro Filhos da Pátria, que tratava da Sibéria.”
Tsar Alexandre 1º
Domínio públicoAlexandre 1º desejava estabelecer a presença russa no sudeste da Ásia e permitiu que Dobell abordasse o governo colonial espanhol em Manila como um representante do Império.
“Estabelecer uma missão oficial russa nas Filipinas não foi uma tarefa fácil, pois as autoridades coloniais espanholas se recusaram a reconhecer a representação diplomática russa em Manila”, diz o site da embaixada russa em Manila. “No entanto, foi alcançado um acordo, e Peter Dobell recebeu autorização para permanecer e atuar em Manila como representante não oficial do governo russo nas Ilhas Filipinas.”
Relatos históricos sugerem que o governo espanhol insistiu que cônsules estrangeiros não fossem permitidos nas colônias, mas prometeu fornecer assistência a Dobell.
“Embora Dobell tivesse permissão para morar em Manila, as autoridades espanholas mantinham vigilância rigorosa sobre suas atividades e sempre tentavam frustrar qualquer iniciativa comercial que pudesse ter”, diz Carlos. “Ele estava cada vez mais frustrado com sua estada nas Filipinas e não havia muito que pudesse realizar. As autoridades coloniais o viam como uma espécie de espião que estaria tentando expandir ainda mais o Império.”
Para piorar a situação, Dobell teve suas propriedades em Manila vandalizadas e saqueadas durante tumultos ocorridos na cidade.
Décadas se passaram antes que a missão ganhasse reconhecimento oficial e funcionasse, de fato, em Manila. O consulado era administrado em sua maior parte por cônsules franceses autônomos encarregados de cuidar dos interesses russos nas Filipinas.
A missão continuou operando na cidade até a revolução de 1917.
Rua de Manila no final do século 19
Domínio públicoDobell regressaria à Rússia após uma curta e conturbada estada nas Filipinas. Escreveu vários livros sobre o Extremo Oriente e a Rússia, incluindo “Viagens por Kamtchatka e Sibéria”, “Sete Anos na China” (originalmente escrito em francês) e “A Rússia como ela é, e não como foi representada”.
“É uma pena que ele não tenha escrito muito sobre o período como cônsul-geral da Rússia em Manila”, afirma Carlos. “Mas seus escritos sobre a Rússia, que não possuem mais novas edições, oferecem aos interessados no país um raro olhar pelos olhos de um estrangeiro.”
Mapa de Manila em 1898
Domínio públicoA missão em Manila ajudou a estabelecer lentamente laços comerciais entre a Rússia e as Filipinas até o seu encerramento em 1917.
Segundo Carlos, a relação estabelecida entre a Rússia tsarista e as Filipinas foi um dos principais motivos pelos quais o país asiático aceitou refugiados russos que fugiram da China em 1948.
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