Única revista norte-americana publicada na URSS hipnotizava leitores; veja fotos

História
NIKOLAI CHEVTCHENKO
A publicação fazia propaganda do modo de vida nos EUA, o que enfurecia a liderança soviética, que refutava suas informações.

No final da Segunda Guerra Mundial, quando as relações entre a URSS e os EUA estavam boas, a embaixada dos Estados Unidos em Moscou decidiu lançar uma revista que contaria aos leitores soviéticos sobre a vida nos EUA. Em 1945, os diplomatas norte-americanos conseguiram permissão do governo soviético para a publicação.

O editorial da primeira edição da revista "America" explicava seu propósito e sua política editorial:

“Esta revista é [...] sobre o povo americano, sobre como os americanos vivem, trabalham e se divertem. Seus humores e desejos, seus cuidados e aspirações e seus momentos de descanso e lazer: tentaremos tudo isso transmitir nas páginas desta revista.

Tentaremos mostrar o que os americanos pensam e fazem, o que leem e sobre o que falam. Nesta e nas próximas edições da América, o leitor encontrará muitos artigos reproduzidos das revistas mais comuns, lidas por milhões de americanos.”

Sem acesso à internet, Hollywood ou outras marcas da cultura popular americana, a revista era a única maneira de ter uma visão sobre a vida no outro lado da Cortina de Ferro.

No entanto, desde o início, o governo soviético assumiu uma posição cética em relação à iniciativa americana e insistiq que o único objetivo da revista fosse a promoção do papel e da importância dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, bem como das tradições e instituições americanas.

Realmente, a imagem da vida nos Estados Unidos retratada pela revista era absurdamente boa, em comparação com o que o povo soviético experimentava na URSS.

A revista mostrava a abundância de bens e oportunidades do mundo capitalista. Por exemplo, o tema central de uma das edições eram os empregos de jovens nos Estados Unidos.

“É um prazer trabalhar no estádio. Você pode assistir a todos os jogos de graça”, dizia à revista Michael Burman, de 17 anos, que ganhava US$ 3,35 por hora. Colby Reynolds, outro adolescente que foi destaque na edição, trabalhava em uma fazenda e conseguiu economizar dinheiro o suficiente para comprar uma motocicleta, sonho de todo adolescente na URSS.

A "America" também republicava artigos de outras revistas americanas. Por exemplo, o artigo da revista "Melhores casas e jardins" reproduzido pela "America" simplesmente chocou as famílias soviéticas, porque apresentava interiores de casa luxuosos e inéditos, algo fantástico para o leitor soviético.

A revista também era famosa por suas matérias fotográficas. Elas cobriam todos os aspectos da vida nos Estados Unidos em fotos e forneciam um raro olhar sobre a vida nas cidades americanas.

Mas, na maioria dos casos, a revista apresentava histórias principalmente sobre pessoas. Cada assunto era apresentado pelo olhar de “americanos comuns” da classe média: adolescentes, estudantes, trabalhadores, agricultores, políticos e moradores de cidades grandes e pequenas.

Com o tempo, a circulação da revista passou de 10 mil para 50 mil cópias. O status de “nação aliada” ajudou os americanos a expandir a única rota de acesso aos leitores soviéticos na URSS estalinista, sob dura censura.

Quando começou a Guerra Fria, o governo soviético considerou proibir totalmente a publicação da revista ou confiscar 80% da tiragem de cada edição e compensar as perdas da editora soviética do orçamento do Estado.

Em 1952, os Estados Unidos pararam de imprimir a publicaçã na URSS, como sinal de protesto contra a pressão que a revista enfrentava na União Soviética.

No entanto, Washington retomou a publicação na URSS em 1965, quando os governos soviético e norte-americano fizeram um acordo bilateral para que cada um publicasse uma revista no país do outro, com circulação limitada de 30 mil exemplares.

O governo soviético, porém, fez de tudo para neutralizar a influência da revista, lançando uma campanha de contrapropaganda que refutava os números da “America” e denunciava as desvantagens do “modo de vida americano”.

Com o começo da política da Perestroika de Mikhail Gorbachev, na segunda metade da década de 1980, todas as restrições relacionadas à circulação da revista "America" foram levantadas na URSS e a edição passou a ser vendida livremente nas ruas e nas bancas.

A revista continuou a ser publicada mesmo após o colapso da USSR e foi fechada apenas em 1994, devido a dificuldades financeiras.

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